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ANTES DE TI

Eu já devo ter comentado que nasci, cresci e ainda moro na mesma casa. Benjamin chegou na vizinhança 3 anos depois, como é apenas um ano mais velho que eu, criamos nossos laços de amizade rapidamente.

Passando praticamente boa parte dos dias com ele, comecei a notar que recebíamos "ordens" diferentes. Falavam para Ben descruzar as pernas e para mim, diziam para cruza-las. Éramos crianças, e assim não entediamos o por que de passarem o tempo todo repetindo esses comandos para nós.

Com o passar dos anos, começamos a entender o propósito daquelas palavras cotidianas. Ben era afeminado demais e eu amasculinada demais, e isso infelizmente não agradava nossos pais.

Com a separação de meus pais e logo após a morte de meu avô, vovó veio morar temporariamente conosco. Mais tardar ela alugou uma casa ao lado da nossa.

Vovó é um anjo da guarda, tanto meu quanto de Ben. Quando nossas mães comentavam com ela sobre sermos crianças demais e não sabermos o que pensar em relação a nossa sexualidade, vovó simplesmente suspirava, sorria e dizia calmamente: "Ora meninas, não importa o que eles pensam e sim o que eles sentem aqui" e assim apontava para o coração.

Vovó nos apoiava e ainda apoia até hoje. Com vovó nos protegendo dos males da vizinhança, nos quintais das nossas casas podiamos ser nós mesmos. Brincávamos de bola, de boneca, de amarelinha, de desfile e de catar joaninhas.

Quando ingressamos no colégio, começou o verdadeiro desafio. Os três primeiros anos foram tranquilos, como sempre fomos colegas eventualmente, passávamos o tempo todo juntos. Ao mudarmos de escola para cursar o quarto ano, Ben começou a ser motivo de piadas.

Eu tentava defende-lo de tudo e de todos que podiam lhe fazer mal. Até que no quinto ano, um grupo de meninos bobos e metidos a besta começaram a fazer chacota dele. Bom, um deles quebrou o braço e o resto de nós foi suspenso. Naquela escola, ninguém mais machucou ou ofendeu Ben.

No sétimo ano, o assunto badalado entre nossos colegas de classe era o primeiro beijo de cada um. Todos contavam suas histórias e riam juntos. Ben e eu nunca tínhamos beijado ninguém, até o final de tarde daquele dia. Após termos nos beijado, entendemos que 1 ou não gostávamos de beijar o sexo oposto ou 2 simplesmente não gostávamos de beijar.

E é claro que queríamos tirar essa dúvida a limpo. Beijei a primeira menina 3 meses depois e, para mim ficou claro que a partir daquele momento só beijaria bocas femininas. Ben teve seu primeiro beijo com o mesmo sexo 1 ano depois, e bom, está junto dele até hoje. Realmente, Ben achou sua metade.

Quando Ben me incentivou à contar para minha mãe, ele me explicou que a mãe do mesmo o aceitou sem qualquer problemas. Ben disse que achava que vovó as estava preparando para o dia que nos assumiriamos para elas. Bom, também comecei a achar, pois quando parei para conversar com mamãe, ela disse que estava tudo bem e que me amava da mesma forma.

Vovó é nosso anjo protetor.

Claro que contei para meu pai, ele não se apegou por tanto tempo ao fato de sua filha gostar de meninas, mas ele também me aceitou. Mais um ponto para minha vó, descobri um tempo depois que parecia que vovó também o tinha preparado.

Até o nono ano tudo fluía como um riacho, uma cascata clara, leve e bonita. Ben e eu estávamos ótimos.

Novamente mudamos de escola. Ensino médio nos recebeu de braços abertos e logo após nos esmagou com tantas matérias e responsabilidades futuras.

No mais foi tranquilo, mas algo passou a me incomodar. Em uma das minhas conversar com Ben, comentei que não me sentia tão bem em relação ao meu corpo, especialmente com meus cabelos e seios. Em um momento qualquer de um dia qualquer, comentei com Ben que gostaria de trocar de corpo com ele, o mesmo riu e disse que adoraria.

TERCEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO E A CHEGADA ELEGANTE DA MINHA SALVAÇÃO...

To you, for me.Onde histórias criam vida. Descubra agora