𝒞𝒶𝓅𝒾́𝓉𝓊𝓁𝑜 𝒯𝓇𝑒̂𝓈

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Diana Mitchel

O homem a minha frente ri com deboche e sinto náusea. Trabalhar nesse caso está sendo mais complicado do que imaginei, principalmente por me levar de volta para a minha infância traumática.

Quando eu tinha 10 anos, minha irmã mais nova que tinha 8 desapareceu. No começo achamos que se tratava de um sequestro, minha família contratou diversos detetives que trabalharam em conjunto com a polícia, mas o caso nunca foi resolvido. Até hoje sofremos com a perda da caçula, minha melhor amiga, apenas uma criança que foi arrancada do seio da sua família. Talvez essa tenha sido uma grande influência para eu ter seguido a carreira que escolhi e é por isso que tento me dedicar ao máximo em meus trabalhos, porque sei a dor de não ter respostas.

Resolvo sentar na cadeira que está de frente para a que ele está sentado e seu olhar me acompanha em cada movimento.

— Eles acham que eu vou falar alguma coisa só porque mandaram uma policial mulher? — Pergunta ainda rindo com deboche.

— Eu não sou policial e só quero conversar um pouco com você. — Seu olhar muda para curioso e ele se ajeita na cadeira resmungando pelos machucados. — É, tá doendo muito? — Ele arqueia a sobrancelha em descrença.

— Ah, não. Eles foram bem carinhosos, na verdade. — Ótimo, caminhar por um clima irônico e sarcástico é melhor do que o silêncio. Tenho noção de que deve estar doendo muito pois o sangue escorre do seu nariz e supercílio e há outros hematomas em seu rosto e pescoço, creio que ainda há muito mais pelo corpo sendo cobertos pela roupa que usa. O que não acredito é que o Parker seja esse tipo de profissional, que abusa do poder e utiliza a violência como forma de obter ganhos. Estou absolutamente frustrada e com muita raiva dele. Mas conversarei com o mesmo em outra hora, agora preciso focar no homem que está olhando com interesse para mim. — Então, o que a detetive... — Sussurro "Mitchel" para ele. — Mitchel. O que a detetive Mitchel quer conversar comigo?

— Quero falar sobre o Stephan. — É instantâneo a forma que seus olhos arregalam. Peguei você! Trabalhei em buscar evidências comportamentais a partir da análise do ambiente em que ele vivia e da sua interação social. Acabei descobrindo que ele tem um irmão mais velho, com ficha suja e um laudo psiquiátrico de distúrbio de humor. Fazendo uma perícia em seu computador encontramos algumas fotos deles dois, que parecem ser bastante unidos. Inclusive, enquanto ele se ajeitava na cadeira, notei uma frase tatuada em seu pescoço com os dizeres "Sempre Leal". Com o S de Stephan e L de Leonard, o nome do suspeito, em destaque. Nas fotos encontrei a mesma tatuagem em seu irmão. Então, acredito mesmo que, por mais nojento que consiga ser, Leonard pode ser apenas uma peça controlável no tabuleiro insano de seu querido irmão. É claro que o caso poderia ter tido outro andamento se o Parker não achasse que violência resolvesse tudo, mas tudo bem, terei tempo para ensinar algumas coisinhas àquele ogro.

— Como assim? — Até o tom da sua voz mudou e seus olhos não me encaram mais. Só está me dizendo que estou no caminho certo, querido.

— É que fiquei curiosa sobre o destino das férias dele. Você sabe, tenho essa equipe que o buscou em todos os cantos da Califórnia para obter algumas informações sobre você e eles não o encontraram. Você saberia de algo, não é? Eu sei que são bem próximos, isso é bom, porque alguém como o seu irmão por aí sozinho não faz bem pra sociedade... — Digo encenando uma expressão de pesar e nojo e parece funcionar, porque ele se levanta da cadeira e se aproxima por cima da mesa, ficando com o rosto todo machucado a centímetros do meu.

— Não fale assim do meu irmão, sua vadia. — Sua fala sai entredentes e ele passa a língua pelos lábios quando o sangue do nariz escorre até eles. Seu sorriso debochado cresce mais uma vez. — Eu sei o que está tentando fazer, mas ele não tem nada a ver com isso, então não vou cair no seu joguinho. — Já caiu, penso.

Na Mira do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora