Capítulo 3

41 8 2
                                    

Daniel

Depois que me despeço de Laura e Isa no táxi eu volto para encontrar Matheus sentado na calçada.

Como sempre, ele está na defensiva. Matheus é assim desde que o conheço, orgulhoso demais para se desculpar e sempre usando essa máscara, como quem pouco se importa com os tombos que a vida nos dá. 

Na verdade, ele se importa até demais.

Sento-me a seu lado e afrouxou a gravata. 

Matheus continua agindo como se eu fosse um estranho e não o cara que ele chamou de melhor amigo durante toda a vida.

— Nunca pensei que te veria vestido assim, cara, você parece um gogoboy mal encarado.

Matheus me olha ainda mais sério que antes e eu começo a me arrepender da brincadeira, mas então, ele sorri, e eu sorrio também.

Deito-me na calçada e esfrego as mãos no rosto.

Por onde começar?

Matheus foi, por muito tempo, o amigo que eu queria ser—sem más interpretações, por favor—eu sempre o admirei por sua coragem e seu jeito "durão" de encarar a vida. Nada o impressionava. Nada o abalava.

Além disso, Matheus tinha os melhores brinquedos e as melhores ideias, então eu o seguia, fielmente. Era bom saber que em meio a tantos moleques nós dois éramos melhores amigos. 

João Jiló chegou quase um ano depois. 

O chamamos assim porque a primeira vez que o vimos ele estava literalmente devorando um prato de arroz com jilós, o que era muito estranho porque Jiló era comida de adultos! Mas João parecia gostar muito, e também não se zangou quando o chamamos pelo apelido, ele só riu e colocou tantos jilós na boca que não conseguia engolir tudo.

Glória, sua mãe, o repreendeu e ele fez uma careta de desagrado depois que conseguiu fazer aquela meleca toda descer goela abaixo.

Aquele momento foi tudo o que eu e Matheus precisávamos para aprová-lo.

— Afinal de contas, o que você está fazendo aqui? —pergunto.

Ele demora um pouco para me responder, como se temesse me dar a resposta errada.

— Eu estou num trabalho temporário.

Sento-me novamente e o encaro.

Matheus não precisa disso porque seus pais são muito ricos e a vida toda ele foi preparado para cuidar de todo o trabalho do pai.

Isso não faz sentido.

— Por que? Seu pai…

— Não estamos nos falando, já faz um tempo.

Eu não consigo entender como isso aconteceu. Matheus e Murilo sempre foram inseparáveis! 

Matheus foi ensinado desde criança a ser como o pai e o admirava demais. Tudo o que Murilo fazia era o certo e era lei. Matheus não o contrariava nunca.

Murilo, por sua vez, adorava ter um filho, um homem, marrento como ele, valente e disposto a aprender sobre seu trabalho. O herdeiro de seu império.

Murilo Duran é um fazendeiro bem sucedido. Ele herdou uma grande fazenda do pai e fez dela, dez, ou mais — não sei exatamente quantas — investiu no gado de corte e tornou-se um homem muito rico.

Por esses e outros motivos eu logo percebo que a situação é mais delicada do que parece. 

Será que os negócios da família não vão bem?

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: May 06, 2020 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Sob Pétalas e EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora