•Rise Up•

•4•

O cenário era de tristeza e dor, o salão que um dia antes foi usado para comemorar o aniversário de alguém, hoje estava sendo usado para fazer o velório.

Todos de preto, como se essa fosse a cor que representava o Jimin.
Estavam errados, a cor do menor era amarelo, não aquele amarelo claro e sem graça, mas aquele amarelo chamativo que do outro lado da avenida dava para ver, um amarelo que representava a alegria.

Muitos choravam, mas não como aquela mulher que era segurada pelo marido para não ficar sobre o caixão cor de neve e decorado com margaridas brancas. A todo momento ela gritava, implorava para Deus ou qualquer outra divindade para trazer seu pequeno de volta, seu rosto vermelho e cansado de tanto chorar deixava qualquer um triste ao olhar.

Todos já tinham ido até o caixão e colocado uma margarida sobre ele.
Menos ele, o garoto de madeixas escuras que se mantinha quieto no cantinho da sala.

Em uma mesa mais a frente da dele, estavam o seu ex grupinho de amigos, dessa vez eles não estavam com um sorriso debochado no rosto, não estavam com maldade em suas faces, tudo o que se podia ver era o arrependimento que estampavam seus rostos.

Era doloroso estar alí, mas, não foi culpa deles, eles pensavam.

•°•°•°•°•°•°•°•☆

Depois de todos irem embora, Jungkook levantou-se de onde passou o dia todo sentado e foi até onde o corpo do menor estava.

Seu coração doeu ao ver o rosto sereno do outro, ele não parecia morto, seus traços que agora eram totalmente diferentes de antes mas que mesmo assim ainda carregavam o ar infantil e de inocência do garoto, passavam a imagem de que o menor estava apenas dormindo.

O maior retirou do bolso de seu terno uma tulipa amarela e a colocou sobre a madeira gelada.

Quando ia se retirar do local, uma voz o interrompeu.

- Você é Jeon Jungkook, certo? - Olhou assustado em direção de onde vinha a voz, e logo assentiu com a cabeça. - Que bom, pensei que tinha errado seu nome. Você pode vir aqui?

Receoso moveu os pés e foi em direção à mulher, sentando-se ao seu lado, recebendo um pequeno sorriso cansado que o fez derramar uma lágrima.

- Me perdoe. - Caiu sobre o chão e chorou, chorou tudo aquilo que não tinha chorado desde que vira os olhos do menor presos em si fecharem-se pela última vez. - Eu não deveria estar aqui, era pra eu estar alí e não ele, eu tirei seu filho de você, eu não mereço estar aqui. Eu sou um assassino, um covarde, um idiota e um cretino, eu matei o Jimin, eu o fiz passar por tudo aquilo apenas por egoísmo meu, por orgulho e depois eu o matei, foi tudo culpa minha.

- Jungkook, por favor levante. - A mulher segurava o choro vendo a imagem do outro sobre o chão, mas ele não levantava. - Jeon Jungkook levanta.

Senhora Park o ajudou a levantar e esperou alguns minutos até ele parar de chorar, quando isso aconteceu, respirou fundo e começou a falar.

- Sabe, eu estou calma agora por conta dos vários remédios que tomei o dia todo, desde que me ligaram da escola falando que o Jimin... Falando que meu filho havia cometido suicídio. Eu estou sofrendo mais do que qualquer pessoa que estava aqui hoje, porque elas podem substituir o meu Jimin, mas eu não Jungkook, uma mãe não pode e nem consegue substituir seu filho, o meu único filho. E dói, tá doendo e vai doer todos os dias até meu último suspiro, mas é isso o que vou ter que carregar para o resto de minha vida.
Eu me sinto tão culpada tanto quanto você, eu sabia que meu Jimin estava sofrendo, mas eu não sabia como resolver isso. Desde o início eu sabia de tudo, de quando ele chegou em casa pela primeira vez falando sobre um garoto que fez seu coração bater mais forte. Eu não queria te falar isso, mas... O Jimin sempre esteve perto de você Jungkook, ele te conhecia antes de ir para sua sala, não era a primeira vez dele naquele colégio, meu garoto estudava em outra sala, mas tive que o mudar pois certos alunos acabaram descobrindo sobre sua sexualidade e começaram a lhe incomodar, você foi o primeiro amor dele, desde quando tinha apenas 08 anos, todos os dias eu o ouvia falar sobre você quando voltava da escola, "Omma, o Jungkookie é tão legal, hoje ele cantou no refeitório e foi tão bom ouvir a voz dele. Omma, hoje ele sorriu, não foi pra mim mas eu me senti feliz. Omma, eu gosto do Jungkookie". Uma vez assistindo TV, Jimin viu um rapaz num comercial que chamava seu companheiro de precioso, ele todo apaixonado falou "Omma, eu queria que o Jungkookie me chamasse assim", mesmo sabendo que não era de mim que Jimin queria ouvir, passei a chamá-lo de precioso. E quando ele foi para o ensino médio, tudo piorou, agora eram todos os minutos que ele falava sobre você. Quando você o chamou para sair, nossa, ele não calava a boca um minuto, passou o dia todo em frente ao espelho procurando uma roupa, até passou um pouco de maquiagem para ficar bonito para você, mas algumas horas depois recebi um telefonema do hospital dizendo que meu precioso estava lá. Um bêbado idiota arrancou a felicidade do meu neném, ele foi abusado sexualmente, perguntei o que houve na lanchonete e ele não queria contar, mas acabei insistindo e ele falou que tinha o beijado mas você não reagiu bem. A partir disso ele parou de sorrir, chegava em casa machucado, tinha vezes que implorava para não ir para a escola, mas quando lembrava de você ele mudava de ideia, Jungkook, eu sempre soube que era você.

O garoto ouvia tudo quieto de cabeça baixa, não tinha coragem ou forças para erguer a cabeça.

- Eu sabia disso porque Jimin se negava a dizer quem era o agressor, apenas por te amar demais.
Eu não tenho o direito de te odiar, de te culpar, mas eu acredito que todos nós temos culpa. Eu não quero o seu perdão porque o único que tem que te perdoar é ele, mas se Jimin o perdoou, a respeito de você o meu coração estará limpo.

- Por que não guarda mágoa de mim?

- Porque em seus últimos dias, Jimin me fez acreditar que Jeon Jungkook ainda era o garoto pelo qual se apaixonou. O garoto que o fazia suspirar quando sorria e ajudava alguém, que o fazia feliz quando salvava os animais de rua, que respeitava os professores e que cantava perto do pé de Sakura do jardim, onde meu pequeno ficava te ouvindo. Porque mesmo depois de tudo o que causou a ele, você fez o meu Jimin feliz.

Sorriu quando dos olhos redondos e inchados do mais novo desceram mais lágrimas, puxou o corpo magro do outro para um abraço confortável e carinhoso, não tinha mágoa, rancor ou qualquer sentimento negativo, era um misto de sentimentos mas que em nenhum momento entristeceu alguém.

A mulher rompeu o abraço e do bolso de seu vestido preto, retirou uma chave prata, que logo reconheceu ser a chave de um armário escolar.

- Tem algo que o Jimin queria te dar, você sabe qual armário é, então vai lá e viva sua vida.

Sorriu e entregou o objeto para o outro que com um sorriso largo no rosto, levantou-se e saiu correndo em direção à saída.

Ele era um garoto bom, a mulher acreditava nisso.
E por acreditar, ela torcia por sua felicidade.