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Já era 3 da madrugada e eu ainda não conseguia dormir por nada, então eu me afundava no meu fone de ouvido a madrugada inteira; até os raios do sol começarem a bater na janela como se fossem um despertador. Eu realmente não sabia porque eu não conseguia dormir, o sono não aparecia e a única coisa que aparecia no meio da escuridão era as minhas lágrimas, que apenas desciam suavemente pelo rosto até cair no meu travesseiro, e isso era apenas nos dias até melhores, alguns eu simplesmente ficava ofegante, sem conseguir respirar direito e na maioria das vezes eu consigo me acalmar rápido (ainda bem), mas isso só acontece quando eu pego aquela foto, a minha preferida, há alguns meses foi tirada do álbum e deixada em um retrato, segurar essa foto me trazia uma paz tão grande no meio das lágrimas da madrugada,ela fazia com que eu me sentisse segura e tranquila, algo que ultimamente não acontecia.

[...]

-Filha - meu pai bate na porta e me chama - Cloe? Você ainda está aí?

-Já acordei pai, pode ir, eu vou com as meninas hoje ... - abro a porta com um sorriso - bom dia!

-Bom dia meu anjo - ele beija minha testa - eu estava te esperando há meia hora, mas você não desceu para tomar café e fiquei preocupado ... bom, o café está na mesa, tem certeza que não quer que eu te leve na escola?

- Eu acordei meio atrasada, mas já estou descendo e não vou me atrasar - ele ri e assente - as meninas já estão chegando... e o senhor não precisa se atrasar por minha causa.

- Ok filha, tenha um bom dia!

Observo o papai descer as escadas e volto para o quarto para pegar minhas coisas, pego meu celular e ainda são 6:30, ótimo ... 30 minutos para a aula, dá tempo ... tem que dar!

Meninas, vocês não precisam passar aqui, vou com papai bjss <3

Pego minha mochila, meu celular e meu fone de ouvido, desço rapidamente e passo uma leve olhada na mesa, pego um saquinho de papel marrom e coloco dois pães de queijo, apesar da pressa eu nunca deixaria de pegar, afinal quem recusa um pão de queijo né?

A floricultura fica a 5 minutos da casa, felizmente no mesmo caminho da escola, mas não me animo muito com isso porque depois disso eu vou desviar totalmente do caminho da escola, sim, eu menti para papai e para meninas, mas tem um bom motivo ele é muito importante, pelo menos para mim, já que papai não se lembrou..., mas mesmo assim não o culpo, as complicações com a empresa devem estar enchendo a cabeça dele, afinal a vida é assim.

Entro na floricultura e compro uma rosa vermelha, a mais bonita que tinha lá, pago a moça e saio da loja rapidamente me lembrando do semáforo na outra rua e torcendo para que não esteja fechado.

Infelizmente o semáforo fechou quando cheguei, sou a garota mais sortuda daqui não é mesmo? Passo as mãos pelo me bolso a procura de algo e sem resposta alguma saio correndo em direção a floricultura.

- A NÃO - corro o máximo que pude e quase esbarro em uma moça que saia lá - desculpa, sinto muito!

- Não se preocupe garotinha, está tudo bem - a mulher sorri amigavelmente.

Entro na floricultura e converso com a moça, ele me entrega o celular e lá vamos nós correndo novamente como se fosse uma doida por aí, já são quase 7 horas, vou ter que faltar o primeiro horário.

Depois de uma longa corrida, chego ao meu destino final, com a rosa na mão paro a correria e começo a andar lentamente até encontrar o túmulo de mamãe, sim toda essa correria para vir ao cemitério.

- Jaqueline de Souza... - leio baixinho - feliz aniversário mamãe - coloco a rosa sobre o túmulo e deixo algumas lágrimas escorrerem pelo meu rosto e caírem no chão.

Minha mãe sempre esteve presente na minha vida, até nos momentos mais difíceis ela permaneceu forte e nos fortaleceu mais uma vez, faz 2 meses que ela se foi, sim, pouco tempo, mas cada dia parece ser eterno, na verdade ela foi viver a eternidade lá no céu, acho que é isso que me fez ficar melhor ... mas quem diria que uma linda comemoração se tornaria algo tão desastroso e com tanto caos, eu ainda me culpo por isso, talvez seja minha culpa ...

Na minha família sempre teve o São João, todo mês de junho nós íamos para o sítio da minha avó e agora também comemorávamos mais uma coisa, minha tia da parte de mãe tinha vencido o câncer de mama e obviamente isso foi uma alegria imensa. Estava tudo numa enorme alegria como eu já disse, minha família estava toda reunida ... meus primos, tios e tias,meus avôs e minhas avós tanto de parte de pai como de mãe, estavam todos lá e até alguns amigos da família...até que eu tive a brilhante ideia de ir na casa da minha outra tia,que era a uns 5 minutos do sítio da minha vó.

Nós pegamos a chave da casa com ela e fomos eu e mamãe pegar alguns enfeites e um bolo que tia Lu tinha feito,estava tudo normal, pegamos as coisas e estávamos voltando para o sítio quando resolvi ligar o rádio, e estava tocando a música preferida de mamãe , estávamos cantando e rindo juntas quando o rádio parou de tocar e partiu para um noticiário.

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- Informamos todos os moradores de Castelo Branco que tomem cuidado nas estradas, um prisioneiro fugiu da cadeia com a ajuda de mais dois companheiros! Eles estão em uma ferrari preta e sairam em direção à rodovia principal que dá acesso à saída da cidade.

A música volta a tocar

- Cloe fique calma, nada vai acontecer com as gente, fique tranquila minha filha - ela sorri e olha para mim tentando me acalmar - já estamos chegando ao sítio, não se preocu...

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Sim, é o que você está imaginando, um carro em alta velocidade na pista contrária perdeu o controle e bateu no nosso carro, eu só recebi alguns arranhões mas a minha mãe...o carro bateu no lado dela fazendo o vidro do carro se quebrar em mil pedacinhos e indo ao rosto de mamãe, a roda do carro foi na parte da frente, eu consegui sair do carro, mas minha mãe foi atingida gravemente.

Depois eu tentei entrar no carro novamente e ajudar, mas não ia adiantar eu comecei a gritar e chorar mas em poucos segundos a polícia e a ambulância apareceram e foram socorrer ela, mas infelizmente já era tarde demais a roda atingiu seu rosto e ela praticamente nem respirava mais, eles levaram ela e depois olharam se eu estava bem, eles ligaram para minha família e avisaram sobre o acidente. Nós fomos para o hospital, estavam todos assustados e tristes, afinal, todos sabiam que as chances eram poucas, e acertaram, um médico veio até nós e nos disse sobre a situação de mamãe, ela parou de respirar, seu rosto estava todo deformado...não tinha mais volta.

E a culpa era toda minha.

Voltei a realidade com uma chamada que não consegui atender, na verdade não era só uma eram várias, de papai, da Júlia e da Carol.

Acabo percebendo que demorei muito aqui, talvez mais do que imaginava... olho mais uma vez para o túmulo de mamãe antes de ir e me despeço dela mentalmente.

Eu te amo mamãe.

Continua...

De encontro com o amor[pausada]Onde histórias criam vida. Descubra agora