Capítulo três.

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Sai daquela sala e andei o mais rápido que pude para ficar o máximo possível longe dali e daquela mulher horrível e nojenta. Eu não sei de onde vieram aquelas palavras que eu falei para ela, eu nunca fui de criar inimizades nem de sair enfrentando as pessoas cara a cara mesmo que elas estivessem me irritando extremamente. Mas dessa vez foi diferente. Aquela mulher realmente tinha me tirado do sério, ela havia falado de mim como se eu fosse uma burra idiota e tinha olhado para mim como se eu fosse algo nojento, imprestável e insignificante. E como ela sabia sobre a minha família? O meu tio tudo bem ela saber, afinal, todos na cidade pareciam conhecer o Maravilhoso Intelectual Tomas Thompson, mas o que exatamente ela estava querendo dizer quando afirmou que a minha família toda tem histórico com a física? Será que ela conheceu meus outros parentes? Será que ela conheceu minha mãe? Não era de se duvidar, se ela estivesse a muito tempo morando na cidade, ela com certeza conheceria a minha família. Mas o jeito que ela falou deu a entender que ela conhecia diretamente minha família, o que era realmente muito estranho.
E quem era aquele homem da foto que ela segurava com força e amassava? O marido dela, talvez? Mas não faria sentido ela amassar a foto do marido dela simplesmente porque estava "brigando" com uma aluna. E por que será que aquela foto me deu arrepios? O que tinha aquele homem que me deixou com medo? Eram muitas perguntas que não podiam ser respondidas, e com total certeza, eu não voltaria aquela sala para perguntar a ela.
Eu estava caminhando de volta para o laboratório de física quando o sinal bateu para o almoço. Eu não havia reparado quanto tempo havia passado desde a hora em que eu entrei naquela sala horrorosa cheia de flores e poluição nas paredes. Me dirigi junto a aglomeração de alunos que saiam de suas salas ao refeitório esperando do fundo do meu coração que hoje servissem uma comida boa.
Entrei na fila que havia de alunos esperando para pegar sua comida e fiquei esperando minha hora chegar. Quando a mulher da cozinha me falou o que iria ser o almoço eu não pude conter minha alegria: Hambúrguer! Peguei meu hambúrguer, um suco de limão e uma pequena tortinha de limão que havia para a sobremesa e fui procurar algum lugar para sentar.
Aparentemente todos os lugares estavam ocupados e eu não conseguia achar Fred, pelo menos eu acho que ele iria deixar eu sentar em sua mesa. Fui caminhando olhando para todos os lados quando sem querer me bati em uma garota com os cabelos loiros meio ondulados com olhos bem azuis e várias sardas no rosto. Era Sara.
- Ah me desculpe! - Ela se virou direto para ver se não tinha derrubado nada e, felizmente, nada tinha caído dos nossos pratos. - Eu estava trancando a passagem e... Jessica!
- Oi! - Sorri para ela e ela retribuiu o sorriso. - Desculpe, foi minha culpa eu estava distraída.
- Ah não que isso! Acho que nós duas temos culpa! - Ela sorriu mais uma vez. - Estava procurando um lugar?
- É, mas acho que todas as mesas estão ocupadas.
- Não esquenta, vem sentar comigo.
Ela abriu caminho entre as pessoas e me levou para uma mesa vazia, sentamos uma do lado da outra.
- Eu ia mesmo procurar por você depois, a professora de física me mandou lhe entregar algumas atividades que ela fez na aula, você não estava...
- Ah eu estava na sala da Joanna Melgorn. - Ela ficou pasma.
- Você estava na sala da Melgorn? Coitada! Ela é um pesadelo! Todos os alunos do colégio odeiam ela porque ela vive xingando todo mundo, mas parece que os professores não enxergam isso e sempre acabam mandando os alunos para lá... É a treva!
- Você também acha? - Perguntei incrédula. Estava me sentindo muito melhor em saber que mais gente odiava aquela nojenta fútil. - Achei que ela tinha sido horrível só comigo, já estava começando a levar para o lado pessoal...
- Nossa, você não conhece mesmo a Melgorn! Ela inferniza a vida de todos aqui da escola, tenho pena das pessoas que tem que ir toda a semana ver ela para passar pelo um tipo de "relatório", sabe os alunos que estão muito mal no colégio. As pessoas daqui estudam muito mais desde que ela substituiu a Grace, só para não ter que passar um período sofrendo com ela...
Quando ela ia terminar a frase foi interrompida por um garoto alto, moreno, de olhos bem azuis, usava óculos redondos e estava correndo que nem um louco com a sua bandeja do almoço nas mãos.
