Obsidiana 2

23 4 5
                                    

Levei a viagem inteira até Petersburg para me acalmar. Ainda assim, sentia uma mistura de raiva e humilhação se retorcendo dentro de mim. Que diabos tinha de errado com ele? Pensei que as pessoas eram mais legais nas cidades menores, e não que agissem como filhos do capeta. 

Achei a avenida principal com facilidade, até porque parecia ser a única por ali. Logo notei a biblioteca Grant County em Mount View e me lembrei de que precisava entrar de sócia. As opções de mercado para fazer compras eram bastante limitadas. O Foodland, que atualmente se chamava FOO LAND, graças a um "D" que faltava no letreiro, era bem no lugar onde o babaca falara que seria.

A vitrine da frente estampava um cartaz de uma garota desaparecida, mais ou menos da minha idade, com cabelos longos e escuros e olhos alegres. A informação logo abaixo dizia que tinha sido vista pela última vez havia mais de um ano. Uma recompensa era oferecida, mas, depois de tanto tempo, duvidava que alguém soubesse de alguma coisa que pudesse fazer valer o dinheiro. Triste com essa percepção, entrei na loja.

Eu era ágil nas compras, não perdia tempo passeando pelos corredores. Comecei a pôr as coisas no carrinho e me dei conta de que estava comprando mais do que havia imaginado, já que em casa tínhamos só o básico. Logo o carrinho estaria lotado.

— Lisa?

Distraída, levei um susto ao ouvir a suave voz feminina me chamando. Deixei cair no chão uma caixa de ovos.

— Droga.

— Ah, desculpa! Eu te assustei. Sempre faço isso.

— Vi braços bronzeados se esticarem para catar a caixa do chão e botar de volta na prateleira. Ela pegou outra e me ofereceu. Suas mãos eram delicadas, de dedos compridos. — Estes não estão quebrados.

Levantei os olhos do massacre dos ovos — gemas amarelas brilhantes por toda parte no chão de linóleo — e fiquei paralisada por um instante. Minha primeira impressão sobre a garota foi que era bonita demais para estar ali de pé no supermercado com uma caixa de ovos nas mãos.

Ela se destacava como um girassol em um campo de trigo.

Qualquer outra pessoa seria considerada sem-graça em comparação. Os cabelos dela eram ondulados e mais longos que os meus — batiam quase na cintura. Era alta, magra, e seus traços quase perfeitos tinham uma adorável inocência. Me lembrava alguém, especialmente aqueles incríveis olhos castanhos. Rangi os dentes. Será?

Ela sorriu.

— Sou a irmã do Jungkook. Meu nome é Jisoo. — Botou a caixa de ovos intacta no meu carrinho e sorriu.

— Ovos novos!

— Jungkook?

Jisoo apontou para a bolsa rosa-choque que estava na parte da frente do carrinho dela. Tinha um celular em cima.

— Você falou com ele há uma meia hora. Foi lá em casa... pedir informação, não foi?

Então o escroto tinha um nome. Jungkook — combinava bem, quase demônio. Óbvio que a irmã seria tão atraente quanto ele. Por que não? Bem-vinda a West Virginia, terra dos top models perdidos. Comecei a duvidar que um dia me encaixaria ali.

— Desculpa, eu não esperava que alguém chamasse meu nome. — Fiz uma pausa. — Ele ligou pra você?

— Ã-hã. — Tirou o carrinho do caminho de uma criança que corria desgovernadamente pelo corredor estreito. — Então, eu vi quando a mudança chegou, e já tava louca para conhecer vocês. Daí, quando ele me disse que você tinha ido lá em casa, fiquei tão animada que vim correndo pra cá. Ele me explicou como você era.

Lux - LizkookOnde histórias criam vida. Descubra agora