ℂℍ𝔸ℙ𝕋𝔼ℝ 𝟚: ℕ𝔼ℝ𝕍𝕆𝕌𝕊

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Estou nervosa, estou usando apenas uma lingerie preta. Esse sentimento me lembra das primeiras vezes que tive de dançar na sala privada. Entro e vejo o corpo alto e magro parado de costas para a porta servindo-se de alguma bebida sobre a mini-adega na lateral da minúscula sala. Como nem Amy ou Lília parecem ter sido preciso dançar, eu apenas caminho até próximo a escadinha para subir na mesa acolchoada no centro da sala. Ele parece não perceber ou se importar com minha presença, o que torna tudo bem mais desconfortável. Fico parada como uma boneca barbie em pé ao lado da barra. Observo as costas do homem à minha frente, ele era realmente alto, o corpo era magro, usava calças sociais pretas e uma camisa de mesma cor com as mangas dobradas até os cotovelos, um blazer da mesma cor e tecido que a calça estava jogado sob a poltrona, os ombros eram angulosos e largos, os cabelos negros e brilhantes penteados para trás com gel, e próximos à nuca as pontas formavam cachos, a curiosidade começa a me sufocar por dentro, por mais que não vejamos os rostos de muitos clientes, é estranho vê-los apenas de costas.

- Creio já tenham dito que hoje eu não estou no clima para vê-las tirar a roupa. Ouvi os gritos de Amy daqui. - ele fala de repente, me assusto com o fato de ele saber o nome de Amy, isso significava que ela havia quebrado a regra de nunca revelar sua identidade ao cliente. Isso era algum tipo de confirmação que eles realmente tinham uma relação? Será se ele tinha proposto o mesmo para Lilia? Porque eu estou aqui? Ele se vira para me encarar com um copo de bebida na mão. Mesmo com a máscara escura em seu rosto, percebo o nariz longo e os olhos negros que contrastavam com a pele pálida. - Você é o quê? Muda? Surda? Ou apenas lerda?

- ahn... e-eu... - começo a falar sem saber o que responder, por mais que tenha sido grosseiro, somos sempre alertados a nunca destratar um cliente.

- Esquece, desce daí. Toma. - ele diz e só então percebo que ele havia preparado outro copo com bebida para mim. Desço e me aproximo devagar dele. Pego a bebida e por milésimos de um segundo meus dedos tocam os seus e sinto sua pele fria como uma corrente elétrica vindo de encontro com minha pele quente.

- Obrigada. - digo enquanto ele senta-se na poltrona e me convida com um gesto a sentar na mesinha acolchoada que costumo dançar. A mesinha e o assento da poltrona tem a mesma altura, assim, quando sento acabo ficando de frente, cara a cara com o homem. Ele não diz nada, mas vejo seus olhos me analisarem, percorrem meu cabelo, meu rosto, meu corpo, cada detalhe meu. Me sinto incomodada, logicamente, isso é bem melhor do que tirar minha roupa, mas algo assim tão diferente me assusta. Permaneço parada, hora olhando para alguma parte aleatória da sala, hora olhando para o copo com a bebida intocada em minha mão.

- Você não bebe? - ele pergunta dando um gole na própria bebida.

- Uh... eu já bebi o suficiente hoje mais cedo. - digo com um sorriso fraco, mas ele não sorri de volta.

- Eu estou pagando pela sua companhia por uma hora inteira, e tudo que peço a você é que me acompanhe bebendo. - ele diz e dá outro gole na bebida. Contrariada, faço o mesmo enquanto ele me observa, a bebida que ele me deu é mais forte do que as que costumo beber, desce queimando minha garganta, fecho os olhos e faço uma careta ao beber. - Você não costuma beber absinto?

- Não. - respondo e minha voz sai falhada graças a bebida.

- Okay. Não precisa beber se não quiser. - ele diz e eu rapidamente abandono o copo de bebida ao meu lado. - Vamos conversar, okay? Quantos anos você tem? - ele pergunta.

- Tenho 20. - respondo.

- 20 é uma boa idade. Você trabalha aqui a quanto tempo? - pergunta ele. Eu me sinto confusa com tudo o que está acontecendo esta noite. Não sei se devo responder e manter sigilo sobre minha vida, se devo mentir ou simplesmente falar tudo o que ele quiser.

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