Capítulo cinco.

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- MEU SENHOR AMADO, OBRIGADA! OBRIGADA! - Ouvi alguém gritar quando adentrei o hall de casa. Quando olhei para frente vi Martha correndo em minha direção com um avental de cozinha bordado com cupcakes gritando e agradecendo a todos os santos possíveis e imagináveis. - OBRIGADA! ELA ESTÁ BEM, ELA VOLTOU!
- Martha, que diabos... Está... Acontecendo? - Falei em meio aos abraços sufocantes dela, eu estava a ponto de ter uma parada respiratória.
- O QUE ESTÁ ACONTECENDO? - Ela continuava gritando. - VOCÊ SOME POR UMA HORA E MEIA E ME PERGUNTA O QUE ESTÁ ACONTECENDO?!
- Céus, que gritaria é esta? Algum vendedor de paçoca entrou em minha casa sem a minha permissão? - Meu tio apareceu com seus óculos redondos e seus cabelos desgrenhados a porta e tomou um susto quando me viu provavelmente roxa, por causa dos abraços de Martha. - Jessica!
- OUVI ALGUÉM ABRIR A PORTA E VIM CORRENDO! - Martha continuou gritando, meu santo, por que ela não parava de gritar?
- Gente o que está acontecendo? Qual o problema de vocês?! - Perguntei estupefata com a reação dos dois. - Martha, pare de gritar! Por que você está tão histérica?
- E você ainda pergunta? - Martha finalmente parou de gritar, mas seus dedos ainda estavam pressionados contra o meu braço, trêmulos e suados. - Era para você ter chego há uma hora e meia atrás! Ficamo s preocupados, achamos que alguma coisa havia acontecido com você... Por que não ligou?
- Eu estava na escola! Com os meus amigos! Porque isso tem de ser motivo de tanta preocupação? Tenho dezesseis anos, o que me da o direito de me atrasar um pouco para chegar em casa. - Eu odiava que as pessoas ficassem no meu pé me cobrando as coisas, pedindo satisfações e me controlando. Nunca gostei de ser controlada por ninguém, Martha já estava começando a me tirar do sério, mesmo que eu sentisse um amor de mãe por ela.
- Amigos? - Meu tio tomou partido na conversa. Ele parecia muito calmo, mas eu pude ver em seus olhos que estava preocupado, eu só não entendia o por que... - Quer dizer que fez amigos?
- Fiz, mas parece que não posso nem me atrasar um pouco porque fiquei falando com eles no final da aula...
- Achei isto uma excelente notícia! - Tio Tom simplesmente ignorou minha ultima fala e abriu um harmonioso sorriso. - E Martha, terei que concordar com a nossa pequena Jessica, foi apenas um atrasinho de uma hora e meia! Típico de adolescentes quando estão com os amigos... Você não precisava ter se preocupado tanto assim.
Martha encarou meu tio com um olhar de perplexidade, como se estivesse perguntando "O que você está dizendo?" ou "Ficou louco, ou bateu a cabeça, talvez?". Mas meu tio a lançou um olhar de reprovação que fez com que sua expressão mudasse da água para o vinho, e ela apenas sorriu e disse que ia preparar um lanche bem gostoso para mim.
- Não fique aborrecida com ela - Tio Tom começou quando Martha entrou na cozinha nos deixando totalmente a sós no hall de entrada. - Só está preocupada com você e eu realmente não tiro a razão dela. Você se mudou a menos de um mês para esta cidade pequena e bem, sempre esteve acostumada com cidade grande, também sofreu perdas recentes e para ser sincero, você estava demorando bastante para arrumar amigos... Ela só está com medo de que você não se adapte a essa nova vida e acabe sofrendo.
Ele me olhou através dos seus óculos redondos que ele sempre usava quando estava lendo os seus contos e livros mais antigos que os de William Shakespeare. Seu olhar demonstrava ternura e ao mesmo tempo um pouquinho de preocupação, e ele realmente tinha razão. Quer dizer, eu sinceramente não estava acostumada com essa minha "nova vida", e Martha tinha toda a razão de estar preocupada comigo, afinal, se eu estivesse no lugar dela também me preocuparia comigo. Mas do meu ponto de vista eu acho que estou enfrentando tudo isto muito bem, tirando as minhas dificuldades em física, mas isso não conta porque não tem absolutamente NADA a ver com a perda dos meus pais. Suspirei e fui em direção a escada, mas antes de subir me virei para meu tio novamente.
- Prometo que vou tentar não me aborrecer, palavra de escoteiro! - Ri e ele riu junto comigo. Subi as escadas correndo e fui direto para meu quarto, joguei minha mochila no chão e me joguei de roupa e tudo na cama, nada como tirar uma soneca em uma quinta feira à tarde antes de Martha me chamar para comer algo.

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