Prólogo

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    O cheiro de café invade meu nariz e eu sinto uma leve satisfação, apesar de não gostar nenhum pouco da bebida em si o cheiro do café está entre os meus preferidos. São exatamente 17h50min e daqui a pouco as poucas cadeiras de couro preto do Café Ristretto vão estar todas preenchidas pelos caras que trabalham aqui perto, como eu sei disso? bom... meu melhor, e único, amigo é um deles e eu pretendo ser também.

    Aberto é arquiteto e trabalha na Monteiro Arquitetura, a maior empresa de arquitetura do país e tem sede única em São Paulo. A MA é o meu sonho profissional de arquiteto desde que entrei na faculdade e Beto é a minha passagem para conquistá-lo.

    Passou pouco mais de 10min e a cena já conhecida se repetia: o Café já está lotado e Beto entra pela porta de vidro pontualmente às 18h05min como todas, na verdade nem todas, as outras vezes, algumas ele simplesmente avisa no último minuto que não poderá vir.

    — Quantos minutos? — ele pergunta se referindo ao meu tempo de espera enquanto se senta na cadeira a minha frente.

    — Os mesmos 10 de sempre. — sorrio feliz por ele ter vindo. — Pontual como sempre, tirando as vezes que você me deixou esperando.

     — Quase não vinha. — meu comentário nem o abalou — Estou desde o início da semana adiantando trabalho para conseguir um final de semana decente de descanso. — tento colocar a mão na sua testa para verificar sua temperatura, mas ele me dá um tapa leve antes de eu concluir.

    Beto trabalha muito, mas muito mesmo. Ele usa a desculpa de que o trabalho dele é muito importante e por precisa de total dedicação, mas acredito que tenha mais a ver com o abandono do amor da vida dele quando eles se formaram na faculdade a 5 anos atrás. Até hoje ele ainda não superou.

    — Olha se não é o maníaco por trabalho dizendo que vai tirar folga, tem certeza que não está doente? — Beto descansando é realmente uma coisa difícil de se imaginar. Fico feliz ao ver Mara se aproximar para anotar nossos pedidos, estava faminto.

    — Foi isso mesmo que eu escutei? Meu maníaco por trabalho preferido falando sobre tirar folga? Checou a temperatura dele Edu? — a proprietária do café questiona divertida. O amor de Beto pelo trabalho era uma coisa que quase chegava a ser palpável e não havia pessoa ao seu redor que não notasse.

    — Haha engraçadinhos. — ele ri sem humor — Eu não sou maníaco por trabalho é que a Emmy só confia em mim naquela empresa, então todos os projetos antes de serem aprovados...

     — São avaliados por você, então só depois de uma análise detalhada no projeto e sua aprovação eles são enviados para as empresas de construção civil que executam as obras e blábláblá— reviro os olhos — Sim, nós já sabemos o quanto sua chefe confia em você o que te faz ter bastante trabalho e o quanto ele é importante para empresa. Você já me falou isso milhares de vezes. — ele usa essa desculpa toda vez que eu o chamo para sair e ele nunca aceitava porque sempre tem coisas do trabalho para fazer.

    — E mesmo com todas elas você parece não entender o real motivo de eu trabalhar tanto. — ele sabe o que eu acho sobre esse excesso de trabalho — Vai pedir o quê? — ele muda de assunto olhando o cardápio.

    — Que bom você que você perguntou, na verdade eu quero ser seu assistente. — Proponho.

    — Acho melhor vocês conversarem a sós. Vou trazer o mesmo de sempre para os dois. — Mara diz e logo se retira.

     — Não. — Não sei se me assustei mais com o tom do "não" ou com o grito do homem que deixou cair café quente nas calças. Coitado.

    — Antes de dizer não pense bem nas vantagens que você teria em ter um assistente como eu, além de que iria dividir seu trabalho por dois você teria mais tempo para descansar. Você está ficando velho meu amigo, precisa aproveitar a vida.

Alerta VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora