Ships in the Night | 𝑉𝑀𝐼𝑁

Chapter I

Eu o via pelo canto de meu olho, fotografando a multidão. Havia inúmeras pessoas ali, Taehyung se destacava entre elas. Todos queriam a atenção dele, tanto pelo seu imenso carisma quanto para aparecer na capa do jornal da cidade.

Ajeitei minha gravata e caminhei em direção à sacada. A agitação dentro daquela mansão me dava nos nervos. Os empurrões e falas em alto tom me deixavam extremamente desconfortável, mas eu estava ali por atenção. Queria minha divulgação no jornal, o teatro atualmente não estava me dando lucro suficiente. Tantos atores bem sucedidos, eu queria ser como um deles.

Tirei a cartela de cigarros do bolso de meu paletó e acendi, com o isqueiro que solicitei para o meu acompanhante do teatro, que também era meu namorado. Ninguém sabia disso, na época em que corria, o relacionamento homossexual não era respeitado.

- A noite está linda, não? - Yoongi me perguntou.

Me encostei na sacada com o cigarro entre os dentes e assenti com a cabeça.

- Queria estar em casa, não gosto daqui. - exclamei.

Senti o chão pesado próximo de nós. Olhei de baixo acima Taehyung com a câmera apontada para o meu rosto seguido de Yoongi.

- Sorriam, pombinhos. - ele disse mordiscando o lábio travesso.

Achei que meu coração tinha parado por um segundo. Quando o flash da máquina fotografica reluziu em meu rosto, voltei a realidade.

- Pombinhos? Não somos namorados. - falei em meio ao desespero.

Yoongi sorriu sem graça, ele era um péssimo ator. Por isso nunca era o principal em nossas peças.

- Não se façam de sonso. Sou repórter investigativo. - ele disse antes de dar as costas e adentrar o enorme salão novamente.

Assim que ele virou, mostrei um dedo do meio involuntário. Yoongi deu um tapa em minha mão rindo. Jogamos o cigarro varanda à fora e voltamos para festa.

- É melhor não irritar o cara, voce não quer aparecer no jornal? - ele disse enquanto se mexia de acordo a música clássica.

- Não quero ser reconhecido por ter um namorado, e sim pelo meu talento. - disse cruzando os braços.

- Voce está certo, Elvis e Frank Sinatra não precisaram de nada disso... - ele se acomodou em um sofá de veludo que havia ali próximo. - Vá atrás do Taehyung, conte o seu sonho. Talvez voce consiga convencer aquele coração debochado a te colocar na primeira página.

Respirei fundo e cerrei os punhos. Olhei para o aglomerado de pessoas dançando naquele baile, aquilo era cafona. Via Taehyung fotografando aquele bando de pessoas futeis, querendo atenção, assim como eu.

- Jimin? - Yoongi estalou os dedos em frente ao meu rosto.

Sacudi a cabeça para voltar ao presente.

- Vai falar com ele. Essa é a única vez que vamos ter uma oportunidade de aparecer no jornal. - ele dizia enquanto dobrava as mangas do paletó. - Vou procurar o resto do pessoal enquanto isso.

Revirei os olhos e mordisquei a cuticula solta de minha unha. Merda. Não acredito que estava necessitado por atenção dessa forma. Eu queria muito que o reconhecimento da minha companhia de teatro fosse grande como as outras. Sem ao menos perceber estava à aproximadamente 10 metros de Taehyung. Meus pés funcionavam antes de minha cabeça. Ele olhou pra mim com sorriso travesso nos lábios enquanto segurava a camera próxima ao peito. Tentei não fazer cara feia, mas era tarde demais. O salão todo havia se tornado um imenso negrume, comecei a sentir meu corpo prensado entre os desconhecidos.

O enorme recinto permaneceu na escuridão por alguns minutos, mas o desespero se acomodou em todos quando um grito feminino rompeu o breu e no mesmo instante houve a claridade cegante e um som de carne sendo perfurada. Quando minha visão voltou ao normal percebi que Taehyung estava próximo a vítima, a fotografando. Meus olhos se cruzaram com a cena horrível, uma das anfitriãs da festa, Madame Janet - cantora de ópera, estava espetada na escultura de gelo que havia no meio do espaço. A reação dos convidados e ali presentes, foram semelhantes; gritos e correria para todo o lado.

- Yoongi! - sem ao menos ligar para oque pensariam, o vi com o resto do grupo do teatro e o abracei forte.

- Que correria é essa? - ele olhou para a multidão confuso, já que estava ao lado de fora da mansão.

- Uma mulher... - falei trêmulo. - Foi morta.

Aquela era a pior coisa que eu já havia visto em toda a minha vida. Ver a morte tão perto de si era algo horrivel, a presença de algo ruim era mais do que perceptível. O mal ser praticado dessa forma era algo desumano. Nunca fui à favor da violencia ou coisas do tipo, presenciar um ato desses era traumatizante. Só de ver a naturalidade de Taehyung fotografando a mulher ensanguentada, era uma cena que me dava vontade de vomitar.

- Nos vemos amanhã, ok? - Yoongi se despediu de nossos amigos enquanto eu olhava fixamente para a muvuca que aquele local havia se tornado.

Meu namorado acendeu um cigarro enquanto me olhava.

- Como consegue estar tão tranquilo em uma situação dessas? - o perguntei franzindo a testa.

- Pessoas morrem todos os dias, Jiminnie. - ele soprou a fumaça em meu rosto.

Aquilo era sério? Ao ouvir palavras tão insensíveis saindo da boca de Yoongi, não pude exalar reação. Eu sabia de meu temperamento forte, mas aquilo havia me deixado extremamente irritado. Dei as costas para ele e caminhei até a portaria da mansão, ele havia tentado me segurar, mas quando estou irritado, minha força é maior que a de cinco homens.

- Para onde? - o taxista me perguntou.

- Vou para o centro, na cafeteria "Eclipse". - disse.

Eu e meu pai morávamos em cima da cafeteria que ele tinha. Apesar de simples, era grande e extremamente aconchegante. O meu lugar favorito do mundo.

Assim que o carro deu partida, olhei para a janela. Inúmeras pessoas em choque, ainda correndo. Carros de polícia e bombeiros. E claro, o senhor "reporter investigativo", Taehyung com a caneta entre os dentes, a camera pendurada em seu pescoço e um bloco de anotações na mão.