agora eu vou falar diretamente sobre o Arthur, de como eu me envolvi nessa confusão mental, as atitudes que eu tomei, e finalmente o porque desse livro existir.
tudo começou em 2004, afinal, esse é o ano do meu nascimento.
eu não tenho muitas lembranças dos ocorridos dos anos que se passavam após aquilo mas tudo o que eu sei é que desde aquela idade eu já havia começado a ter problemas. eu nasci com uma condição rara chamada Steve Jhonson, ela basicamente é uma doença que afeta sua pele criando inchaços, bolhas e feridas. o que agravou isso com certeza foi que injetaram um remédio na minha veia para o combate da doença quando eu era muito novo, e infelizmente eu era alérgico a esse remédio, o que acabou causando o descascamento total da minha pele na época e me fez ser um recém nascido sem pele alguma que necessitava de doses leves de morfina pra tomar banho.
Bom, eu sobrevivi e a minha infância foi muito boa, eu sempre tive tudo do bom, eu nunca fui aquele garoto que tinha sempre o videogame da época ou o brinquedo mais maneiro entre as crianças mas eu era feliz. eu estudava em uma boa escola, nunca passei fome e até conseguia uns abraços de umas menininhas mesmo sendo gordinho.
mas esse livro não é pra falar sobre os momentos bons da minha vida não é?
bom, eu declaro que minha vida começou a desandar a partir de 2017, eu tinha meus doze anos e já me considerava um homenzinho, eu já tinha perdido meu BVL(o que é uma conquista e tanto pra um adolescente da época) e flertava com algumas menininhas. Bom, a partir desse momento minha família começou a entrar em uma pequena crise financeira, meu pai havia sido demitido a um tempo, minha irmã que recentemente tinha feito seus 19 perdeu seu emprego também e minha mãe era a única trabalhando em casa. não quero dizer que isso acarretou em algo realmente sério pra mim, como eu disse eu nunca cheguei a passar fome e eu também quase nunca me importava quando minha mãe não podia me dar um videogame novo ou quando a internet era cortada, o que realmente me afetava era as incessantes discussões dos meus pais todo final de semana e as clássicas ameaçadas de sumir da minha mãe, eu sei que isso é um drama comum de toda mãe, mas eu nunca tinha visto minha mãe falar sobre tão convicta e isso me machucava.
ao mesmo tempo que isso ocorria em casa, inexplicavelmente minhas notas na escola começaram a cair e o meu melhor amigo da época só parecia cada vez mais distante de mim, eu não sei se eu havia feito algo errado pra isso mas ele tava só se desaproximando de mim cada vez mais, como se sentisse nojo da minha presença.
nessa época eu já tinha minha primeira namoradinha, vamos chamar ela de J, eu namorava escondido da minha família sem motivo algum, eu sabia que eles não iam brigar ou rejeitar a idéia, mas me dava tanta adrenalina saber de um amor proibido. eu era feliz com a J, mas nunca tínhamos passado de só uns beijos mesmo ela sendo mais velha do que eu.
bom, finalmente chegamos em 2018, o ano que foi um dos piores da minha vida.
no início desse ano eu ainda namorava a mesma garota, mas entrou muitas outras novas garotas na minha escola e com meus hormônios a flor da pele eu não conseguia pensar em outra coisa que não fosse garotas, e eu contava sobre as minhas vontades para a minha namorada obviamente, e mesmo não me sentindo pronto, eu perdi minha virgindade, escondido dos meus pais eu saí com essa garota com o pretexto que tinha ido na casa de um amigo fazer um trabalho, e foi simplesmente horrível, eu não sabia como funcionava uma mulher e eu olhava tudo aquilo com uma cara de tipo "isso aqui tá certo?".
bom, um tempo depois disso eu e ela resolvemos dar um tempo do nosso relacionamento, obviamente eu fiquei triste por isso mas não demorou muito pra eu encontrar outro lancezinho com uma loira da minha escola, que também sumiu da minha vida o que impulsionou mais ainda minha tristeza, eu me sentia sem rumo, mesmo sabendo que aquela dor não seria eterna, eu me sentia sem rumo.
bom, nesse ano também foi o ano que eu perdi o meu primeiro amigo pro suicídio, eu não havia visto ele pessoalmente muitas vezes e não conversava com ele a alguns dias por uma briga idiota que tivemos, eu só simplesmente recebia a notícia por outro amigo meu. Eu me sentia culpado por ter brigado com ele, mesmo sabendo que ele não havia cometido suicídio por aquilo, eu me sentia triste da mesma forma.
