Abro a porta de casa, já são 3:00 hrs da manhã. Tudo permanece em silêncio, significa que ele não está em casa. Subo as escadas com as sandálias de salto alto na mão esquerda, apoiando meu corpo no corrimão com a mão direita, entro no quarto minúsculo e lilás, muito diferente do lugar que estava há aproximadamente uma hora atrás. Faço o mesmo que venho fazendo há dois anos, três noites por semana ao chegar em casa: tranco a porta do quarto, entro no cubículo que chamo de banheiro, fico de frente para a pia e me encaro no espelho sentindo tudo girar, repasso a noite em minha mente enquanto tiro a roupa suja e a jogo num canto já amontoado com roupas de noites anteriores. Suspiro e encaro meu corpo agora nu, marcas sobre minha pele causadas por um filho da puta com dinheiro, só mais uma noite ruim de trabalho. Caminho até o box, giro a chave do chuveiro logo sentindo a água fria cair e molhar todo meu corpo. Respiro fundo sentindo as lágrimas, minhas companheiras de todas as noites, se aproximando. O cheiro de meu shampoo e sabonete me deixam enjoada, acabo vomitando todo o álcool que ingeri no ralo, o mau cheiro mistura-se com o perfume dos produtos. Sem que perceba, já estou escorada no vidro do box, a água caindo sobre minha cabeça, os soluços do meu choro incontrolável ecoa pelo ambiente.
- Eu não quero chorar mais. - digo para mim mesma, ou para quem quer que esteja me ouvindo lá de cima. - Eu cansei de me sentir suja por todos esses anos. - suspiro.
Nas noites que trabalho, quando chego é sempre o mesmo: os mesmos pensamentos, os mesmos sentimentos. Depois do que parece uma eternidade no banheiro, saio e visto um pijama confortável. Já não choro mais, minha cabeça dói. Desço até a cozinha, pego um copo de água e volto rapidamente para meu quarto, me certifico de ter trancado bem a porta do meu quarto. Meu pai podia voltar a qualquer momento, não queria ser pega dormindo desprotegida. Tomo todos os comprimidos que preciso e ponho a cadeira contra a porta só para garantir. Deito-me, meu corpo exige uma noite longa de sono tranquilo, mas vamos encarar os fatos: no máximo eu conseguirei dormir e terei o mesmo pesadelo de sempre, uma luz forte vindo de encontro ao pequeno carro e então, tudo apaga.
- Vamos, acorde logo sua puta! - o homem que se diz meu pai berra enquanto bate violentamente contra minha porta. Eu apenas abro os olhos, encaro o teto branco, a luz do sol invade as frestas da minha janela, suspiro. Levanto-me lentamente e vou fazer minha higiene normal. Me encaro no espelho, meu cabelo castanho bagunçado, as olheiras, as marcas em meu pescoço descendo para o colo. Homem nojento.
Após sair do banheiro, percebo que meu pai parou de praguejar contra minha porta, visto roupas de correr, calço meus tênis e desço as escadas com meus fones tocando uma de minhas músicas favoritas. Quando passo pela sala ouço ele gritar algum outro xingamento da cozinha, finjo não ouvir e saio porta a fora torcendo para ele não estar vindo atrás de mim. Começo a correr sem olhar pra trás.
O sol já se encontra alto e meu estômago protesta por estar vazio, encaro a porta branca da casa simples que resido, torço para não ter que encarar meu pai, para que ele tenha sumido como faz todos os dias, não quero receber a notícia de que ele já está devendo até a alma aos traficantes e que eu terei que continuar me virando como sempre para nos manter vivos. Entro em casa e antes que eu possa ver ou fazer qualquer coisa, sinto uma mão agarrar meu braço com força.
- Onde você estava, vagabunda? - ele pergunta cuspindo as palavras em meu rosto. Tento me afastar, ele estava bêbado, e pelo vermelho vivo em seus olhos, também estava drogado.
- Fui correr como faço todas as manhãs. - digo finalmente conseguindo me desprender das garras dele. Encaro a figura do meu pai, lembro de quando ele não era assim, quando tínhamos a mamãe. Ele era definitivamente outra pessoa.
- Ah, claro... como uma boa puta que você é, você precisa manter-se em forma. - ele diz com escárnio.
- Eu não sou uma puta, já falei mil vezes para o senhor! - digo com raiva.
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UNBREAKABLE
Fanfiction"͏𝚞͏𝚖͏𝚊 ͏𝚜͏𝚝͏𝚛͏𝚒͏𝚙͏𝚙𝚎͏𝚛 𝚍𝚎 𝚖𝚊́𝚜𝚌𝚊𝚛𝚊... ͏𝚞͏𝚖 ͏𝚓͏𝚘͏𝚟͏𝚎͏𝚖 ͏𝚎͏𝚖͏𝚙͏𝚛͏𝚎͏𝚜𝚊́͏𝚛͏𝚒͏𝚘... ͏𝚎 ͏𝚞͏𝚖 ͏𝚌͏𝚘͏𝚗͏𝚝͏𝚛͏𝚊͏𝚝͏𝚘 ͏𝚖͏𝚒͏𝚕͏𝚒͏𝚘͏𝚗𝚊́͏𝚛͏𝚒͏𝚘" Millie vê sua vida virando de cabeça para baixo quando sua mãe...