Cicatrizes!

Agressão!

Karine!

Se você acha que tudo começa com agressão física, você está errada.

Primeiro é sutilmente uma ofensa, um xingamento sem você fazer nada, depois vem os empurrões, puxões de cabelo.

Tudo no começo é aos poucos, até o dia da primeira agressão, se eu fechar os olhos ainda posso sentir suas mãos em volta do meu pescoço me enforcando.

Era num sábado, eu tinha acabado de fazer os trabalhos da faculdade, ele já tinha se formado, eu indo para o último ano, eu tinha só o sábado para fazer isso , durante a semana, eu me dividia entre a faculdade de manhã, estagio a tarde no Fórum, tinha meu tcc, a prova do OAB e eu tinha o Caio me monitorando 24 horas por dia, me levava na faculdade, me ligava na hora do intervalo, me buscava, me levava pro Fórum e lá, se eu não colocasse meu celular no silencioso eu ficava louca, ele me ligava de meia em meia hora, teve um dia que ele me ligou, eu estava assistindo uma audiência, quase morri de vergonha, pois o celular começou a tocar e eu tentando desligar, até que o juiz pediu para eu me retirar e atender pois poderia ser importante.

Era ele bravo, porque eu não tinha o avisado que ele tinha uma reunião, e que naquele dia ele não ia poder me buscar.

- Hoje está do jeito que você quer né, livre e solta, vou ter que ficar até mais tarde na empresa, não poderei ir te buscar graças a sua irresponsabilidade, não me avisou da reunião, em casa conversaremos sobre isso.

Naquela noite eu só não fui chamada de santa, pois eu não tinha sido uma boa esposa, não tinha olhado a agenda do marido e me certificado da tal reunião, ele desde o começo do nosso casamento me impôs isso, e eu toda apaixonada achei lindo, eu estaria cuidando dele,eu achava isso, mas ele tão crápula que é, só queria um pretexto para me punir, eu tinha que ser exemplar, eu ligava todos dias pra secretaria dele para ela poder me informar da agenda dele do próximo dia.

Ela sempre me questionava o por que de eu estar fazendo isso, e eu sempre dizia que eu não me custava ajudar meu marido nas suas obrigações!

E naquele infeliz dia, eu estava exausta, tanto fisicamente como psicologicamente, vinha de de varias noites sem dormir, e com tudo acontecendo, eu esqueci, mais por que fiz isso? Eu era a pior pessoa do mundo, eu não servia nem para cuidar da agenda do marido, ou eu era inutíl, ou fiz de propósito, se fiz de propósito eu estava afim de ser sacanear ele.

Não consigo entender como um homem que diz que ama, que jurou proteger e amar, a todo instante julga e desconfia de tudo? Não sei como explicar isso.

Mas enfim, vamos ao tal sábado que será o fim desse relacionamento abusivo, e também minha libertação.

Estava cansada Caio tinha saído jogar bola,terminei fui tomar um banho.

Era pra ser uma noite tranquila, assim eu esperava que fosse, até ele chegar embriagado.

Caio chegou e ao abrir a porta de casa, ja começou a me gritar.

Ele berrava tanto que la da esquina tenho certeza se podia ouvir.

Eu de imediato fiz de surda, mais para ele isso foi pior, ele queria de algum jeito brigar.

E assim ele fez, eu estava parada na frente dele, sem reação enquanto ele vomitava que eu, estava fazendo estagio na procuradoria porque eu tinha interesse em alguém.

A cada palavra, a cada ofensa, eu sentia que meu corpo estava ali, ja minha alma ja tinha corrido se esconder.

Caio estava fora de si como sempre, toda vez que ele bebia ele se alterava, no começo eu tolerava,achava que isso ia passar, que com o tempo ele iria mudar, santa inocência.

Abusador nunca muda, narcisista então tendência e piorar, eles se sentem deuses diante de nós, eu hoje sei disso.

Mas continuando, eu estava ouvindo ele berrar como se eu estivesse fazendo algo errado, logo eu que mal saia pra estudar e fazer o estagio pois era obrigatório, eu estava no ultimo ano e precisava fazer estagio e ainda tinha meu tcc.

Eu ainda tentava entender o porque da agressão gratuita, mas ele foi falando e indo pra cima de mim, eu fui recuando até chegar na parede da sala, ali eu fui subjulgada e condenada pelo meu marido, com as mãos no meu pescoço ele me enforcava e me dizia que eu não era nada, eu ainda tenho pesadelos com isso.

-Você karinne não é nada sem eu, você é só um rostinho bonito, mais podemos dar um jeito nisso, posso lhe fazer umas cicatrizes e pronto.

- Caio você esta bêbado, do que você esta falando? Me solta,você esta me machucando, Caio por favor me solta. Pedi sem sucesso.

Ele apertava mais e mais, e eu na tentativa de me libertar dos seus braços, peguei uma estatua que nós tínhamos ganhando de presente de casamento, e não sei de onde tirei forças, acabei acertando Caio na cabeça, ele me largou, cambaleando e caiu no chão da nossa sala desmaiado.

Eu ainda tentando respirar, peguei meu celular e liguei pedindo ajuda.

- Policia militar, Boa noite, qual emergência.

-Por favor, acabei de desmaiar meu marido, eu preciso de socorro.

- Senhora, você está machucada?

- Eu estou bem, só venham rápido antes que ele acorde.

- Estamos encaminhando uma viatura.

Nesse tempo que eu esperei a viatura chegar, eu sentei no chão, e ali comecei a avaliar minha vida, meu casamento, meu relacionamento.

Eu estava tão transpassada por tudo,parecia que eu estava em transe.

Eu liguei pra minha mãe, e pra minha sogra, depois tudo foi no automático, policia chegando, samu, socorreram ele, fui levada a pronto socorro, fui examinada e depois encaminhada para fazer corpo de delito.

Foi feito um boletim de ocorrência por violência doméstica contra ele, e eu responderia por agressão fisica por ter me defendido.

Esse é um pedaço do que eu passei nesse relacionamento, que só não me tirou a vida, pois Deus tinha um plano para mim.