Capitulo 3

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O meu pai não falava desde que chegamos aqui, já tem três semanas. Praticamente não saímos de casa, e o proprietário da antiga casa onde vivíamos acabou jogando tudo o que era nosso no lixo , no mesmo dia em que viemos pra cá, e a minha moral tinha ido junto com todas as coisas.
— Posso entrar ? - Samanta falou entrando no quarto.
— O quarto é seu , né ? - sorri — Porquê tem tanta agitação na rua hoje ? - perguntei ao ver.

—Porque vai ter baile, já há um mês que não havia baile aqui , mas agora o dono disso aqui saiu do hospital e quer festejar , então as pesssoas estão todas se preparando pro baile .. Vamos também ? - Samanta perguntou.
A verdade é que eu nunca tinha ido a um baile antes,  e a ideia não era má, estava precisando de me soltar um pouco.

— Vamos, mas vai ter que me emprestar umas roupas. Vou só falar com meu pai um pouco , volto já.

Saí do quarto e me dirigi ao quarto de me pai . Ele estava deitado .

—Papai ? O senhor está passando mal ?

Ele apenas olhou pra mim , ignorando a minha presença.
— Pai o senhor quebra o meu coração quando está assim . Fala comigo pai, por favor.

— Eu ? Eu sou um embuste na sua vida . Não conseguiu terminar os estudos por minha causa, fomos jogados na rua por minha causa , eu não sirvo pra nada filha - meu pai chorou

—Ah pai , não fala isso ! Eu vou te ajudar , vamos falar com Deus, pedir a sua cura . O senhor só tem 46 anos tem muito que viver ainda, olha ... Eu vou tentar te comprar uma cadeira de rodas ta ? Daquelas elétricas , com piloto e tudo mais!  - beijei a sua testa

— Ah minha filha, você realmente é a luz dos meus olhos. - meu pai beijou a minha mão.

— Luz , é Deus pai! Olha , eu ia sair mas vou ficar aqui com o senhor .

— Claro que não filha. Vai se diverte , você já faz muito por mim.

Assenti e com isso sai do quarto. Dei de caras com o cara de cabelo verde.

— Não sabe que é falta de educação escutar a conversa alheia ? - Falei ao perceber que ele estava atrás da porta escutando.

— Abaixa o tom que eu não sou As tuas amigas ! Vai pro baile é? - perguntou cinico
— Eu vou sim
— Cuidado com a fera , bela.

E saiu me deixando com cara de paisagem , que garoto chato.

Horas se passaram , e já estávamos prontas pro baile. Eu vestia um short cintura subida branco , com um cropped preto , e um ténis preto que estava um pouco apertado , mas é o que temos.

Samanta vestia uma saia longa , apertada e vermelha , com um sutiã branco , e uma sandália da mesma cor . Tinha prendido o cabelo num rabo de cavalo , e estávamos sem maquilhagem , porque o calor era terrível.
Chegando no sitio onde era o baile , já havia várias pessoas se divertindo , alguns grupinhos de meninas que olhavam umas pras outras com cara de nojo , caras armados, e uma música bem alta.

— Vamos pegar alguma coisa no bar ? - Samanta perguntou
— Não , eu não trouxe dinheiro , to bem assim !
— Ah moça , você tem muito que aprender . Vem ! Nós pomos na conta do Léo .

Assenti , e só por isso iria abusar. Léo estava sendo super  tedioso . Nas 3 semanas que vivo em casa deles , ele não me dirigiu a palavra uma só vez.

— Aí meu deuso esta música é a minha vida toda ! Vamos ? — Assenti e já fomos dançando . Quando andava na escola havia um grupo de dança , elas dançavam de mais e com isso eu aprendi do jeito certo. E ali deixei toda a minha frustração, toda a minha dor ser levada pela música ! Rebolava ao som do funk que tocava , e em meio uma música e outra , já se tinham ido dez latinhas, e, pra mim que não bebo nunca, já era o suficiente pra me deixar bem doidona!

