"Meu nome é Luan, tenho 18 anos e moro em Belém do Pará".
Respondo. Mas o único sinal que vejo no aplicativo de amizade é o ícone da mensagem visualizada há meia hora atrás. E nada. O sabor da goma de mascar já está no inferno e ele não responde. Olho para o despertador do meu lado. Trinta e um minuto. Nada. Nem um sinal.
Jogo meu celular para o outro lado da cama e desisto. Tony, meu cachorro de estimação me olha como se entendesse o motivo de eu estar há um tempo olhando furtivamente para a tela do aparelho.
— É amigão, não foi dessa vez.
Não foi dessa vez que tento arranjar um namorado. Não foi dessa vez que tento entrar em um bom relacionamento, já que os meus antigos parceiros só queriam cama e bebidas alcoólicas. Tudo bem, as duas coisas encaixam perfeitamente bem no meu corpo, mas não só de pão vive o homem.
Era o caso de Rafael. Ele só queria sexo e brincar com meus sentimentos, mas como todo romance ruim, terminamos. Ele era uma pessoa muito bonita, mas seu caráter era duvidoso. Muito nauseante, na verdade. Mais a bomba passou e estou recuperado.
Marcos. Marcos era um garoto muito bonito também, tímido, amoroso, super amigo também. Mas como todo romance bom, terminamos. Ele, infelizmente, teve que ir para a grande São Paulo terminar seus estudos. Foi uma luta para me acostumar com essa ideia de acordar e não ver uma mensagem de bom dia no meu iPhone. Sim, Marcos era um cavalheiro. Mas teve que ir embora e deixou meu coração em pedaços. Fiz até uma música para ele. Na verdade, a música era pro meu sentimento que estava escuro e frio quando ele se foi. Não o culpo, desejo tudo de bom pra ele, mas se ele não fosse embora, eu não estava aqui deitado procurando pessoas para namorar no Facebook. Se ele não tivesse ido embora eu não tinha conhecido o Rafael. Mas a vida é assim: uma hora ela te quebra, na outra também, na outra não, na outra também e na outra também e assim sucessivamente.
Já tentei tirar minha vida várias vezes por causa desse tal amor verdadeiro. Estado de nostalgia geral. Mas passou. E aqui estou eu. Me preparando para mais um ano. Na verdade, para mais quatro anos de estudos intensos em uma nova faculdade. Adivinha aonde? Em São Paulo. Sim. A cidade em que deixei meu coração verdadeiro ir morar. Marcos. E estou em busca dele. Nossa, se meus pais soubesse o verdadeiro motivo da minha empolgação para conhecer essa cidade não me deixariam mais respirar.
— Pai, por favor, a USP é umas das maiores universidades do país! Se eu passei nessa prova é porque eu mereço ir. Serei um bom menino, prometo.
Não foi fácil convencer meus pais a me deixar morar sozinho e sem nenhum parente nessa grande cidade. Mas a ideia de me formar pela USP deixou meus pais muito alegres, o que foi bom. Eu também estou muito feliz, claro, vou me formar em arquitetura, e darei um bom futuro para eles. Sempre conheci o curso de arquitetura, desde meu ensino médio, o que abriu minha mente para um futuro promissor e brilhante.
A parte ruim de tudo isso é que deixarei meus amigos para trás. Minha família. Meu cachorro. E minha loja de doces preferida. Mas ir a outra cidade não será em vão. Não mesmo. Apesar de gostar de Belém, tem muitos pontos negativos que gostaria de esquecer, como o fato mencionado há pouco e o sol, que era intenso e escaldante. Mesmo morando desde a minha infância em Belém, eu nunca havia me acostumado com o calor, mesmo quando a galera da rua me chamava pra jogar futebol. E ir pra uma cidade relativamente fria, seria muito bom pra mim.
Então realmente existe outros fatos bons que me levariam a São Paulo além de Marcos.
— Luan, sua namorada está lá fora e quer falar com você. - mamãe aparece na porta.
Dona Núbia se parece muito comigo! Olhos castanhos, pele branca, feição... Só não temos a cor do cabelo igual porque o meu é preto e o dela é louro. Paciente e ao mesmo tempo estressante com seus mínimos detalhes de mãe. Dualismo amoroso.
Mamãe ultimamente está muito contente por meus atos, digamos, bons. Apresentei aos meus pais minha 'namorada' que no caso é Jéssika, minha melhor amiga. Foi bom eles ouvirem da minha boca que estava namorando uma garota, já que eles tinham quase certeza que eu era gay. Não que eles não estejam errados, já que eu era mesmo homossexual, mas foi um alivio pra eles e pra mim. Jéssika apoiou essa ideia e caiu nesse jogo comigo pra enganar meus pais.
Jéssika. Um ponto positivo de Belém que terei que deixar pra trás. Infelizmente. Nunca passou pela minha cabeça essa ideia de deixar minha melhor amiga para trás.
— Fala pra ela que eu já estou descendo. - Falo entredentes.
— Tudo bem.
Era hora de encarar Jéssika pela ultima vez, já que eu diária viajar. amanhã para São Paulo.
— Mãe! - Grito - Manda ela entrar aqui.
Mamãe aparece na porta.
— Luan, nós estamos aqui lembra? Tem pelos menos camisi...
— Mãe! Eu estou chamando ela pra conversar e não pra... Ah só chama ela!
Minha mãe é a única pessoa que consegue me deixar vermelho de vergonha de uma segundo para outro.
— Tudo bem. - Ela ri.
Desde o dia em que eu e Jéssika fizemos a noite do pijama a sós, minha mãe pensa que temos uma vida sexual ativa como todo casal de namorados jovens tem. O detalhe era que eu era gay, ela tem um namorado verdadeiro que se chama Rick que também é meu amigo e nos apoiou na ideia da namorada falsa e os barulhos que estávamos fazendo no quarto eram do verdade e desafio, jogo no qual brincávamos de tarde um soco na costa de quem não quisesse responder perguntas sobre sexo. Era difícil isso acontecer, já que respondíamos todas.
— Como estava só de cueca, vesti um short e uma camiseta preta e apenas penteei meu cabelo, que deixava minha franja cair na testa.
— " Toc- Toc"
A voz meiga e chorosa de Jéssika entrando no quarto quase me fez chorar.
— Ai amigo... - Ela entra e me abraça.
Tentei chorar mas meus sentimentos estão tao misturados que não consigo. Fechei a porta para manmae não ouvir nossa conversar.
— Calma Jéssika, eu vou estar sempre...
— Shiii, não importa. Sentirei saudades... - Ela vai ate minha janela e ilha para o dia chuvoso de Belém.
— Eu também... Mas eu vou...
— Não estou me referindo a você. Estou me referindo ao céu de Belém.
—Não entendi.
Ela tira um papel do bolso e o mostra sorridente pra mim.
— Passagem para São Paulo. Prepare o resto de sua mala, vou com você.
OK, isso me pegou de surpresa, pois Jéssika não sabe que estou indo pra São Paulo por causa de Marcos.
O motivo era outro.
Ela odiava Marcos.
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O céu está me olhando
RomanceA história conta a vida conturbada de Luan. Um jovem universitário que está iniciando seu curso em uma faculdade longe de sua querida cidade Belém do Pará. Ao chegar em São Paulo, SP, ele se envolve com seu parceiro de quarto Fernando, entrando em u...