VIII.

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O dia tinha começado tão bem, eu finalmente estava satisfeita comigo mesma e com todas áreas da minha vida que não envolvessem Taylor. Por que eu me sentia tão mal quando pensava nela? É isso que amor faz? Faz doer e depois volta como se nunca tivesse ido embora e me deixado sozinha por semanas?

Uma mensagem e meus dois mundos foram divididos. Eu não podia mais negar a situação, não podia agir como se Taylor não existisse no meu mundo. Não são dois, nunca foram, sempre foram dois. Entretanto, por que eu continuo pensando que são separados? A minha vida onde Lauren existe, consegue me fazer comer de manhã e me vê dançando sua playlist não pode coexistir com a minha vida onde durmo no FaceTime com Taylor e a escuto reclamar de seus negócios, esses que eu não sei o que são, isso nunca funcionaria. Não dá para existir um mundo onde sou apaixonada por duas pessoas.

Apaixonada?

Não sei se seria a palavra adequada a remeter o que sinto por ambas. Taylor é minha namorada há bastante tempo, realmente, mas ainda sou apaixonada por ela? A Camila que entrou na empresa há dois anos atrás e que logo engatou um relacionamento online é a mesma Camila que está aqui agora? Lauren é minha chefe, também há bastante tempo, mas não passa disso. Esses dois dias que se passaram, eles não podem ter surtido tanto efeito em mim, não dessa maneira. Talvez eu fosse afeiçoada, talvez os mínimos detalhes que ela fez a mim não passassem de um cuidado que ninguém nunca demonstrou para comigo, mas e se não fosse?

Não há tempo para "se", Taylor estava em Nova York e era minha chance. Não conseguia parar de sorrir, fiz tudo o que tinha para fazer na empresa, era muito mais flexível meu trabalho e eu lidava especialmente com aquilo que eu estava estudando na faculdade e logo direcionei meus pensamentos apenas a Taylor. Taylor me mandando áudios no começo do namoro dizendo tudo o que gostava em mim, Taylor mandando músicas que me remetiam à ela, Taylor e seu feitiço.

E foi com esse pensamento, com essas memórias, que eu fui me encontrar com ela no Hotel Conference no final da noite. Segundo Taylor, mas isso foi apenas uma das coisas que ela me disse, ela estaria hospedada lá até o dia seguinte a trabalho. 

Lauren estava agitada, deixou um copo quebrar e estava mais falante do que o normal. Mas minha cabeça não estava com tempo para pensar nisso, simplesmente não me cabia pensar em Lauren. Assim que meu horário bateu, não pensei duas vezes e fui me dirigindo à porta para ir embora, de relance vi Lauren no telefone e digitando sem parar, fazendo duas coisas ao mesmo tempo: nunca tinha a visto tão nervosa quanto aquele dia. 

- Pssst, - chamei ela - estou indo, tudo bem? 

Lauren não levantou o olhar a mim, não desgrudava os olhos do notebook e apenas pigarreou um "sim", bati a porta com o melhor dos meus cuidados, mas minha felicidade e meu nervosismos combinados eram uma bomba. 

Coloquei a playlist bem alto, minha atenção voltada a imagem de Taylor sorrindo, falando, desse jeito nenhuma letra de música ficou na minha cabeça. Não assimilei as letras, meu cantar somou com meu sorriso e eu nunca estive tão confiante perante nossa relação antes. Bem que diziam que antes do sol sempre tem a tempestade. 

Acontece que não foi bem assim. Chegando em casa, eu me arrumei como nunca antes, meu vestido escarlate contrastava minha pele, o batom que Lauren mencionou estava preenchendo meu lábios e arrisquei até mesmo uma tentativa de rímel em meus cílios. Esperei no lobby do hotel por tempos, primeiros 15 minutos de pé até que meu salto pediu ajuda e tive que me sentar em uma poltrona. Toda vez que a porta do hotel abria e o frio atingia minhas pernas desnudas meu coração palpitava mais forte.

