Capítulo três

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Paft, paft, paft...

Esse é o barulho da minha cabeça batendo repetidamente contra a janela do ônibus. Os meus olhos pesam, eu os fecho, e... Paft.
Sequer me incomodo mais, antes eu tentava me manter desperta ou cochilar em outra posição, no entanto, percebi que o sono não é igual.

Com a cabeça solta e levemente pendida para o lado, eu definitivamente durmo melhor.
E esse é o meu objetivo depois de um dia que começou antes mesmo de amanhecer e que ainda está longe de acabar.

A exaustão do meu corpo não me permite sentir o desconforto, ele somente quer aproveitar o pouco tempo de descanso e recarregar, o mínimo que seja, das minhas baterias.

Afinal, irei precisar.

Já que é no cair da noite, que o meu expediente realmente começa. Tudo que acontece antes é um ensaio, uma prévia do futuro. A minha realidade é está. E devo dizer que não é nada glamourosa, como pode parecer.

As roupas caras, as maquiagens impecáveis e os sorrisos satisfeitos vistos em todos os cantos não passam de uma farsa. Um véu que esconde toda a verdade. Mas não posso reclamar, não do que põe comida na minha mesa e banca os meus luxos.

Sou uma mulher de hábitos caros.

Há muito tempo fui acostumada somente com o melhor. Era a filha preferida de um pai bastante generoso, mas que possuía um único grande defeito. O vício em jogos de azar.

O fim desta história é previsível, e eu devo dizer que não lidei muito bem com a perca de todos os meus privilégios. E num ato de rebeldia, joguei todos os bons ensinamentos no lixo e escolhi o caminho mais fácil.
Virei stripper por opção, não por real necessidade.

Era divertido no começo.

Era excitante dançar para desconhecidos e ver o que eu era capaz de causar.

Olhares de luxúria. Corpos trementes de tesão...

Uma coisa levou a outra, e quando vi eu já estava aceitando programas. Ou melhor, selecionando homens para noites de sexo pagas. Eu não admitia qualquer um. Costumava dizer que era uma mercadoria que escolhia o comprador.

Os anos passaram, e quase nada mudou. O meu lema continuava o mesmo, e a Paradiso Oscuro ainda era o meu lugar, no entanto, a inconsequência já não era um traço tão marcante da minha personalidade. E a Amélia de 25 anos queria mais do que viver as consequências das atitudes da Amélia de 18.

Eu não sentia vergonha do meu passado, somente queria poder escrever um novo futuro.

E eu estava conseguindo. A minha formatura seria em poucos meses, e este também seria o momento em que me aposentaria dos palcos e camas alheias.

Eu só precisava aguentar mais um pouco, só mais algum tempo...

—Veja só se não é a minha fiore favorita!

Estanco os meus passos no mesmo instante, e arregalo os olhos.
Não, não, não... —Penso, mas não muda nada. Ele não desaparece. Então, respiro fundo, suprimindo o desgosto antes de me virar.

—Como vai, Donald? —Sorriu amarelo e forço gentileza, mas ele não parece perceber. Continua a me olhar como se eu fosse algo divino. E eu não tenho dúvidas, se há alguém que me põe no mais alto dos pedestais, esse alguém é ele.

—Ansiando por você cada dia mais. Tanto, que precisei fazer vigília em sua porta. Não aguentava mais ficar sem te ver.

Suspiro, e olho ao redor para verificar se mais alguém presencia a sua declaração. E quando vejo que não, me aproximo. Tentando, pela milésima vez, colocar algum juízo em sua cabeça.

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⏰ Última atualização: Aug 06, 2021 ⏰

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