Obsidiana 4

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O dia em que instalaram a minha internet foi melhor do que um cara gato olhar para a minha bunda e pedir meu telefone. Aproveitei que era quarta para postar a tag "Waiting on Wednesday" no blog. Escolhi divulgar um romance juvenil sobre um cara gato com um toque de perigo — combinação que sempre dá certo —, pedi desculpas pelo sumiço, respondi alguns comentários e fuxiquei outros blogs de que eu gosto. Foi como voltar para casa.

— Lisa? — gritou mamãe lá de baixo. — Sua amiga Jisoo está aqui.

— Tô indo — berrei de volta e fechei meu notebook.

Desci as escadas pulando e saí com a Jisoo para irmos até a tal loja de material de construção, que não era nem um pouco perto do FOO LAND, ao contrário do que o Jungkook tinha dito. Eles vendiam tudo que era preciso para consertar o canteiro medonho em frente de casa.

De volta, cada uma de nós segurou um lado da sacola para tirá-la do bagageiro. Eram todas ridiculamente pesadas e, quando finalmente conseguimos retirar tudo do carro, já estávamos suando em bicas.

— Quer beber alguma coisa antes de carregarmos as coisas até o canteiro? — Ofereci. Meus braços já estavam doloridos.

Ela esfregou as mãos para tirar a sujeira e assentiu.

— Estou precisando malhar. Carregar peso é um saco.

Entramos em casa e pegamos a jarra de chá gelado.

— Me lembra de procurar uma academia — brinquei, esfregando os braços fracos.

Jisoo riu e enrolou os cabelos suados para afastá-los do pescoço. Mesmo cansada e toda vermelha, ela continuava linda. Eu provavelmente parecia uma serial killer. Pelo menos agora a gente tinha certeza de que eu era fraca demais para causar qualquer dano permanente.

— Hum, só em Ketterman. Academia aqui é arrastar os latões de lixo para o final da rua ou carregar fardos de feno.

Procurei um elástico de cabelo para ela, fazendo piadas sobre a caipirice da minha nova vida de cidade pequena. Não ficamos dentro de casa por mais de dez minutos, mas, quando saímos de novo, todos os sacos de terra e adubo estavam encostados perto da varanda.

Olhei com surpresa para ela.

— Como é que isso veio parar aqui?

Ajoelhando no jardim, ela começou a arrancar o mato do canteiro.

— Deve ter sido o meu irmão.

— Jungkook?

Ela fez que sim com a cabeça.

— Ele gosta de bancar o herói.

— Herói — resmunguei. Até parece. Era mais fácil acreditar que as sacolas tinham levitado por conta própria.

Jisoo e eu atacamos as ervas daninhas com mais energia do que pensávamos ter. Sempre achei que arrancar o mato pela raiz era uma ótima maneira de esfriar a cabeça e, se os movimentos bruscos da Jisoo eram indicação de alguma coisa, ela parecia ter muito o que espairecer. Com um irmão daqueles, não era nenhuma surpresa.

Tempos depois, minha vizinha observou as unhas lascadas.

— E lá se foi meu esmalte. 

Sorri.

— Eu disse que você devia usar luva.

— Mas você não usa — reparou ela.

Olhei para minhas próprias mãos imundas, e me encolhi. Minhas unhas estavam sempre lascadas.

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⏰ Última atualização: May 07, 2020 ⏰

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Lux - LizkookOnde histórias criam vida. Descubra agora