Sinto que os arrependimentos e os orgulhos estão ficando para trás. O medo e a confusão também. Ainda não tenho respostas, mas está tudo bem. Nada importa mais, mas não é ruim. Sinto que tenho que esperar...
Esperando me sinto drenar. É como se todos os excessos da vida estivessem se escoando, indo embora, não sei para onde. Não sinto dor. Não é um processo cruel. É tão natural que me pergunto como eu não sabia disso antes. Tantas coisas fúteis. Não são coisas grandes, são pequenas, mas que se amontoam e nos incham. Acredito que em vida eram necessárias para manter tudo fluindo. Mas agora não é hora de fluir. Não preciso mais das constantes trocas que aconteciam a todo momento.
Tudo se vai, até os laços mais forte que eu possuía lá já não me restam. Mal me lembro das pessoas amadas e nem das que desgostei. Eles foram e eu sei que deveriam ter ido. Assim só ficaria eu. Sinto que só me resta o essencial. O mais íntimo que me constitui. Aquilo que me fez ser eu. E é estranho. Não me sinto um ser agora. Me sinto vários. Como se aquilo que eu acreditasse ser um, na verdade eram cem. E cada parte de mim que eu sinto é diferente e igual ao mesmo tempo. Eu sou um e eu sou todos. Agora eu e todos os eus esperamos numa sobra fresca de lugar nenhum.
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Semente
Short StoryNão fez sentido. Foi tão aleatório. Ninguém poderia ter previsto. Ninguém entendeu. Foi tão rápido. Mas aconteceu. E tudo pelo qual eu vivi já não importava mais...