Jordan

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Caminho lentamente pelo corredor branco, Alex está sentado atrás do balcão folheando alguns papéis. Seus olhos transmitem cansaço, seus ombros caídos e alguns fios de cabelo caem do seu habitual topete perfeito.

Seus olhos encontram os meus. O cansaço neles da lugar a tristeza, por mim. Olho para o teto tentando inutilmente que as lágrimas não caiam, mas elas caíram, sempre caem.

Sinto braços me envolverem mas continuo imóvel, olho para o balcão que agora se encontra vazio. Alex não está mais lá, ele está me abraçando, e de repente percebo que precisava disto, de calor.

- ele vai ficar bem - sussurra em meu ouvido, ambos sabemos que isso é mentira. Mas ele o faz para me acalmar e eu agradeço por isso.

- Jordan? - desfaço o abraço me virando rapidamente.
- como ele está? - minha voz sai falha, sinto Alex apertando meu ombro delicadamente.
- ele já está no quarto.

Caminho pelo corredor tremula, paro em frente a porta tomando ar, preciso ser forte, meu irmão precisa de mim mais do que nunca. Passo meu braço pelo meu rosto, o limpando com a manga da minha camisola. Abro a porta lentamente e o vejo.

Pálido, mais magro que dá última vez que estivemos aqui, a gente sempre volta, esta acabou se tornando a nossa única casa.

- estou aqui irmão - passo minha mão pelo seu rosto fino e mais uma lágrima escore pelo meu rosto.

Estou encostada na parede ao lado da cama do meu irmão, analiso o quarto habitualmente branco, tentei decora-lo para que o meu irmão se sentisse em casa, seu skate está aqui, posters da Marvel e por cima de sua cama um quadro com um desenho que ele fez de nós dois. Andy tem apenas doze anos, mas já passou por tanto que chega a ser injusto.

Não é justo que ele tenha que morrer, Andy é bom garoto, apesar da doença não dá trabalho, ele merece viver. Por que não sou eu no lugar dele?

- Jordan?
- sim Andy?- me aproximo de sua cama enquanto Alex termina de arrumar o seu colete no lugar.
- Já acabei. Posso comer chocolate? Minha boca está com gosto horrível. - leva a mão a boca e tosse.

- claro. Volto já. - beijo sua cabeça.
Saio do quarto acompanhada por Alex, me encosto na parede em frente a porta, me preparo psicologicamente, Alex percebe, então se encosta na outra parede e espera. Espera que eu esteja pronta.

- quais foram os resultados? - Alex suspira.
- Não houve melhora - uma risada fria escapa por meus lábios.

- o Andy contraiu bronquite, mas já estamos cuidando disso - Assinto e começo a caminhar sem dar tempo dele falar algo mais.

Estou cansada de ouvir que tudo vai ficar bem. Não, não vai. Andy tem fibrose cística. Uma doença terminal, a esperança de vida é de quinze anos, alguns vivem até os vinte e cinco anos.

A gente saiu do hospital a um mês e ontem a noite Andy passou mal, agora ele tem bronquite, eu estive sempre do lado dele, cuidei dele mas não foi suficiente. Ele contraiu bronquite e é tudo minha culpa. Eu poderia ter feito mais, poderia ter feito melhor.

Passo minha mão pelo meu cabelo nervosamente.

Mas o Andy está tão mal, aos sete disseram que ele não iria sobreviver mas ele continuou aguentando.
- aguenta um pouco mais Andy. - sussurro para mim mesma.

Dobro o corredor e caminho até às três pessoas em frente a máquina de snacks, me encosto na parede e espero pela minha vez.

Observo Suzan engolir os comprimidos e me devolver o copo. Sorrio para ela e ajeito seu travesseiro, ela se deita e segura minha mão, sua pele envelhecida e áspera. A firmeza de sua mão se foi a alguns anos, deu lugar agora, a mãos trémulas e fracas.

- você me lembra a mim, na sua idade - seus olhos cansados lutam para se manterem abertos.

- não acredito que sou assim tão bonita quanto a senhora - ela sorri.

- ah querida, você chega lá - dá palmadinhas na minha mão. Ri- me e me aproximo beijando sua testa. - agora descanse.

Empurro o carinho de transporte até a porta. Olho para Suzan já adormecida e fecho a porta com cuidado. Trabalho como servente no hospital a um ano, graças a dra. Morgan, quando não estou trabalhando fico com meu irmão no quarto. Todos no hospital têm sido incríveis com a gente, são como família, mais do que nossa real família. Passo pelas portas de vidro e empurro o carinho pelo corredor até ao elevador, carrego no botão e espero. As portas de abrem e vejo Alex, ele sorri para mim enquanto entro.

- dia cheio? - pergunta olhando os vários pratos e frascos de comprimidos vazios.

- é, sabe como é.

- e como, a mãe de um menino quase me deu um murro, na ala de emergência, quando eu disse que ela não podia entrar na sala com ele - ri alto.

- meu Deus Alex, coitado de você - digo ainda rindo.

- felizmente tenho reflexos rápidos - diz exibindo seus músculos, reviro os olhos sorrindo. As portas se abrem, saímos caminhando silêncio, não um silêncio desconfortável, simplesmente não precisávamos dizer nada. Dobramos o corredor e caminhamos até a entrada da lanchonete do hospital.

- é isso, a gente se vê - despede-se seguindo reto pelo corredor, uns passos depois ele se vira. Meu rosto esquenta, ele sorri e pisca voltando a olhar para frente.

Muito bom Jordan, tinha que ficar secando o cara!

bato minha testa e entro na lanchonete, algumas pessoas estão sentadas nas mesas comendo, outras conversando. Vejo o lado de fora através da parede de vidro, pessoas apressadas seguindo sua rotina, jovens de bobeira na rua, sem preocupações e sem obrigações. Suspiro, empurro o carinho e vou para cozinha.

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