- SARA! - Ele chegou ofegando na nossa mesa e se sentou. Ele arfava muito e parecia que a qualquer minuto iria cair duro e desmaiado na nossa frente. - Você... Não... Vai... Acreditar!
- Dan, caramba! Respira! O que está acontecendo? - Sara pegou a bandeja dos braços dele bem na hora em que o suco de limão do garoto ia se espatifar no chão. Colocou-a sobre a mesa e fez o garoto se sentar, ele ainda continuava com uma cara de quem iria desmaiar. - Você tem asma, sabe que não pode correr desse jeito!
- Eu sei, eu sei, mas é importante! - Ele tomou um gole gigante do seu suco e o deixou pela metade. - Você não vai acreditar o que eu ouvi nos corredores.
- O que você ouviu? - Pela cara de Sara dava para perceber que ela não sabia com o que se preocupar mais: Com o estado do garoto que ainda arfava e respirava ofegante, ou com o que ele estava prestes a contar para ela.
- Eu estava largando meu livro de estudos sociais no armário quando bateu o sinal para o intervalo e eu escutei a Karin e a Aysha conversando. Elas falaram que Jessica Thompson está no colégio e que chegou com um porshe preto essa manhã, a escola INTEIRA está comentando! - Ele parou para tomar mais um gole do seu suco e Sara lhe lançou um olhar um pouco assustado, mas o garoto não pareceu perceber. - Sara, nós pre...
O olhar dele congelou por trás dos óculos redondos, parecia que ele havia visto uma assombração, mas por algum motivo, ele estava olhando diretamente para mim.
- Dan...? Ahn, essa é Jessica Thompson... Convidei ela para almoçar com a gente - Sara quebrou o silêncio. - Jessica, esse é Daniel Lockhart.
O queixo dele caiu. Agora parecia que ele tinha visto o demônio mesmo em pessoa. O suco de limão que ele estava tomando escorregou de suas mãos, mas, por sorte, Sara conseguiu pegá-lo, novamente, antes que se espalhasse por toda a mesa.
- Ah droga! - O olhar do garoto finalmente se desviara de mim e agora ele havia baixado o olhar, tinha ficado vermelho escarlate. - Me desculpe, eu... Eu... Não sei o que dizer... Droga desculpe! Não queria... Ah que droga, que droga Dan!
- Ele sempre da esse tipo de furo! - Sara riu.
- Sem problemas - Ri também tentando tranquilizá-lo. Entendia o que ele estava sentindo, afinal, se fosse eu no lugar dele já teria saído correndo as pressas e não voltaria nunca mais a olhar para a cara da pessoa. - Eu também vivo dando esse tipo de furo... Mas posso saber por que as pessoas estão tão interessadas em mim? Afinal, o que eu tenho de mais?
- Bom, o seu tio é O cara da cidade, ele é idolatrado por todo mundo e principalmente pelos professores do colégio, por ele ser o maior físico da cidade e tudo o mais - Sara falou tomando o seu suco de limão, Dan ainda estava muito envergonhado para falar. - Acho que deve ser por isso que as pessoas estão querendo conhecer você.
- Parece que as fofocas voam rápido nessa escola, pelo visto eu não vou conseguir passar despercebida por aqui então... - Droga, eu odiava ser o centro das atenções, sempre odiei.
- Mas por que você veio morar com o seu tio? - Dan perguntou, mas corou rapidamente depois que terminou a pergunta. - Ah... Desculpe minha intromissão.
- Ah que isso, não está se intrometendo... Vim morar com o meu tio porque meus pais sofreram um acidente enquanto viajavam para a Europa e não resistiram... Meu tio participou de uma audiência para pegar minha guarda e eu vim morar com ele aqui.
Os dois me encararam com olhar de perplexidade e pena. Sara parecia à beira das lágrimas e Dan parecia que acabara de matar uma pessoa e estava a ponto de deitar no chão e implorar por perdão como uma criancinha. Droga eu odiava fazer as pessoas se sentirem desse jeito.
- Sinto muito - Sussurrou Sara.
- Jessica, desculpe, eu não quis... - Dan começou, mas eu o interrompi.
- Ei parem! Vocês não precisam se sentir mal por isso, já superei - Sorri, e não era um sorriso falso, eu já havia superado tudo isso mesmo. Mas como eles não abriram mais a boca eu resolvi quebrar o silêncio. - Vocês conhecem o Freddie Yonks?