é importante ressaltar também que esse ano mesmo com a situação financeira da minha família melhorando, a minha mãe dizia com mais convicção do que nunca que ia se mudar, e até citava onde ficava a casa, o que me deixava mais mal com a situação ainda.
chegamos em 2019, e em 2019 chegamos em outra garota, e essa eu não quero chamar por uma letra, quero chamar por um nome. Quero apresentar a quem leu isso até agora a Mirtazapina, mirtazapina é um antidepressivo do tipo tetracíclico que, diferente dos demais antidepressivos, age aumentando diretamente a quantidade de serotonina e noradrenalina nos neurônios, e era esse o apelido que eu dava a essa garota porque era literalmente esse o efeito dela no meu cérebro,e me espantava um ser de 1,50 de altura e 90cm de quadril poderia fazer isso comigo
Ela era uma das garotas que havia entrado na escola em 2019 e eu nunca havia prestado tanta atenção nela assim, eu só via ela como amiga, tanto que por uma grande época nós fomos melhores amigos, mas enfim.
no começo desse ano eu e a mirtazapina acabamos por decidir se pegar pra tentar uma amizade colorida, grande erro, mas mesmo assim fizemos.
por um tempo a gente conseguiu se convencer que era só isso mas não demorou muito até chegar o dia 13/03 de 2019, o dia que a gente finalmente começou a namorar. Nesse momento eu já havia esquecido da existência da loira e ainda mais da J, a mirtazapina era literalmente a única pessoa na minha vida que eu realmente sentia algo, mas eu não sabia o porquê da minha tristeza, ela simplesmente não passava. a mirtazapina fazia seu trabalho, mas a minha tristeza não tinha fim , exceto quando eu estava com ela.
eu já sabia que essa mirtazapina também dia problemas psicólogicos bem antes de começar a se relacionar comigo, mas eu não sei a idéia que tivemos na época , mas tentamos um suicídio em casal. a gente pegou uma penca de remédios, literalmente muitos remédios e enfiamos guela a baixo no banheiro da escola depois que a gente se pegou pra caralho, e demos descargas em algumas das embalagens pra não descobrirem todos os remédios que tomamos depois que entrassem nas cabines, e obviamente não deu certo, afinal vocês não estariam lendo isso se realmente tivesse acontecido.
bom, a mirtazapina depois disso ficou afastada um tempo da escola e eu via ela na maioria desses dias que ela ficou fora porque eu sempre dava um jeito de ir visitar ela na sua casa, e foi nesses encontros que eu também acabei tirando a virgindade dela, e diferente das outras vezes foi tudo perfeito ,eu literalmente me senti em uma parte do paraíso.teve algumas vezes que eu fiz algumas merdas no meu corpo como auto mutilação ou até tentar suicídio denovo e acabar no hospital, e ela me visitava quando isso acontecia,mas como tudo na minha vida que parece ser bom, esse relacionamento terminou, e na mesma época que isso aconteceu vocês lembram da garota que eu citei no primeiro capítulo? exatamente.
naquele momento eu literalmente não sentia mais vontade nenhuma de viver, eu até me envolvi com algumas garotas, mas eu não sentia nada por elas e sempre voltava a pensar na mesma pessoa, a mirtazapina, e o que acontecia? bom, isso acarretou em a gente dando "fugidinhas" do nosso término e acabamos ficando um milhão de vezes mesmo após isso, tentamos voltar um monte de vezes e quase sempre era a mesma coisa, estamos nisso até hoje.
eu não sei se a mirtazapina é o melhor pra mim mesmo eu sentindo que é, porque ela me diz que não, mas tá tudo tão confuso aqui dentro.
bom, no momento que eu escrevi esse livro eu tô a dois dias em um literal jejum, eu tento comer algumas coisas mas eu simplesmente vomito algum tempo depois, estou a 3 dias sem tomar banho, porque eu também não tenho vontade, e também eu não durmo mais do que duas horas por dia.
eu tô realmente pensando em suicídio denovo? eu voltei a me cortar recentemente e eu não sei porque a sensação de fazer isso é tão libertadora.
eu não sou bom o suficiente pra merecer a morte que eu tanto quero.
eu não tô escrevendo isso por estar sofrendo por mulher, eu tô escrevendo isso porque quero justificar a minha falta de vontade de viver, eu não considero a minha rotina atual algo que se possa chamar de vida, e por isso eu tô todo dia me perguntando, essa tempestade vai ter algum fim?