Daniel
Depois que me despeço de Laura e Isa no táxi eu volto para encontrar Matheus sentado na calçada.
Como sempre, ele está na defensiva. Matheus é assim desde que o conheço, orgulhoso demais para se desculpar e sempre usando essa máscara, como quem pouco se importa com os tombos que a vida nos dá.
Na verdade, ele se importa até demais.
Sento-me a seu lado e afrouxou a gravata.
Matheus continua agindo como se eu fosse um estranho e não o cara que ele chamou de melhor amigo durante toda a vida.
— Nunca pensei que te veria vestido assim, cara, você parece um gogoboy mal encarado.
Matheus me olha ainda mais sério que antes e eu começo a me arrepender da brincadeira, mas então, ele sorri, e eu sorrio também.
Deito-me na calçada e esfrego as mãos no rosto.
Por onde começar?
Matheus foi, por muito tempo, o amigo que eu queria ser—sem más interpretações, por favor—eu sempre o admirei por sua coragem e seu jeito "durão" de encarar a vida. Nada o impressionava. Nada o abalava.
Além disso, Matheus tinha os melhores brinquedos e as melhores ideias, então eu o seguia, fielmente. Era bom saber que em meio a tantos moleques nós dois éramos melhores amigos.
João Jiló chegou quase um ano depois.
O chamamos assim porque a primeira vez que o vimos ele estava literalmente devorando um prato de arroz com jilós, o que era muito estranho porque Jiló era comida de adultos! Mas João parecia gostar muito, e também não se zangou quando o chamamos pelo apelido, ele só riu e colocou tantos jilós na boca que não conseguia engolir tudo.
Glória, sua mãe, o repreendeu e ele fez uma careta de desagrado depois que conseguiu fazer aquela meleca toda descer goela abaixo.
Aquele momento foi tudo o que eu e Matheus precisávamos para aprová-lo.
— Afinal de contas, o que você está fazendo aqui? —pergunto.
Ele demora um pouco para me responder, como se temesse me dar a resposta errada.
— Eu estou num trabalho temporário.
Sento-me novamente e o encaro.
Matheus não precisa disso porque seus pais são muito ricos e a vida toda ele foi preparado para cuidar de todo o trabalho do pai.
Isso não faz sentido.
— Por que? Seu pai…
— Não estamos nos falando, já faz um tempo.
Eu não consigo entender como isso aconteceu. Matheus e Murilo sempre foram inseparáveis!
Matheus foi ensinado desde criança a ser como o pai e o admirava demais. Tudo o que Murilo fazia era o certo e era lei. Matheus não o contrariava nunca.
Murilo, por sua vez, adorava ter um filho, um homem, marrento como ele, valente e disposto a aprender sobre seu trabalho. O herdeiro de seu império.
Murilo Duran é um fazendeiro bem sucedido. Ele herdou uma grande fazenda do pai e fez dela, dez, ou mais — não sei exatamente quantas — investiu no gado de corte e tornou-se um homem muito rico.
Por esses e outros motivos eu logo percebo que a situação é mais delicada do que parece.
Será que os negócios da família não vão bem?
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Sob Pétalas e Estrelas
Romance***APENAS DEGUSTAÇÃO*** O livro conta a história de Laura, Matheus, Isabela, Daniel e João, amigos de infância que foram separados por uma tragédia na adolescência e agora precisam retornar ao ponto para que juntos possam, finalmente, superar. A pri...