28 Chances

14 de fevereiro

Alguns clientes estavam no estabelecimento então eu sentei e esperei que a maioria saísse para que pudesse pedir minhas rosquinhas e uns minutos de conversa.

- Cansada? – indaguei conhecendo bem aquela postura.

- Muito. Ainda bem que amanhã é sexta-feira.

- Você vai se acostumar.

- Eu só preciso começar a dormir mais cedo – sorriu com os olhos meio caídos – Eu queria te pedir uma coisa ontem, mas você não veio...

- Desculpe, eu estava ocupado. Mas pode pedir agora, se eu ainda puder ajudar.

- Acho que pode – ela desviou seu olhar de mim para suas mãos – Bom ..., algum tempo atrás eu implorei pra que não falasse com o Gustavo sobre mim, se é que me entende – Júlia estava com as bochechas coradas, claramente constrangida. Mas ela nunca fica assim quando fala sobre seus sentimentos o que me faz automaticamente supor suas próximas palavras e o que deseja que eu faça – No entanto, depois de quase seis meses, acho que preciso saber de alguma coisa. Saber se é uma completa perda de tempo continuar com isso... Não acha?

- Acho! Realmente, isso não é algo que se possa esconder para sempre. Se continuar assim, 'oportunidades' – fiz sinal de aspas – podem passar e quando você se der conta, pode ser tarde demais.

- Então fala com ele – segurou minhas mãos ao fazer o pedido – Não estou pedindo que revele meus sentimentos, pois isso é algo que deve ser feito por mim, mas sim, que tente descobrir algo mínimo pelo qual eu possa lutar.

- É claro, Ju – agora eu desviava o olhar pela dificuldade em ter que proferir essa resposta – Os amigos são pra isso.

- Obrigada, Mi! – exclamou realmente grata – Eu não sei o que faria sem você.

- Amigos são pra essas coisas – falei com sinceridade – Só peço um pouco de paciência, ok? Preciso esperar o momento certo para que a conversa pareça natural e ele não desconfie de nada.

- Ok. Quando achar melhor.

Saí o mais rápido que pude, antes que meu sorriso simpático se transformasse em frustração.

Me perguntei como conseguiria fazer aquilo. E se ele corresponder ao amor dela? Como vou reagir? Certamente, eu não tenho o direito de interferir na oportunidade de serem felizes duas pessoas com quem tanto me importo.

- MIGUEL!!! – a mulher à minha frente esbravejou.

- E precisa gritar, mãe?

- Se eu te chamo quatro vezes e não me escuta, eu preciso sim!

- Vou prestar mais atenção.

- É bom mesmo. Venha, vamos almoçar.

Me deparei com uma tigela em cima da mesa com um peixe cozido ao leite de coco dentro, do jeitinho que eu gosto e que só a dona Laura sabe fazer tão bem. Mas dessa vez eu não comemorei ou me desfiz em elogios como de costume e, talvez por isso, aquela mulher que me conhece tão bem me olhava de um jeito desconfiado, sabendo que algo não estava certo. Então resolvi desembuchar antes que ela perguntasse.

- O pai me ligou...

- E...?

- Sugeriu que eu fosse morar com ele.

- E você aceitou? – indagou fingindo não se abalar com a notícia.

- Ainda não... Mas, hoje estou mais certo de que irei – admiti com pesar

Não obtive resposta de sua parte.

- Por favor, entenda. Já estou com você há 14 anos – apontei – Ele também tem direito, sem contar que não vejo meus avós faz dois anos.

- Eu entendo perfeitamente, Miguel. Não se preocupe comigo. Faça como achar melhor – disse, retirando-se da mesa.

- Mãe, me desculpe – ela só meneou a cabeça.

Ter aquela conversa foi de partir o coração. Eu não havia parado pra pensar no quanto me afetava ter que deixa-la. E no quanto poderia ser difícil para ela. A última coisa que eu quero é fazê-la sofrer.

Ela sim, parece ser um motivo real para me fazer ficar.  

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E agora? Será se o Miguel vai  ficar pela mãe dele? Ou será se vai continuar na expectativa pela menina Ju e ficar por ela?
Me contem o que estão achando e o que pensam que está por vir😉
(Não esquece a estrela 🌟)

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