- Freddie Yonks?! - Dan perguntou perplexo. - Você ta brincando? Ele é o capitão do time de futebol americano da escola, o melhor quarterback que nós já tivemos! Ninguém o supera, ganhamos todos os anos graças a ele e ao Josh... Como você o conhece?
- Ele veio me perguntar sobre o porshe do meu tio e nós ficamos conversando até a tal de Joanna Melgorn me chamar para a sala dela.
- A Melgorn chamou você para conversar? Nossa, ela é o demônio em pessoa, todo mundo a odeia!
- É, descobri isso do pior jeito...
O sinal bateu alto em nossos ouvidos anunciando que nós teríamos que voltar para as aulas. Olhei meu caderninho com os horários (eu ainda não havia decorado todas as minhas aulas, afinal, hoje fazia duas semanas que eu havia começado nessa escola, seria impossível decorar tudo só nesse pequeno tempo). Minha aula de agora era história.
Felizmente, Dan estava nessa aula também, nós nos despedimos de Sara e fomos caminhando pelos corredores lotados indo em direção à sala de aula.
- Não sei quem é o nosso professor de história novo - Dan começou quando estávamos passando pelos armários. - O nosso antigo professor ganhou na loteria, se mudou para Londres e virou um dos caras mais ricos do mundo. Eu sei cara sortudo não é?
- Pra caramba!
- Se bem que você não pode reclamar de dinheiro - Ele sorriu para mim.
Entramos na sala de aula e as cadeiras estavam postadas em dupla, eu e Dan ocupamos as mesas da frente. Eu sempre gostei de história, era a única aula que eu sentava na frente do professor, excluindo biologia que era a minha matéria preferida, meu sonho sempre foi ser médica como a minha mãe.
Aos poucos a sala foi enchendo e todos os alunos já estavam esperando o tal desse "novo professor" que ninguém imaginava quem poderia ser, afinal, não existem muitas pessoas em City of the Dalles que possam ser professores de história.
Ouvi um barulho de porta se fechando e me virei e vi um homem alto, loiro, com os olhos azuis cor do céu entrando na sala com uma pequena pasta preta e um notebook prata com o símbolo da Apple embaixo do braço. Ele largou as coisas na mesa e virou para a turma que no momento estava paralisada, principalmente as garotas, por um cara tão novo e tão lindo ser o suposto "novo professor" de história.
- Bom dia turma - Ele sorriu revelando grandes dentes brancos e eu não pude deixar de ouvir os suspiros das garotas a minha volta e o olhar de Dan para mim ao ouvir também. - Meu nove é Alan Maconel, mas podem me chamar de Al ou Mac, vou ser bem sincero: Odeio que me chamem de senhor, me sinto velho!
As garotas soltaram risinhos histéricos, muitas delas até não conseguiam se mexer de tão fixos que estavam os olhares dela naqueles olhos azuis. Eu não podia deixar de admitir que o cara era realmente lindo, mas também não precisava fazer todo aquele escândalo, afinal, ele agora era o nosso professor!
- Enfim, como vocês sabem o antigo professor de vocês teve a incrível sorte de ganhar na loteria, andei até me perguntando quando eu estava vindo para cá porque eu não sou esse cara... - Ele sorriu mais uma vez e mais uma vez ouvi os suspiros. - Bom, eu sou o novo professor de vocês agora. Ah e antes que vocês me perguntem eu sou de Nova York, aliás, fiquei sabendo que temos uma aluna que é de Nova York também.
Congelei na cadeira, sempre tive pânico de ser o centro das atenções e agora então que todos na escola estavam comentando sobre o meu tio e sobre eu ser sobrinha do Tomas Thompson eu gostava muito menos ainda.
- Quem é a Jessica Thompson? - Ele perguntou e foi instantâneo: Todos os alunos que estavam na sala começaram a cochichar e soltar gritinhos ridículos como "Achei que era um boato que ela estava na cidade!" ou "Ai meu santo, preciso me tornar amiga dela!" Eu não entendia o porquê de tudo isso, meu tio não era nenhum astro de Hollywood ou astro do Rock, apesar de ele ser bem bonito para um cara de trinta e sete anos.
Percebi que não ia ter outro jeito a não ser levantar a minha mão e me entregar para toda a turma, já que o Sr. Maconel estava me procurando pela sala inteira.
- Sou eu - Levantei minha mão e senti todos os olhares concentrados em mim. Eu estava a ponto de desmaiar, mas por sorte, minhas bochechas não coraram, ou pelo menos eu não senti corar.