Taylor nunca chegou. 

Quando completou duas horas esperando, cerca de 40 mensagens e mais 12 áudios, dirigi até minha casa desacreditada. Minha desapontamento não era tão grande, eu já esperava isso, não foi diferente daquela vez. A única diferença considerável era de que aquela vez as coisas não estavam tão frágeis. Agora estão. Estilhaçadas e Taylor fez questão de diminuí-las ainda mais. Viradas em pó estão nossas lembranças e todas palavras ditas. 

Enquanto eu ouvia a playlist feita por Lauren, lágrimas salgadas e regadas de decepção rolavam pela minha maçã do rosto, a medida que eu chegava mais perto de casa, mais meu coração apertava. Não podia ir para casa, eu me sentia extremamente sozinha, em dias que eu não tinha a faculdade para ocupar a cabeça, eu me preenchia de Taylor ou de trabalho em casa. Mas ir para lá agora não era uma cogitação, eu precisava focar meus sentimentos em um ambiente que me proporcionasse zero sentimentos.

A curva que eu fiz para me dirigir ao escritório foi linda, senti-me orgulhosa por ela e um pensamento autodestrutivo surgiu em minha mente: pelo menos algo você sabe fazer direito. Com sorte, Lauren estaria no escritório como sempre e eu conseguiria trabalhar em meus relatórios. 

Ao subir pelo elevador, senti-me impostora, não era meu horário e talvez eu não devesse fazer aquilo. Meu vestuário não era nada adequado e Lauren com certeza iria me xingar. Adentrando, percebi que eu estava certa: Lauren estava no escritório, mas trabalhando com certeza não estava. Seu longo cabelo negro caía por suas costas, estava admirando o céu a noite e eu não fazia ideia de que ela também gostava de apreciar essa vista tanto quanto eu. 

A batida que eu dei no vidro da porta foi um pouco mais alta do que eu gostaria e minha chefe me olhou espantada, logo seu olhar espantoso foi transformado por um olhar afeiçoado. 

- Olá, Camila. - Lauren abriu a porta para que eu adentrasse, naquele momento não me perguntei porque ela se trancaria em seu próprio escritório.

- Oi, senhora. Você acha que tudo bem se eu ficar aqui finalizando uns relatórios? - perguntei tímida, estava com tanto medo de receber um "não" ou uma risada sarcástica que fiquei olhando para meus pés o tempo todo.

- Você está com um vestido vermelho, salto alto e batom para trabalhar? Eu te dispensei há horas, Cabello. Há algo errado? - seu olhar não demonstrava curiosidade, senão uma empatia e entendimento. Não havia nada sarcástico em seu rosto. Nem um resquício. 

- Ah... - eu comecei, mas fui interrompida por ela. - É aquela menina, não é? Eu ouvi você dizendo que iriam se encontrar, ela te deixou na mão. Já saquei. - ela agarrou minha mão, fazendo eu me recuar no mesmo momento.

- Está tudo bem, Cabello. Só quero demonstrar que me importo com você e sua saúde mental, eu já havia te avisado sobre isso, não? - concordei com a cabeça - Certo. Não vou deixar você terminar relatórios porque pelo o que vi você já concluiu todos, você só precisa relaxar e sei que por mais que a única maneira que você conhece de fazer isso seja trabalhar, há outras maneiras. 

E lá vamos nós de novo, Jauregui fazendo com que eu sinta coisas impossíveis e que nunca senti antes. Ok. Eu odiava quando ela me tocava porque isso fazia eu gostar dela mais do que eu deveria. Mais do que já gostei de algo antes. Depois que ela me toca eu fico insaciável, eu quero mais e mais e mais.

- Mostre-me suas maneiras, Lauren.

O sorriso em seu rosto desabrochou como se fosse uma rosa no inverno. Inesperado e lindo.

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