— O som está muito bom ! - Samanta falou bem alto

— Está sim , mas não estou me sentindo bem, acho que vou descer pra casa.

— Vamos então .
Olhei pro relógio que marcava 5 da manhã.
O frio da madrugada me fez me arrepender de não ter levado um casaco pro baile. Descemos as ruas bem louconas , cantarolando e brincado, Samanta vomitou horrores , bem na porta da pensão, e em poucos minutos estávamos em casa.

— De quem é essas motas? - perguntei vendo duas motos estacionadas na frente da casa.
— Deve ser do meu irmão e de algum amigo dele.

— Daonde seu irmão tirou dinheiro pra uma Mota ?

— Filha , ele e braço direito do chefe do tráfico daqui. Borá vamo entrando que eu to morta de cansada.

Entramos e eu sentei no sofá tirando os sapatos apertados , e finalmente relaxei meus pés. Coloquei os cotovelos em cima da mesinha de centro , pra segurar a minha cabeça que rodava, e acabei dando com a cara no vidro.

Acordei com um grito enorme , e a cara cheia de farinha .

— Quem é essa que cheirou toda a minha droga ? — Um homem negro, com olhos cor de mel, rastas compridas até a cintura e também cheio de tatuagens gritava segurando meu braço.

— Aí moço você está me aleijando ! Me larga eu não cheirei nada eu só .. - Olhei pra mesa e percebi que o que tinha na cara não era farinha, e eu devo ter adormecido bem em cima daquilo.

— Mas que confusão e essa meu filho ? - Manuela falou vendo o moço puto da vida

— Eu deixei isso aqui e essa vadia cheirou tudo , vai pagar ! Ah tu me paga ! - ele gritava e apertava cada vez mais meu braço.

— Tu abaixa o tom que eu te arrebento ! Tu acha que eu ia dar teto a uma vadia , drogada ainda por cima ? Tu fumou merda ? - Manuela falou pegando a vassoura .

— Gente que gritaria é essa logo de manhã ? - Samanta coçava os olhos — Aí que ressaca fudida . Nunca mais eu bebo - esfregou a cara

— Ela cheirou a minha droga Samanta ! Ela vai ter que devolver todo o valor do que estava em cima da mesa ! 780 reais ! - Ele me largou o braço e me olhou com um olhos horríveis , me deu medo mesmo , mas eu não tinha cheirado nada , eu nem sabia do que ele estava falando.

— Moço eu juro eu só dormi ali eu nem vi que tinha coisas em cima da mesa ! Eu não tenho esse dinheiro todo .. Por favor me perdoa eu vou ter mais atenção !

— Não tem esse dinheiro ? Ah , mas vai ter que encontrar ! Ou vai trabalhar pra mim até pagar a dívida ! - ele falou e olhou pra Léo , que observava toda a cena, calado.

— Léo ? Ele não pode levar ela , ela não é daqui ! Ela não sabe nem quem você é - Samanta olhou pro homem — Calma gente, e tem o pai dela que é doente . Não precisa isso tudo não .

—  Eu acabei de chegar aqui , to levantando as minhas bocas e essa condenada veio cheirar o meu pó ? Cê é doido Muleque ! Vai trabalhar la sim ! Daqui a uma hora te quero na minha casa !

E saiu com tudo batendo a porta . Eu chorei e tirei todo aquele pó da cara . Meus olhos e nariz ardiam, e todos estavam sérios ali dentro.
Quando voltei do banheiro , Tia Manuela me pegou nos braços.

— Nos sabemos que foi um acidente , mas O Yago é muito impulsivo , ele não pensa .. Se não for ele pode te tratar como faz com os outros , e por mais que ele me respeite, no que toca o tráfico eu não posso fazer nada. - ela falou me acariciando os cabelos.

— E como ele trata os outros ? - perguntei.

— Ele mata - Léo respondeu comendo uma maçã como se de nada fosse.

— Você ta fudida Anabela - Samanta falou me olhando.

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