48's

2.7K 303 106
                                    

Lavei a louça que havia feito com Any em casa e sentei no sofá esperando minha família chegar. Eu não saberia o que responder quando eles me perguntassem onde Josh estava. Nem conseguiria dar uma resposta para os questionamentos que viram quando eu não conseguisse esconder minha cara devastado.

Não demorou muito para eu ouvir o barulho das motos parando em frente a nossa casa. Nunca havia entendido o porquê de termos uma garagem se sempre deixavamos as motos estacionadas do de fora.

Abri a porta e ajudei minha irmã a carregar as malas para dentro da casa. Meus pais se chegaram no sofá e ficaram ali mesmo. Me senti na obrigação de levar comida para eles. Queria eles relaxados para que não prestassem atenção em mim.

— Como foi a viagem? — tentei demonstrar interesse, mas a realidade é que eu não me importava com a viagem deles.

— Foi ótima, você deveria vir com a gente. Ridículo termos um filho motoqueiro que não se envolve nas atividades — meu pai reclamou.

— Da próxima vez eu prometo ir com vocês — prometi. Mas não achava que teria alguma próxima vez, só queria ir embora daquela casa.

Fui andando até meu quarto. Eu só precisava esperar algumas horas antes que escurecesse e eu pudesse ir até a praia. Com sorte Any pensaría o mesmo que eu e nos encontraríamos em nosso lugar. Poderíamos conversar sobre como iremos seguir daqui para frente.

Fechei a porta e fui até a janela. A luz do sol agora invadia o quarto. Agora não parecia tão mágico quando a luz da lua na noite anterior, que fazia o sorriso de Any brilhar entre seus beijos.

Encostei no parapeito e esfreguei o rosto com as mãos. Lembrava da sensação de estar com Any para me reconfortar naquele momento.

— Para com isso, Noah! — falei para mim mesmo.

Preciso parar de martirizar nesse momento. Pensar positivo, Josh mesmo disse que não iria falar nada. Mas isso agora só provava que eu deveria tomar mais cuidado. Ficar com Any é bom, mas não posso extrapolar, não se quiser continuar vendo ela. Melhor um pouco do que nada. Lembrei daquela frase: "Quem muito quer, nada consegue".

Fui até minha cama e vi a blusa de Any em cima do cobertor ainda, ela havia esquecido ali. Levei a blusa ao nariz, fechei os olhos e senti o cheiro dela, como se eu ainda estivesse abraçado com ela.

Droga!

Any estava com minha blusa. Andando pelas ruas da cidade antes de chegar na casa dela ou pelo menos até a praia. Não é o tipo de blusa que uma garota e surfista usam diariamente. Mas espero que ela tenha passado despercebido, o que é difícil, a Any chama qualquer atenção por todo lugar que passa.


Troquei de roupa, lavei meu rosto e decidi que iria sair de casa. Subi na minha moto e fui até a lanchonete. Ela não ficava longe de casa, dava para ir a pé. Mas passei reto por ela umas duas vezes, não queria parar. Fiquei vagando em minha moto até perceber que tinha que guardar um pouco de combustível ainda.

Parei num canto da rua e desci. Entrei na lanchonete e para minha sorte achei Sina e Heyoon numa mesa. Assim que elas me viram, acenaram me chamando para sentar com elas.

— Oii! — Heyoon me abraçou assim que sentei, e dessa vez tentei parecer um pouco mais entusiasmado.

— Você está bem? — Sina pareceu preocupada. Então acho que ela entendeu o que estava acontecendo, pois virou para a namorada e disse: — Yoon, posso falar a sós com Noah, por favor?

— Hã... Claro — ela parece meu confuso, e acho que talvez chateada por parecer que Sina estava escondendo algo dela — Vou pedir nossa comida. Noah, quer algo? — ela perguntou se levantando.

— Só qualquer coisa pra beber.

Ela dei um sorriso sem dentes e saiu toda pitica saltitando em suas botas de couro até o balcão onde Simon estava para pedir nossa comida.

— O que aconteceu?! — Sina perguntou ansiosa.

Contei tudo o que aconteceu desde ontem de tarde. Conforme ia narrando a história, seu rosto de apaixonada pela parte minha e de Any se transformou em uma careta boquiaberta de choque quando cheguei na parte em que Josh descobriu sobre nós.

— Ai meu Deus... — ela tampou a boca com a mão — Droga, Noah! O plano era para ter dado certo... — ela parecia se culpar agora.

— Ei... — segurei a mão dela — Não é culpa sua, ok? Eu fui idioma de não pensar nas horas. Fiquei focado demais em aproveitar o momento com Any que extrapolei... Deveria ter tomado mais cuidado.

— Vamos resolver isso, tá? Ninguém mais precisa saber. Apesar de eu sempre ter achado que isso não daria certo.

— Como assim?

— Esconder um relacionamento com uma surfista por muito tempo? — ela sussurrou na parte que mencionava o que Any é — O que você estava pensando? Uma hora todos vão descobrir, ou você terá de contar.

— Contar? Você está louca? Nossas famílias nos separariamos. Não sei nem o que imaginar o que meu pai faria comigo se descobrisse. Nem quero.

Ela deve ter percebido que isso estava mexendo comigo. Estava acontecendo tudo tão rápido e intenso. Eu estava perdido, sem saber o que fazer. Percebi o olhar de reconforto de Sina quando ela apertou mais um de minhas mãos e usou a outra para erguer meu rosto pelo queixo, me obrigando a olhá-la.

— Vai ficar tudo bem — ela prometeu e tivemos que esquecer o assunto pois Heyoon já voltava para a mesa.

60's - NoanyOnde histórias criam vida. Descubra agora