As orbes se perdiam na janela do carro. Hinata encarava a paisagem como borrões aos seus olhos perolados e os dedos tocavam o vidro dedilhando as gotas que escorriam ao lado de fora. Em sua mente ela contornava o possível caminho que a gota iria percorrer do outro lado.
— Onde eu errei? — Hinata sussurrou, mas não baixo o suficiente para seu primo ouvir aquelas palavras.
Ele sorriu, doce e em cumplicidade ao que acontecia dentro daquele veículo. Neji estava ao seu lado, pegou em sua mão livre e levou aos lábios para beijar. O ato tirou um suspiro dolorido de Hinata que se manteve calada.
— Vai ficar tudo bem — ele prometeu, as íris lilás da genética da família brilhavam na face dele como se aquelas palavras fossem verdadeiras. Mas Hinata custava acreditar naquilo.
Seu pai nem tivera coragem dele mesmo a levar para o Colégio interno. Como um homem, pai de família, poderia ser tão duro e sem sentimentos? Hinata se questionava com pesar essa pergunta conforme sorria para o primo Neji.
Ele era o único que demonstrava qualquer sentimento pela ida de Hinata ao colégio. Neji era, além de seu primo, seu grande amor não correspondido e a bondade que ele exalava por ela só deixava Hinata mais apaixonada ainda.
Querendo observar Neji melhor uma última vez, mesmo Hinata sabendo que nunca se esqueceria da face do primo, ela o encarou profundamente. Quis gravar a face adulta dele, as sobrancelhas grossas e sérias, os lábios finos e sempre comprimidos, como se ele desaprovasse algo. Mas aqueles lábios, em mágica, se contornavam em um lindo sorriso para ela naquele momento. Observou a forma que os longos cabelos estavam presos num coque alto despojado, aqueles mesmos cabelos que ela já trançou várias vezes, sempre pondo mexas rebeldes para trás da orelha.
O coração errou uma batida com a ideia de nunca mais o ver. Ou pior, dele nunca mais querer a ver.
— O que está pensando? — ele perguntou assim que se sentiu observado por ela.
Hinata riu em silêncio.
Queria dizer que pensava nele. Que sua maior preocupação era de nunca mais o ver, de nunca mais o tocar, de nunca ser correspondida.
— Pensando em como vai ser as coisas partir de agora. — mentiu, uma mentira leve e sutil. Hinata diria que mentiras faziam parte do DNA dos Hyuugas, um dom no qual ela não tinha.
O colégio era uma punição, quem sabe até mesmo novos ensinamentos. Hiashi queria que a filha tivesse pulso firme, que honrasse o legado da família Hyuuga. Da tradicional, corrupta e gananciosa segunda família mais poderosa do estado.
Hiashi era dono e herdeiro de uma grande empresa de automobilística que movia o país, transportando materiais, alimentos, construção de transporte público, entre outros. Mas ele não era uma das maiores transportadoras e construtoras de automóveis por fazer sempre o correto. Havia muita coisa escondida debaixo do tapete em que Hiashi pisoteava alegremente.
E para o desgosto de Hiashi ele teve duas filhas. Nenhum herdeiro homem para carregar o seu legado, suor e sangue.
E para a infelicidade de Hinata, a primogênita da família, sofreria primeiro o descaso de seu pai. Quanto mais longe Hinata estivesse, melhor seria a vida de Hiashi.
Logo seria a vez de Hanabi. Mas Hanabi era jovem demais para ser mandada ao um colégio interno. Além da péssima imagem que passaria ao público.
Então voltava a Hinata, ali, sentada no banco caro do carro da empresa de seu pai ao lado de Neji.
Neji era o favorito de seu pai, o filho que Hiashi não teve! O rapaz promissor e comprometido na empresa. Hinata não duvidava que na morte de seu pai ele deixasse tudo nas mãos de Neji.
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Com Todos Os Defeitos
Fanfiction||EM REVISÃO|| ATENÇÃO: Este livro tem linguagem vulgar, drogas lícitas e ilícitas, abuso de autoridade e conteúdo maduro. Caso um desses temas não lhe agrade, por favor, não leia. ATENÇÃO²: Se você estiver lendo essa obra em qualquer outra platafo...