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“Só de vez em quando é que você encontra alguém com uma presença e eletricidade que combina com a tua”

 – Charles Bukowski

O ser humano é insatisfeito. Ele acredita ser a porra de um gênio que sabe de tudo, mas, ao mesmo tempo, incapaz de satisfazer-se com o que tem ou, pior, com o que é.

Para nós, seres humanos, produzir alguma coisa que transmite seu próprio mérito não é o bastante, nem mesmo quando alcançamos nossos objetivos ou encontramos algo que somos realmente bons; precisamos sempre ser algo a mais, alguma coisa além do que já somos. Mas, quando nos deparamos com nosso talento, isso também não torna-se suficiente para estarmos satisfeitos ou, até mesmo, felizes.

Todos somos presenteados com algo, algum de nós, tem a sorte de nascer e desenvolver talento para arte, para escrita ou para matemática e, o certo seria agradecermos por isso – independente de quem seja, Deus, Deuses, a si mesmo. Mas não, nós insistimos em ficar putos e menosprezar nossas pequenas e grandes conquistas simplesmente por não estarmos na capa da Rolling Stone ou não ter uma página em nossa homenagem no Wikipédia. 

E era disso que tratava-se minha vida agora. Eu estava presa nesse ciclo, correndo incansavelmente numa rodinha de hamster que não parava em lugar nenhum, obrigando-me a voltar ao início: eu não era uma boa escritora.

Desisti de continuar a escrita, fazendo-me uma nota mental para acrescentar a desistência na lista de fracassos; fracassos da Cecília, mais de cem páginas antes dos trinta.

Olhei ao redor, apoiando o cotovelo sobre a mesa e apanhando a xícara de café com a mão livre. A cafeteria estava praticamente vazia, levando em consideração que Londres é um tanto movimentada nas segundas-feiras, percebi que o bairro onde agora eu morava levava um ritmo mais calmo. E sim, era tudo isso que eu precisava, afinal, a saga do wifi estendeu-se para hoje e, no misto de ansiedade e insônia que Cecília vive, um café barato e uma internet inclusa eram tudo que eu precisava.

 Tornei a olhar para a tela do notebook e, eu não sei quanto tempo se passou até eu perceber que o café estava quase no fim.

– Cecília Elizabeth Singer é um nome bem excitante de pronunciar, sabia disso? – Harry estava parado em frente à minha mesa, segurando um copo de café para viagem. Ele usava uma camisa preta com os botões abertos e, por Deus, um sorriso de tirar o folego – Elizabeth. – Ele repetiu, com a voz mais grave, deixando uma rouquidão escapar do fundo da garganta.

Eu realmente havia esquecido o quão bonito ele era.

– A minha mãe deu seu melhor para encontrar um nome que combinasse comigo – Ele pareceu divertir-se com minha resposta, entendendo que sim, eu me chamei de excitante. – Mas como você sabe disso?

– Olhei seu nome no contrato que assinou para o apartamento do Bob – Harry deu de ombros, ignorando qualquer modéstia ao sentar-se na cadeira vazia de frente para mim. Deixei minhas sobrancelhas arqueadas, olhando-o indignada.

– Você só pode estar brincando, está obcecado por mim ou o que? – Abaixei a tela do notebook, afim de olha-lo melhor. Harry leva o copo em mãos até sua boca, dando um gole demorado no café. Sua expressão era indiferente, como se não se importasse com as palavras que direcionou a mim. – Não me diga que também está me seguindo.

– Oh, por favor – Harry apoiou o copo, aproximando-se mais da mesa com o corpo – Você não está vivendo um romance da Sthephenie Meyer. Isso não é Crepúsculo, Bella – Sua voz esbanja ironia e arrogância, enquanto seu olhar encarava-me com profundidade, era quase impossível não perder alguns segundos no verde de sua íris.

Cecília - H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora