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— Anna, fique quieta! — Anna odiava médicos e doutores, e não via por que todo aquele drama em torno de si. Sim, estava com frio, mas estava bem e acordada e não via nenhuma razão para ter que ver um médico. Sua mãe havia ido ver um médico uma vez e não tinha mais voltado para casa, e uma lembrança nublada de Eloise de vestido preto, e sua mãe, os cabelos dourados espalhados e um vestido lindo, parecida com uma princesa de mármore, deitada dormindo em um caixão. Parecia uma princesa, porém os lábios pareciam cera de vela, brancos e sem cor, porém, havia algo de engraçado e mágico em toda a situação do médico em questão ser um centauro – ela se lembrava de ver a figura em um livro da escola – e Lola parecer a todo momento que estava ficando doida. As costas da mão dela já estavam ficando em um feio tom de hematoma da quantidade de beliscões que ela dava ali.

— Fique quieta você, beliscando a mão como se estivesse tendo um pesadelo persistente. — Anna retrucou, de mau humor. Era seu aniversário, e tudo o que não queria era ficar em uma ala hospitalar. A irmã ignorou a má criação – provavelmente por ser seu aniversário – e largou a própria mão, ajeitando mais uma vez o cobertor nos ombros da caçula, e Anna notou que ela parecia nervosa, ao contrário de si, que estava estranhamente calma. O moço que as havia socorrido era rei daquele castelo, e pelo pouco que ela olhou da residência, era muito bonita. O país se chamava Nárnia, e haviam ali pessoas, como elas – ela havia visto uma moça bonita de cabelos castanhos conversando com aquele rei, e cavalariços e criados e senhores, quanto centauros e faunos, dríades e anões e animais que falavam. Anna tinha a impressão de que até mesmo as árvores tinham vida.

— A senhorita — o centauro disse, após ter examinado Anna umas três vezes, a pedido daquele rei, que aparentemente queria-as o mais bem tratadas possível. — Ficará bem. Recomendo que fique aquecida e tome o chá que uma criada levará para seu quarto antes de dormir. — Ele se virou para a irmã, olhando-a bem. — A senhora está em choque, o que dado o quase afogamento de sua irmã e a situação por inteira, não é uma surpresa. Eu recomendo um banho quente para ambas, roupas secas e um bom jantar, seguido de uma noite de sono.

Ambas acharam as recomendações muito sensatas, pois naquele momento, não havia nada no mundo que desejassem do que uma boa cama e comida, porém apenas agradeceram o serviço e ficaram ali em silencio, até que uma moça, aproximadamente da idade de Eloise, chegou a sala, sorrindo e vestida em um traje lindo, que deixou tanto Lola como Anna pensando em princesas e contos de fadas e bailes. Apesar de ser um belo vestido, ele não parecia ser incomodo em parte alguma, sem tecido engomado e tudo em uma simplicidade bela, sem nenhum exagero de bordados, plisses, babados, pregueados, laçarotes, botões, borlas e talismãs. Lhe parecia que as boas roupas lá não eram desconfortáveis como as que usavam, com cintas e tecido engomado e sapatos apertados e botões fechados

— Senhoras, eu sou Serafina Revilian, membra do Conselho do rei. Vossa Majestade pediu para que eu as acompanhasse até seus quartos, para que possam tomar banho e se vestir propriamente. — Ela disse, e Eloise segurou a mão de Anna firme antes de seguir a garota, e após uns três minutos de caminhada – o castelo era imenso – ela ouviu a irmã começar a fazer perguntas sobre o conselho e como era o governo. Ouviu fascinada a história de como o Rei Caspian X havia lutado com o tio, o usurpador Miraz, pelo trono, com ajuda dos reis e rainhas antigos, Pedro, Edmundo, Susana, Lúcia, Sofia e Clarissa. Contou das perdas e das vitórias, e como o Grande Rei Pedro havia lutado em combate singular contra o usurpador Miraz. Como as Rainhas Clarissa e Lúcia haviam feito as árvores voltarem a vida após anos em silencio, com Aslan, e como a batalha fora vitoriosa e o novo rei era justo e bom, e que apesar de todos os problemas que vinham junto de um novo reinado, principalmente um seguido de um reinado ineficiente, ele era sempre gentil com todos, quase nunca se estressando ou gritando.

·  ⋆  ˚ ˚   𝑺𝑬𝑨𝑩𝑶𝑼𝑵𝑫 ✦ ⋆ ..Onde histórias criam vida. Descubra agora