Capítulo Seis

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— Pela milésima vez, Jason, nosso filho não vai se chamar Luke nem Leia. — disse eu. Eu e Jason estávamos numa loja de produtos para bebês, seguindo detalhadamente uma lista de compras que eu tinha feito baseada nas minhas pesquisas sobre filhos, especialmente recém-nascidos. O problema é que Jason não entendia minha organização extrema e contestava todos os itens da lista, além de querer adicionar coisas fúteis e desnecessárias.

Nós tínhamos organizado nossas finanças e, juntando o salário de Jason do seu trabalho como zelador do museu, o que meus pais ofereceram, o dinheiro que eu tinha guardado das minhas mesadas e o que meus avós me davam no natal, teríamos o suficiente para lidar com a chegada de uma criança. E crianças eram bem caras.

— Injusto. — falou Jason, cruzando os braços. Sua postura de indignação rapidamente desapareceu quando ele viu uma toalha de banho com estampa de flores coloridas. — Nosso bebê precisa disso. — disse ele, animado, pegando o objeto. — Podemos até chamá-lo com nome de flor. Narciso ou Tulipa.

— Primeiro, não, não precisamos disso. — falei, tirando gentilmente a toalha da mão dele. — Segundo, eu não gosto de tulipas. Se soubesse o mínimo sobre mim, saberia sobre isso. Eu não vou nomear meu filho com algo que não gosto.

— Vamos nos conhecer. — disse ele, sorrindo. Até que não era uma má ideia. — Qual a sua cor favorita?

— Azul. — dei de ombros, franzindo a testa. Como saber nossas cores favoritas nos aproximaria?

— Vamos levar essa toalha, então. — afirmou Jason, pegando a toalha azul. — O bebê ainda vai precisar se enxugar, certo?

— E se for uma menina? — protestei. Jason soltou uma risada.

— Você é uma menina?

— Sim...

— E você gosta de azul? — a pergunta retórica de Jason me fez arquear uma sobrancelha. Ele estava certo.

— Qual a sua cor favorita?

— Eu não tenho uma. — falou ele, indo até a sessão de cadeirinhas de bebê para colocar no carro. — Acha que vamos precisar de duas para nossos carros?

— O bebê não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo, pode? — retruquei.

— Então por que precisamos de dois berços?

— Berços não são móveis. — expliquei, como se fosse óbvio. — A não ser que você queira desmontar e montar o berço toda vez que ele for dormir na sua casa.

— Faz sentido.

Depois de terminarmos as compras, fomos tomar sorvete enquanto esperávamos a hora do exame. Eu já estava grávida a cerca de três meses, ou seja, já descobriríamos o sexo do bebê. Eu estava bem saboreando aquele sorvete em paz, porém, Jason insistia com algumas perguntas aleatórias como "qual seu filme favorito?".

— Ainda não entendo porque você escolheu sorvete de céu azul. — comentou Jason.

— É uma delícia. — reclamei.

— É nojento. Tomara que nosso filho não puxe a você. — falou ele. Nossa. Nosso filho. Aquilo ainda soava estranho para mim. — Tem uma coisa sobre você que eu sei.

— Ah é? E qual é?

— Eu sei que você gosta de escrever. Por isso está no jornal da escola. Você quer ser jornalista.

— Spencer te disse isso? — indaguei, mordendo o lábio. Seguir a profissão de jornalista sempre foi meu sonho desde que eu era muito pequena. Agora, com o bebê, eu não tinha tanta certeza se poderia realizá-lo.

— Eu só sei. — disse ele, num suspiro.

— E você? O que quer ser?

O loiro me encarou com um sorriso triste nos lábios e se levantou.

— Vamos. Ou vamos nos atrasar.

Enquanto a doutora colocava o gel de ultrassom, eu analisava aquele leve e discreto crescimento na minha barriga, quase pulando de ansiedade. Ela começou o exame fazendo o check-up padrão, verificando se o bebê estava saudável e no tamanho certo.

— Vocês querem saber o gênero? — questionou ela, enfim. Olhei para Jason esboçando um sorriso de orelha a orelha. Ele, que estava tão impaciente, assentiu com a cabeça.

— Sim, por favor! — exclamei. A doutora analisou aquelas imagens do bebê que tão calorosamente preenchiam meu coração.

— Bem, como eu disse na última consulta tinha uma chance maior de ser esse sexo. — dito isso, ela se virou para gente e respirou fundo. Sem que eu percebesse, Jason estava segurando minha mão com força. — Senhor Martell, senhorita Baker, meus parabéns! Vocês terão um lindo e saudável menino!

Eu e Jason nos abraçamos, radiantes. Para mim pouco importava o gênero daquele bebê, mas, de repente, o pensamento de ter um menininho dentro de mim me inundou em felicidade. Teríamos um menininho. Eu e Jason éramos os pais de um menininho.

— Acho que agora podemos começar a conversar seriamente sobre nomes. — disse Jason.

— Nada de Narciso ou Luke.

Passei todo o caminho de volta para casa conversando com a minha barriga. Ou melhor, com o menino dentro da minha barriga. Mal podia esperar para contar para meus pais, April, Chloe e Ben a notícia. Aliás, logo depois de saber que não tinha sido Jason quem contou à Spencer sobre a gravidez, fiz como uma boa repórter faria e investiguei o caso. Acabei descobrindo que Ben contara ao namorado sem querer, e foi ele quem contou às líderes de torcida. Chloe pediu para que elas, inclusive Spencer, guardassem segredo, mas isso não impediu que todos no colégio fizessem especulações e murmurassem pelos corredores com a possibilidade de eu estar grávida. Eu fiquei quase um mês sem falar com Ben, só recentemente tínhamos feito as pazes.

Após contar para meus pais, que transbordaram de felicidade ao saber que era um menino, corri para meu quarto, sendo seguida pelo meu gato, Pesadelo, para ligar e contar para minha irmã.

— Alô? — ela atendeu ao telefone.

— April, é menino! — anunciei, berrando. — Menino!

Tive que afastar o celular do meu ouvido para não ficar surda com os gritos dela.

— O papai finalmente vai ter alguém para jogar videogame com ele. — brincou April, assim que se acalmou. — Vocês já decidiram o nome?

Parei para pensar alguns segundos antes de responder. A situação do nome tinha sido bem complicada, porque ambos tínhamos ideias muito diferentes. Eu queria um nome bonitinho e atual, como Enzo, já Jason insistia que fizéssemos alguma homenagem à alguém como Leonardo da Vinci.

Numa das paredes do meu quarto, eu tinha um quadro com cópias de todas as minhas matérias do jornal da escola. Uma delas falava sobre o nosso antigo professor de artes do colégio e como uma de suas obras fora comprada pelo museu que Jason trabalhava. Infelizmente, ele falecera há três anos. Eu me lembrava de como eles eram muito próximos, principalmente porque a mãe de Jason era casada com ele, inclusive foi um dos motivos pelo qual o dono do museu não hesitou em oferecer um emprego à Jason.

— April, daqui a pouco eu te ligo. — falei, ainda observando aquela reportagem. Peguei meu celular e disquei o número do pai do meu filho. — Alô, Jason?

— Oi, Ariana, está tudo bem? — disse o loiro.

— Acho que eu sei o nome perfeito.

O PAI DO MEU FILHOOnde histórias criam vida. Descubra agora