Capítulo Único

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Your smile

São onze horas, quase meio dia. Meu horário de almoço está quase terminando e eu não encontro nem um lugar que eu possa sentar e consumir algo que preencha meu vazio interior.

O sol quente me atingindo pela janela do carro só piora a situação. Parece que há um monstro em minha barriga. Um monstro grande e perigoso. E, sem hipérbole alguma, eu mataria alguém pra ter o que comer nesse exato momento.

As vozes, as buzinas, até o vento me encomoda. Não vou conseguir chegar em algum restaurante a tempo, o trânsito de Los Angeles resolveu ficar péssimo justo no dia em que posso almoçar fora daquela merda de escritório. Eu sou mesmo um azarado.

Entro numa rua qualquer, apenas para sair do congestionamento e aquele barulho todo. Não há muitos comércios por aqui, o mais atrativo é uma sorveteria. Como, provavelmente, não tenho outra opção, decido que vou entrar nessa sorveteria e pedir a maior coisa do cardápio.

Encosto meu carro na primeira vaga que vejo, desço meio zonzo e ando até a porta do local. No mesmo instante em que toquei na maçaneta pelo lado de fora, alguém fez o mesmo por dentro. Meus olhos se levantaram e só então percebi que hoje definitivamente não é o meu dia. Havia uma placa escrito "Fechado para horário de almoço" e, juro, eu quis chorar naquele instante.

- Por favor, pode abrir um instante pra mim. Eu posso pagar em dobro.

Juntei as mãos num sinal de que o moço de cabelos longos e pele clara abrisse a porta pelo amor de quem ele acreditasse.

- Já estamos fechados, volte outra hora - é o que tenho como resposta.

Ele acha que se eu quisesse comer outra hora, estaria praticamente suplicando que ele abra isso? Eu sou um homem necessitado no momento.

- Moço, eu estou morrendo de fome e não sei se vou conseguir chegar a algum lugar com esse trânsito horrível - explico.

Ele me fita com o belo par de olhos verdes, respira fundo e então abre a porta.

- Ok - diz-me. - Mas só porque não quero ser o culpado de você desmaiar por aí.

- Obrigado, obrigado, obrigado - abraço-o num ato tão involuntário que nem eu me reconheci. O que uma fome não faz, não é?

- Diga logo o que você vai querer pois também não tenho muito tempo para o almoço - ele diz, ainda parecendo bastante simpático.

- Qual é a maior coisa que vocês vendem aqui? - pergunto.

Nesse exato momento minha barriga fez um barulho tão grande e tão horrendo que eu quis enfiar minha cabeça num buraco e nunca mais sair. E o jeito que o moço arregalou os olhos e ficou boquiaberto me deixou mais constrangido ainda. Alguém me mata?

- Olha, vamos fazer assim, eu tenho um almoço com porção para duas pessoas. Se você quiser eu divido contigo e você me paga como se fosse algo que você comprou aqui - propõe.

- Porque você faria isso? - desculpa, tenho que perguntar pois sou paranóico quanto a essa parada de sugar daddy ou coisas do tipo.

- Porque existe um monstro na sua barriga que precisa ser alimentado antes que saia devorando as pessoas por aí - foi a primeira vez em que ele sorriu pra mim. Este sorriso é maravilhoso.

- Isso é bizarro - era pra ser um comentário só na minha cabeça mas deixei escapar sem querer.

- O que é bizarro? - ele franze as sobrancelhas.

- As coisas que você diz - afirmo. - Aliás, porque você diz coisas bizarras?

- Eu não digo coisas bizarras - ele faz um biquinho com a boca um tanto fofo.

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⏰ Última atualização: May 08, 2020 ⏰

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