Faziam alguns dias desde que as crianças do vilarejo haviam visto o velho Gabel pela última vez. Fora na noite da fogueira quando Ana-lu e seu namorado apareceram com algumas batatas e um violão todo desafinado e faltando uma corda.
As crianças, o contador de histórias, Ana-lu e seu namorado passaram parte da noite assando batatas e ouvindo as melhores e mais antigas histórias de Gabel. Como ninguém sabia afinar um violão ele precisou ficar de lado quando as crianças optaram pelas histórias e assim se foi a noite até que os pais começassem a chamar pelos miúdos para que entrassem.
No fim da noite restavam apenas Ana-lu, seu namorado e o velho Gabel. Com o tempo o fogo foi se apagando e ninguém deu-se ao trabalho de mantê-la queimando. Ana-lu e seu namorado voltaram para suas casas e só restou a Gabel ir para a sua também e foi o que fez.
Três dias depois ninguém pelo vilarejo o vira. Quando as crianças foram chamá-lo em sua casa para outra noite de fogueira ele não atendeu.
Passaram quatro, cinco, seis dias...logo uma semana e nada do contador de histórias aparecer.
Preocupados os pais dos miúdos resolveram ir à sua casa. Chegando lá chamaram, chamaram, mas nada. Alguns achavam que ele estivesse viajando, porém sabiam que ele não o faria sem avisar a alguém.Decidiram entrar na casa e a discussão foi: Quem entraria?
Ana-lu sugeriu que João entrasse, considerando suas bem feitorias e seus atos de coragem pelo vilarejo nos últimos dias concluíram que ele era o mais apto a entrar.
Particularmente essa ideia não agradou o agradou muito, porém ele foi assim mesmo, afinal tinha uma reputação a zelar.A discussão se encerrou quando João tentou abrir a porta.
Os miúdos estavam curiosos, os pais preocupados e todos em absoluto silêncio acompanhando cada mínimo movimento de João com o olhar.Foi preciso muito esforço para abrir a porta, não estava trancada e sim emperrada.
Quando conseguiu não demorou-se a entrar, o fez chamando por Gabel. Conforme ia entrando João sentiu um cheiro forte e ruim e então teve um pressentimento assim que entrou de que o contador de histórias já não estaria mais vivo.João andou pela casa procurando por Gabel, subiu as escadas que davam para o andar de cima provavelmente onde ficavam os quartos ou o quarto. Quando encontrou o primeiro quarto João pulou de susto, adentrou até que visse por completo o corpo do contador de histórias na cama envolta de muitos livros e segurando um livro em suas mãos.
O contador de histórias tinha morrido.
João não conseguia se mover, mas foi quando ouviu as vozes chamando por ele que percebeu que teria de ser ele o mensageiro da má notícia.
Desceu devagar as escadas, passou pela sala empoeirada em direção a porta onde estava praticamente todo o vilarejo esperando por ele.
Miúdos e pais.Tirou o chapéu quando estava já de frente pra "plateia", apertou-o com as duas mãos contra o peito, curvou a cabeça e disse: -O contador de histórias... Ele faleceu!
Os olhares umidecidos que recebeu dos miúdos o fez desabar (adeus reputação de inabalável).
No funeral do velho Gabel em homenagem ao contador de histórias todos contaram um trecho de suas histórias favoritas. Enterraram seu livro favorito junto com ele e em sua lápide foi escrito: Jaz aqui o contador de histórias.
A partir de sua morte em todas as noites da fogueira Ana-lu e seu namorado levavam batatas e os miúdos -as vezes em meio a lagrimas- contavam histórias.
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Minha coletânea de contos
Short StoryAqui você encontrará contos sobre os mais diversos assuntos, alguns mais longos outros nem tanto. Mas lembre... Uma coisa nem sempre é apenas o que se vê. Leia com atenção e tire proveito das entrelinhas. Ainda sem data para próximas postagens.