12/05/1950 - Domingo, cidade do Rio de Janeiro.
Estou apenas existindo, Trigo.
P.s: Morrendo de saudades dela.
13/05/1950 - Segunda-feira, cidade do Rio de Janeiro.
Trigo, hoje o dia foi até que bom... Apesar dos berros dos meus irmãos ao amanhecer, acordei com um ótimo humor. Entreguei todos os jornais e totalmente entusiasmado fui vê-la novamente. Ela não estava lá. Ela não estava mais no mesmo lugar que costumara ficar. Eu não conseguira entender, Trigo. O que eu fizera de tão ruim para que ela fugisse de mim dessa forma? No momento em que minha mente estava perdida em meio a confusões e indagações, eu tomara uma coragem que chegara tão de repente que logo em seguida fizera uma coisa sem muito pensar. Eu entrara no armazém do senhorzinho pela primeira vez. Ficara um pouco sem jeito e assustado, a coragem sumira na mesma velocidade com que chegara. Mas não foi por muito tempo, pois como eu pensava, o senhorzinho é bastante simpático e cordial. Assim que eu entrara, ele logo franziu o rosto enrugado com um lindo sorriso que brilhara por de trás de uma barba meio grisalha. Ele tem os olhos bem esbugalhados e negros. Ele usara uma boina meio marrom, um óculos meia lua e uma gravata borboleta lilás que por sinal combinara demais com sua camisa social quadriculada meio azulada, roxa e marrom. Ele também usara um avental beche com uma fita prateada que mais parecia um broche e, nela vinha escrita "Sr. Kika". Acredito que deva de ser o nome dele, ou melhor, um apelido pelo qual todos lhe conhecem. Ele me pergutara o que eu procurara naquela manhã. Fiquei totalmente sem jeito e de hipótese alguma eu poderia lhe responder dizendo que procurara aquela menina. Engoli a seco e disse ao Sr. Kika que eu estava à procura de uma cola de madeira, pois papai estava precisando concertar o pé de algumas cadeiras em minha casa. De certa forma não fora uma mentira, pois papai outrora comentara que as cadeiras estavam precisando de um conserto. Enquanto o Sr. Kika buscara a cola, eu investigava aquele armazém. Zanzando de um lado para o outro eu buscara qualquer vestígio daquela garota dos cabelos de mel e de seu livro. De repente eu ouvira um barulho de passos rápidos como se estivessem correndo, quando eu olhara para trás... Era ela, Trigo. Eu não podia acreditar. Ela descera às escadas do segundo andar - que deve ser onde guardam o estoque do armazém -. E eu ouvira perfeitamente, Trigo. Ela chamara o Sr. Kika de vô. Ela estava tão entusiasmada com alguma coisa que nem notara minha presença ali. Eu ficara por alguns instantes imóvel, só admirando aquela beleza e imaginando nosso futuro juntos. - como seremos felizes - Então o Sr. Kika me chamara para realidade e me entregara a cola que tanto procurara. Foi aí, Trigo...
(Papai e mamãe levantaram e eles não podem me pegar acordado a está hora, amanhã termino de lhe contar).
VOCÊ ESTÁ LENDO
O diário de Fran
Short StoryFrancês é um jovem rapaz que percorre a cidade do RJ entregando jornais, enfrenta diversas turbulências na vida até encontrar abrigo no seu diário, que por uma imensa peculiaridade lhe chama de Trigo. Ele se rende a um amor pela primeira vista - um...