- Ah então é você! - O Sr. Maconel soltou mais um de seus sorrisos de parar as garotas, só que dessa vez estava direcionando a mim. - É um prazer conhece-la, eu gosto bastante do seu tio, sabia? Assisti a uma palestra dele na faculdade, história é só uma das faculdades de seu tio, ele era meu ídolo... Bom, é realmente legal saber que tem mais alguém nesta cidade que sente tanta falta do Central Park como eu! Agora vamos começar a aula porque pelos meus cálculos nós já perdemos muito tempo com as apresentações... Abram o livro na pagina quatorze.
- Professor Al? - Uma garota morena com os cabelos sedosos parecendo que haviam acabado de sair do salão, com os olhos pretos e puxadinhos revelando sua aparência coreana levantou a mão. Ela era muito, muito bonita, e parecia muito patricinha também, usava uma blusa com um decote gigante muito aparente que deixava seu peito siliconado a mostra. Dava para perceber que ela estava se jogando totalmente no Sr. Maconel e ela realmente tinha muita cara de piriguete. - Vamos começar pela história da cidade? Ah e a propósito, sou Michelle Slang.
- Prazer Michelle, sim nós vamos começar com a história da nossa cidade, afinal, muitos nasceram aqui e não conhecem absolutamente nada sobre os antepassados e sobre como se formou esta cidade... Enfim, alguém por acaso sabe o que era isto aqui antes de ser a nossa bonita City of the Dalles?
Ninguém levantou a mão. Todo mundo ficou em um silêncio profundo e constrangedor e eu fiquei com bastante vergonha pelos meus colegas, eu não tinha obrigação de saber, já que eu havia me mudado para cá há quase um mês só.
- Agradeço pela colaboração de vocês! - Ele sorriu novamente e a tal de Michelle abaixou mais o seu decote. - City of the Dalles foi descoberta há muitos e muitos milhares de anos atrás e foi fundada pelo nosso querido Albert Dalles que nos deu o seu sobrenome como o nome da cidade, mas na verdade o que poucos sabem, é que Albert quando chegou nesse pequeno espaço ele já estava sendo habitado. Havia mais gente povoando esta "cidade" e eram chamados de povos estranhos porque naquela época havia muitas coisas de bruxaria e magia negra e as pessoas mais importantes e "normais" achavam isso muito estranho e fora do normal, assim apelidando as pessoas que tinham esses dons de povos estranhos. Os expulsavam das cidades onde moravam, batiam neles achando que assim eles podiam perder os seus dons ou poderes e às vezes até faziam pior, matavam os coitados a pedradas ou batidas, os mandavam para as igrejas com padres exorcistas porque achavam que eram pessoas possuídas. Então esses povos encontraram este espaço de terra e transformarão em uma pequena cidadezinha e vinham aqui se refugiar com um bando de gente como eles e assim não sofriam nenhum tipo de discriminação. Mas isto tudo mudou quando Dalles chegou aqui na cidade, ele era um homem bastante poderoso dono de uma das fazendas mais ricas das cidades próximas e quando chegou aqui resolveu mandar matar todo o povo estranho que nela situavam-se, mas eles imploraram para ele não fazer isso e então Dalles mandou um prazo para eles saírem com seus pertences e filhos um prazo de até três dias e jurou que se houvesse alguém aqui quando este prazo terminasse, seria morto e queimado na fogueira. Todas as pessoas do povoado ficaram apavoradas e começaram a se ajeitar para sair da cidade, mas um feiticeiro não aceitou que eles fossem expulsos de suas próprias terras como se fossem simples mendigos sem casa e sem lugar onde morar, então ele reuniu um bando de outros homens e disse que nesses três dias de prazo ele não iria arrumar suas coisas e sim criar uma magia negra para que no dia em que esta cidade fosse nomeada com o sobrenome de Dalles tudo pegasse fogo e ele morresse queimado como havia jurado para aqueles que não saíssem do povoado. No entanto, nenhuma pessoa ousou se juntar com ele, por medo talvez de perder sua família ou de alguma coisa do plano no dia falhar e eles acabarem sendo mortos do mesmo jeito, mas mesmo assim, o feiticeiro não desistiu e por fim no terceiro e último dia do prazo ele lançou a magia negra sobre Albert e aconteceu que ele visualizou toda a cidade do povoado ser queimada por uma onda enorme de fogo e conseguiu ver o grande fim de Albert, que depois de dedicar a cidade, morreu queimado naquela onda de chamas quentes... Passaram-se muitos anos e a cidade ficou totalmente despovoada, nem sequer um rato tinha coragem de passar por ali. Então finalmente, uns historiadores foram fazer umas pesquisas de arqueologia e acabaram encontrando alguns registros de um dos homens sobreviventes de Albert no qual se lia: "A onda de fogo aproximava-se cada vez mais de nós, e por onde ela passava destruía tudo o que fosse possível destruir. Magia das fortes que faz a pessoa queimar e sofrer de dor antes que as chamas levem sua alma para bem distante, a um lugar que se quer podemos imaginar como é. Um momento que era para ser histórico virar simplesmente em um piscar de olhos a cena mais destruidora e torturadora do século. Poucos conseguiram se salvar, poucos os que não ardiam de dor nas grandes chamas em formas de onda. A cidade depois, vazia ficou, sobrando apenas resquícios de uma data que prometeria ficar marcada na memória de cada pessoa que ali viveu e conseguiu sair viva daquele temporal de desastres. Ali jaz a alma e o corpo de várias pessoas inocentes..." Ok turma agora que deixei vocês empolgados, continuamos na aula que vem!
