Tudo do jeito que está

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Sim, acho que todos ficaremos bem
A cidade inativa ficará como está
E todos que eu amo estão neste lugar
Então se recolha à meia-noite
Nós assistiremos o nascer do Sol

Idle Town - Conan Gray

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Hoseok

Alguns dias são particularmente chatos por nós oferecerem um grande pacote de tédio e por não acontecer nada de diferente dos outros dias. Alguns dias nos surpreendem por apresentarem acontecimentos que não esperamos por nada nesse mundo. Em um dia você está apenas seguindo sua rotina diária e de repente, no outro, você cai em um lugar público e quando chega em casa descobre que foi adotado. Loucura, não?

Pois bem, meus dias sempre são os mesmo. A mesma rotina, os mesmos afazeres. Até meu fim de semana já é praticamente programado. A única coisa que muda é qual o jogo que irei jogar para descarregar o estresse escolar da semana. E se Jungkook estará jogando comigo, é claro.

A mesmice me persegue e eu já encarei e aceitei meu destino diante disto. Só espero que quando eu entrar para a faculdade isso mude. Céus, como eu quero logo passar por essa fase e já estar na faculdade! Dizem que é pior, eu sei, mas nada se compara com o sofrimento de estudar coisas que você não gosta e ser pressionado todos os dias para ser bom nessas coisas — que são muitas vezes desnecessárias.

Na faculdade eu imagino que seja diferente. Ali é cada um por si e você que lute para conseguir se formar, se é que quer se formar.

Enfim, eu espero que minha vida mude um pouco ano que vem — supondo que eu tenha passado no vestibular. Até lá, eu espero que meus dias continuem do jeito que estão, pois — querendo ou não — é assim que me sinto confortável para aguentar o que está por vir.

E para estar confortável nesse momento, eu necessito encontrar meu caderno.

Jurando que ele estava em meu armário na escola, não me preocupei tanto com o fato de não estar com ele. No entanto, no outro dia, quando abri aquela portinha de metal azul me deparei com tudo, menos esse maldito caderno. Tentei manter a calma para não sair desesperado procurando esse moleskine por todo e qualquer buraco do colégio e fui para a minha sala. O resto de todas as aulas daquela fatídica quinta foi um desperdício, pois eu não conseguia pensar direito, uma vez que perdi algo tão importante.

Imaginar que todas as suas anotações da escola, todos os escritos de seus devaneios e viagens mentais muito malucas foram parar na mão de outro alguém é simplesmente aterrorizante. Mesmo que não tivesse meu nome ali, ainda era algo preocupante para mim.

Meu último resquício de esperança era supor que ele estava na bagunça do meu quarto — mesmo que não estive, pois já havia procurado — ou que ele, de uma hora para a outra, foi sugado por um buraco negro que surgiu rapidamente dentro da minha mochila. Para uma pessoa tão cética quanto eu, isso é a descrição de desespero.

Já na sexta, novamente sentado na minha mesa na sala de aula, eu continuava inquieto, meu pé batia no chão de uma forma tão frenética que era capaz de criar um buraco no piso. Decidi aceitar o fato que tinha mesmo perdido meu precioso caderno, assim como eu faço com qualquer coisa na minha vida. Aceitar e sofrer em silêncio no meu canto.

É bom ser alguém que senta no fundo da sala e também ser alguém na qual as pessoas não se importam ou se esquecem da sua presença, pois eu pude dar um pequeno chilique silencioso ao concordar comigo que mesmo que nunca iria encontrar meu caderno. Por fim, cobri minha cabeça com o capuz do moletom e deitei sobre a mesa.

The singularity of your eyes || vhopeOnde histórias criam vida. Descubra agora