New Orleans — alguns dias atrás
Meus pais e eu estávamos a todo o vapor colocando as coisas no caminhão.
Era difícil me despedir daquela casa. Deixar o lugar que eu mais compartilhei sentimentos, mesmo que tenham sido ruins. Parado ali, segurando a última caixa dos meus pertences em minhas mãos, um sentimento de nostalgia me tomou.
Lembro-me nitidamente quando eu pintei as paredes do meu quarto com as minhas poesias. É claro que Marco me ajudou bastante com a arte, ele era o único artista da sala e por uma ironia do destino, meu único amigo.
Infelizmente depois que eu comecei a ter aulas particulares, eu não tive mais contato com ele. Faz meses que não nos vemos ou falamos, sempre tivemos essa estranha mania de levar a nossa amizade.
— Steven! Vamos filho, já terminamos.
Minha mãe me gritou do andar de baixo. Ela estava muito contente e isso me deixava feliz. Queria que essa felicidade fosse o suficiente para preencher o vazio que eu comecei a sentir. Estava quase descendo a escada quando voltei até o meu antigo quarto e tirei uma foto da parede. Queria registrar o trabalho meu e de Marco antes que os novos donos trocassem a cor dela, o que é uma pena.
Quando cheguei lá fora, o motorista do caminhão estava trancando o baú. Minha mãe me esperava no carro e meu pai estava dando as coordenadas para o homem.
— É difícil não é? — minha mãe me perguntou quando entrei no carro.
— O que é difícil?
— Deixar para trás um lugar que foi lar um dia. É estranha a sensação de ver um problema finalmente ser resolvido. Ao mesmo tempo que nos alivia, também nos deixa com um pouco de dor e saudades. Querendo ou não, nós tivemos bons momentos nela, por poucos que fossem.
Fiquei em silêncio. Não sabia se era algo retórico, provavelmente minha mãe pensava alto.
Meu pai finalmente entrou no carro e enquanto saía da garagem, olhou para nós e comentou:
— Pronto! Agora sim nós teremos um recomeço. — era nítida a sensação de prazer que ele jubilou ao dizer aquilo.
Enquanto nos afastamos da casa pela Persimmon Ave, eu via todos as casas que a dois anos atrás eu admirava, se tornarem lugares distantes, apenas um antigo caminho até a escola. Meu pai virou a direita e seguiu pela Park Dr N.
Enquanto passávamos, várias pessoas estavam na rua: crianças brincando de corda, pulando e correndo, alguns meninos andando de Skate, vizinhos(as) fofocando sobre alguma notícia quente. Era essa a visão que eu tinha todos os dias quando voltava da St Edward.
Naquela época nem surgiu em minha cabeça que um dia eu iria passar por esse sufoco. Não queria olhar pra trás. Para superar o passado é preciso esquecê-lo de uma vez por todas, e deixar de lado se preciso, o que de mais valioso você já teve um dia, seja ele material ou... sentimental.
Passamos pela St Edward. Fitei muito a minha antiga escola para guardar uma imagem da mesma antes que meu pai virasse à esquerda e pegasse a Transcontinental Dr.
Durante todo o caminho, tinha me perdido em meus pensamentos. Lembrava mais e mais de tantas coisas que eu fizera naquela casa. Mas eu sofri muito lá, não podia ter saudades.
Sem me dar conta, acabei adormecendo no banco de trás.
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New Orleans — Zinnia Ave - La Belle Maison Apartments
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Destinos Cruzados 💫
Teen FictionDestinos são definidos como indicação de um fim para uma determinada ação. Mas ela não acreditava em destinos, não depois de descobrir que o próprio, era a dor. Algumas pessoas se encontram nas próprias dores. Ela não, pois se culpava pelo o que hav...