O Sr. Maconel soltou uma risada que fez as garotas suspirarem e o resto da turma inteira resmungar porque queriam saber o final da história. O sinal tocou e me fez me acordar de um transe. Parecia que eu estava vivendo aquela história, parecia que ela vivia dentro de mim... Esta deve ter sido a melhor aula de história que eu já tive e também uma das únicas que eu consegui prestar totalmente atenção. Parecia também que todos os outros alunos tinham tido o mesmo efeito que eu sobre a aula, tanto é que demoraram para ajeitar as mesas e pegar seus livros, bolsas e mochilas. Quando todos fizeram tipo de uma fila na porta para sair e eu fui logo ao lado de Dan e enquanto as pessoas saiam e eu esperava minha vez e a de Dan chegar, vi Michelle se debruçando na mesa do Sr. Maconel deixando o decote e seus peitos de silicone o mais amostra possível, de propósito.
- Sr. Maconel, quer dizer, Al - Ela fez uma voz sensual e baixou mais o seu decote, mas o Sr. Maconel nem sequer a olhava. - Você comentou sobre povos estranhos, não é? Então, eles realmente existiram? Quer dizer, essa tal coisa de magia e feiticeiros?
- Isso depende muito do ponto de vista de cada um Michelle, e também do que cada um acredita - Ele ainda não a olhava, arrumava a pasta e fazia qualquer outra coisa menos importante, mas não a olhava. - Mas esta é a história que sabemos.
- Na verdade, meu pai disse que essa coisa toda que inventaram de magia é uma grande besteira! Ele disse que na vida real Albert chegou à cidade e havia índios aqui, ou sei lá o que eram! E disse que Albert sofria de alcoolismo e por isso se matou...
- Bom, pelo visto seu pai não conhece muito a história. - Ele falou seco, o que me deu muita vontade de rir.
Michelle olhou para o professor com uma cara de quem não estava acreditando no que tinha acabado de ouvir, girou o cabelo inconformada e saiu às pressas da sala. Quando eu estava prestes a sair também escutei uma voz me chamando pelo meu nome. Uma voz juvenil e conhecida por mim há minutos atrás. Me virei e enxerguei o professor Alan sorrindo com seu sorriso juvenil para mim e seus cabelos louros fazendo ondinhas, seus olhos azuis agora estavam fazendo covinhas por causa do belo sorriso que ele tinha estampado no rosto. Fui até ele.
- Jessica é um nome muito bonito sabia? Minha antiga esposa tinha este nome... Ela era muito parecida com você também, tinha os olhos bem negros e os cabelos como de índia, e a pele era tão branca como a neve... Bom - Ele pigarreou percebendo que eu estava ficando meio sem graça com os comentários dele. - Quero só dizer o quanto fiquei feliz por ter alguém que é da minha origem por aqui, as coisas são tão diferentes de lá que eu fico totalmente bobo, principalmente com o tamanho da cidade... E ah, quero dizer que percebi que você ficou muito entretida com a minha aula estou certo?
- É - Respondi minha voz saindo mais aguda que o normal, eu estava muito envergonhada com a comparação com a antiga esposa dele.
- Sabia... História da cidade é sempre boa, não é mesmo? - Falou, e como se ele tivesse lido minha mente disse novamente: - Mas agora eu vou deixar você ir, se não vai se atrasar para sua próxima aula. Nos vemos na segunda então?
- É, acho que sim.
Então ele sorriu para mim com o seu sorriso juvenil e abanou quando eu sai da sala, o que eu achei bastante estranho. Nenhum professor nunca tinha tido esse comportamento "amigo" comigo.

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