bom, aqui eu não vou falar diretamente sobre acontecimentos, eu vou falar de como eu me sentia, o que eu fiz pra fazer uma falsa sensação de bem estar.
desde o começo desses acontecimentos eu me sentia um total morto, eu não conseguia impedir as pessoas que eu amo de morrerem,brigarem ou pararem de sair da minha vida, e isso me dava um sentimento enorme de incapacidade. então toda vez que acontecia algo ruim comigo, eu me trancava no meu quarto e cortava meus braços e minhas pernas. teve momentos da minha vida que não bastava simplesmente ter cortes então eu apagava fósforos em cima dos meus machucados e segurava meus gritos de dor no meu quarto enquanto eu chorava pensando no que eu simplesmente não conseguia fazer.
quando eu chegava a ter surtos absurdos eu evitava de me comunicar com a minha família e até cheguei a escrever um manual de como lidar comigo nesses momentos.
até eu finalmente receber assistência psiquiátrica e começar a tomar doses maiores de medicamentos, eu não parava de enfiar lâminas em mim por literalmente todo corpo, pernas, braços e até nas juntas dos joelhos e cotovelos. ficar dias sem comer era uma das minhas práticas também, porque eu simplesmente pensava que aquilo ia me fazer emagrecer e a dor era simplesmente agoniante, parecia que meu estômago estava sendo apertado continuamente enquanto eu estava acordado, mastigar navalhas era uma das minhas piores praticar também, os cortes nas minhas línguas e na minha boca simplesmente ardiam como fogo toda vez que eu tentasse me alimentar de alguma coisa quente.e eu fazia essas bizarrices que me causavam dor, tudo isso pra eu não precisar mais focar necessariamente na minha dor psicológica.
mas afinal? por que eu me negava tanto a saber porquê eu sofria?
eu sabia o que eu sentia, era um vazio imenso com uma agonia que nunca acabava, eu me odiava extremamente por não poder fazer com o que me incomodava simplesmente sumisse, era tão horrível sentir isso que eu optava pela dor física pra esquecer aquilo, mas sempre quando chegava a noite e eu via meus braços enfaixados denovo e eu não tendo mais o que cortar que não causasse a minha morte, eu entrava em pânico e só conseguia chorar.
agora algumas pessoas devem estar pensando, se você se odiava tanto e queria tanto se machucar, por que não se matava de uma vez?
eu tinha medo de causar sofrimento aos meus pais, seria a pior sensação do mundo saber que eu era o motivo de choro da minha mãe, eu tenho horror a isso.
eu sempre escuto que vai ficar bem e que vai passar, então eu opto por esperar por isso, mas sempre que eu dou a mínima brecha e esqueço de ignorar aquela pontinha que tem na minha cabeça de que eu sou um lixo, ela me domina inteiro e me joga no chão como se eu fosse um NADA, não que eu não seja realmente, mas é horrível ser lembrado disso.
mas eu sempre consigo levantar no outro dia e colocar uma máscara social que esconde tudo isso, porque na verdade, nenhum dos meus amigos suportaria ficar mais de duas horas do meu lado durante uma das crises que eu tenho, então eu tenho que fingir ser forte, porque é isso que os outros fazem.
eu sempre tento dizer pra mim mesmo que é só mais um dia ruim, ou que vai passar, mas eu sei que não vai. e toda vez que eu olho pra todos os relacionamentos que eu tô destruindo, para os remédios que eu tomo e para todas as cicatrizes do meu corpo, eu só vejo que eu fico bem melhor no meu quarto trancado, dentro da minha zona de conforto, onde eu não vou ouvir perguntas e vou estar protegido temporariamente das minhas responsabilidades, eu sempre prefiro ficar assim até conseguir achar um propósito pra continuar vivendo, e eu nunca consigo achar.
as vezes o suicídio parece mesmo ser a melhor opção e você só torce pra sua morte acontecer o mais rápido possível,e é nesses momentos que você conhece o que é o auto-ódio.
