Vi palavras e números
Círculos, tangentes
Extensos teoremas
Nas costas esguias
De um andarilho de sóis do meio-dia.
Olhou-me entre farrapos:
Números, palavras?
Oh, não senhor, a miséria é que é.
Mas meu muito obrigado
De me pensar a mim um quadro-negro
Pois são apenas chagas nas minhas costas.
Tentei segui-lo. Entrou num morro de moitas.
Entrei. Túnel vazio Dando pro todo que caminhei.
Olhava números fórmulas equações teoremas e aquilo era um gozo, um gelado fogoso, uma vigília-dorso por onde eu sozinho podia ir caminhando sem a fala-ruptura dos outros, logicidade e razão e no entanto a possibilidade da surpresa como se desdobrássemos uma peça de seda, triângulos azuis na superfície fresca e derepente o fosco de umas grades, linhas que podemos separar e recompor em triângulos novamente, sim, isto podíamos, mas onde aquele azul, onde? E tudo recomeça, a paciência desses animais cavando infinitamente um fosso, até que um dia (eu esperava, por que não?) a transparência inunda corpo e coração, corpo e coração de mim, Amós, animal cavando infinitamente um fosso. Na matemática, o velho mundo de catástrofes e sílabas, de imprecisão e dor, se estilhaçava. Não via mais caras cruas retorcendo-se em perguntas, em lágrimas tantas vezes, não via o olhar do outro sobre o meu, que coisa pode ser uns olhos sobre os teus, uns olhos sobre a tua boca. Esperando que espécie de palavra? Que formidáveis crueldades acontecendo a cada dia, os humanos se encontrando e nos bom-dia boa-tarde que segredos, que crimes, que cálice de mentiras principalmente nos boanoite, boa-noite de maridos de amantes, de supostos amigos, boa-noite meu amor me diz Amanda, saciada neste instante, os braços enfim repousados, uma das mãos sobre o meu peito, que esforço para completar aquele ato, que esforço o meu, deboches que arranquei lá de um escuro de mim, Amanda-Libitina entrelaçadas, eu nu nos meus quarenta e oito chupando-lhe o do meio, os pelos molhados, e me vem a certeza do sorriso, sim, estou sorrindo daquele jeito contado por Amanda, vou até o espelho, é isso, um perceptível movimento para a direita, um pequeno vinco desse lado do rosto. E por que sorria eu? Algum gaiato vai citar "um certo sorriso". Daquela que Amanda lê.
Salto sobre o caminho Coaxo.
Um linguajar de coxos
Atravanca os rastros
Que devo perseguir
Para seguir à luz desta poeira.
Andava colado às paredes, esbarrava nos batentes das portas, muitas vezes tropeçava sem motivo algum, havia uma pedra ali? Os tacos do assoalho desnivelados? Não. Também tropeçava nos poemas que mentalmente construía, envesgados haikus surgiam-lhe
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Com Meus Olhos de Cão
RandomEm Com Os Meus Olhos De Cão nos encontramos com uma autora absolutamente madura, orquestrando com vigor todos os domínios técnicos da escrita. Como já se sugeriu, a prosa de Hilda é poética, o que se evidencia em qualquer fragmento do texto, que mis...