Horror

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"Tarde demais, minha hora chegou

Envia arrepios na minha espinha

O corpo está doendo o tempo todo

Adeus pessoal, eu tenho que ir

Tenho que deixar todos vocês para trás e encarar a verdade"

Bohemian Rhapsody- Queen.

Meu desejo é abrir os olhos para sumir do vazio que minha mente se tornou

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Meu desejo é abrir os olhos para sumir do vazio que minha mente se tornou....

Mas minhas pálpebras pesam tanto que mais parecem terem sido revestidas de chumbo e demais materiais tão pesados quanto e indiscutivelmente nocivos. Não descarto essa possibilidade pois ao mesmo tempo que estão pesadas, sinto como se meus dutos lacrimais explodissem de tão banhada que minha face provavelmente estaria.

Talvez não fossem lágrimas.

Com muito esforço, creio que levei mais tempo do que uma criança recém nascida para abrir os olhos na euforia de contemplar o mundo e usufruir dos benefícios da visão pela primeira vez.

Mal sabia eu que também estava sendo a primeira.

A primeira vez que abri meus olhos cansados e meu campo de visão era completamente vermelho.

Devia ter seguido meu olfato que percebeu algo de estranho logo de início, sangue era tudo o que havia em meu corpo.

Desde os olhos escorrendo até os pés descalços, sujos e com vários hematomas.

O estranho não era só isso, mas bastou olhar minha cabeça se inclinar para o lado que caiu a ficha de onde eu estava apesar de não ter nenhum resquício de lembrança de quando e como eu cheguei aqui.

Com esforço me levanto para averiguar meu estado, estou presa numa caixa de aço que mais se parece com um elevador simples e só se difere de um real pela falta de botões ao lado.

Pelo reflexo embaçado consigo ver que meus cabelos acima do ombro se embaraçam e meu rosto está tão cheio de fuligem quanto minha blusa gasta e meu jeans rasgado.

Não sou nem nunca fui claustrofóbica, mas estar presa em uma caixa não me parece uma boa opção. Meus braços finos que mais parecem varetas vão passando pelos cantos até que vejo um lado daquela caixa se abrir.

Estranhei a princípio e evidentemente não pude conter um reflexo corporal de susto. Silenciei um possível grito pois se tivesse uma mente perturbada e possivelmente cruel nas redondezas este soaria como uma estridente sirene. Até porque não tentei pronunciar uma palavra desde que despertei, e pra falar a verdade temo que minhas cordas vocais não estejam correspondendo aos meus desejos, futuramente.

Temi que aquela abertura me levasse a algo pior.

Mas eu não iria saber se continuasse aqui esperando, tentei limpar a borda dos meus olhos deixando minha pele branca totalmente manchada como uma sobrevivente desinteressante de um massacre sangrento.

Segui.

Não por coragem ou medo, só continuei porque honestamente este lugar não é tão horripilante se for parar pra pensar. Se eu me lembrasse de algo pelo menos.....

O que encontrei do outro lado foi a queda.

Sempre imaginei como seria se algum dia conseguisse flutuar mas não tinha nem sequer conhecimento de que algum dia flutuaria por um tempo maior do que o esperado. O vento agitava tão rapidamente meu corpo inteiro, arrepiando-o instantaneamente, como numa ironia até parecia que o tempo passava devagar.

Esperei, esperei pelo chão e pelo destino final eminente mas este parecia ainda mais distante quanto.

Então fui carregada, pelo vento ou alguma outra força externa que se encontra num patamar onde minha mente e corpo cansados não são capazes de compreender.

Finalmente encontrei o chão, e fui jogada bruscamente contra ele mas não tão forte o suficiente para me causar danos fatais. Era como se eu estivesse anestesiada e não sentisse mais as coisas como um humano comum.

Desengonçadamente levantei. Não era mais metal ou chão duro. Era um quarto branco cuja única sujeira naquele cômodo era eu.

Mas dessa vez não estava sozinha, meus olhos agora livres do sangue conseguiram enxergar a sombra de três púlpitos ali que seus donos obviamente esperavam minha chegada.

Os vi, eram robustos e usavam máscaras nos rostos. Estranhei o disfarce mas só então consegui perceber que não eram máscaras e sim seus próprios rostos.
Os olhos eram num formato felino, os narizes como focinho de porco e não possuíam bocas. Eram palitos e tinham vestes que pareciam surgir a partir de sua pele, suas cabeças tinham formatos triangulares.

Eles começaram a bater os martelos de júri e suas falas silenciosas eram capazes de perfurar minha mente tão forte quanto nenhum som ensurdecedor conseguiria.

Sussuravam, sussuravam culpa.

Eu era culpada.

Queria pedir pra pararem, estava agonizante e meu sistema de anestesia parece que nunca havia existido e meu corpo não tinha outra reação a não ser curvar meus joelhos e segurar minha cabeça de cabelos falhados agora. Meu julgamento estava a mercê do compasso sonoro dos martelos que a cada batida sugavam-me como parasitas insaciáveis.

Não tenho nem noção de quanto tempo fiquei agonizando com uma dor excruciante. Talvez horas, dias, meses ou anos, não sei.

Até que eu surgiram duas explicações plausíveis para o que tinha acabado de conhecer.

A) eu havia ficado surda.

B) Eles pararam com o som.

Não sabia mas possivelmente as duas podiam estar corretas, pois eles não batiam mais os martelos mas sussuravam alguma coisa que eu simplesmente não escutava.

Até que.

Sangue novamente.

E escuridão.

Apoiei-me nos lençóis de minha cama macia, como era reconfortante a sensação de despertar de um pesadelo sem sentido! Alívio, eu diria.

Me permiti sorrir, meu corpo não doía mais e a cama estava um tanto quanto aconchegante. Decidi conferir as horas no meu celular para ver se poderia adormecer novamente já que não foi o alarme que me despertou.

Levei meu braço até o criado-mudo e tateei ainda de olhos fechados por preguiça de levantar. Quando consegui, os abri para ver o horário no ecrã.

Senti uma gota em meu rosto, depois duas.
Achei que deveria ser uma goteira mas não havia barulho de chuva.

Procurei de onde vinham, mas quando ergui a cabeça dei de cara com os três juízes.

Procurei de onde vinham, mas quando ergui a cabeça dei de cara com os três juízes

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