Capítulo 16

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Vou todos os dias visitar Katniss. Ela vai melhorando lentamente, o que prova que seus ferimentos eram realmente graves. Isso tem me feito muito bem. No começo, apenas levava alguns pães de queijo, que descobri recentemente que ela gosta bastante, e ficava a beira da sua cama, conversando sobre trivialidades, o que soava muito falso em meio a situação em que nos encontramos. Mas quando ela me mostrou um livro, sobre plantas na qual seu pai havia deixado detalhadamente escritos sobre todas as plantas que ele tinha conhecimento, uma ideia se acendeu.

- Katniss, porque você não adiciona a esse livro os seus conhecimentos sobre plantas? – sugeri numa tarde particularmente fria.

Ela pareceu se interessar pela ideia, mas logo a descartou.

- Impossível, eu não sou nenhuma grande artista. As plantas têm que ser extremamente bem desenhadas, para não serem confundidas.

Foi então que ela me olhou, e em seus olhos se estampou o mesmo que eu estava pensando. Eu desenho.

Passamos horas em seu quarto, adicionando informações a este livro. Quando eu não conhecia a planta, tinha que fazer vários rascunhos com as descrições de Katniss até que ela se desse por satisfeita, para eu desenhar no livro. É um trabalho tranquilo. E me relaxa sentir Katniss me observando enquanto eu faço a única coisa que eu sei. Desenhar, e pintar. Depois que retoco um último detalhe com um pouco de verde, olho para cima e pego ela a me olhar. Esse flagra faz com que ela core, e dê um pulo, mas eu finjo não notar.

— Sabe, acho que essa é a primeira vez que fazemos algo normal juntos – comento.

— Sim — ela concorda.

Silencio.

— É bom uma mudança.

Termino mais alguns desenhos, e levo Katniss para a sala, em meu colo. Ainda não é recomendável que ela fique andando por aí, muito menos descendo escadas, mas ela insiste em toda a noite descer para assistir a televisão. Eu não me incomodo por ser útil a ela, mas o que ela quer tanto ver?

Com o passar dos dias, vou diminuindo minhas visitas pois não quero ser inconveniente, e além de já termos quase terminado as atualizações no livro, estou passando mais tempo com a minha família. É estranha essa reaproximação, mas finalmente está acontecendo. Enquanto fico na padaria ajudando meu pai, e conversando com minha mãe, consigo ouvir os gritos das pessoas punidas na praça. As chicoteadas estão cada vez mais frequentes, e para o meus espanto, as pessoas já agem como se fosse algo normal. Vejo meu pai estremecer as vezes quando os gritos se tornam intensos, mas ele não diz nada. Continua a trabalhar.

Hoje, enquanto volto para casa, passo para ver se está tudo bem com Haymitch, e ele, muito bêbado, me avisa que amanhã será a sessão de fotos de Katniss com vestidos de noiva.

- Eles querem mesmo continuar com isso? – pergunto descrente.

- O que você acha?

- Ok. Boa noite Haymitch.

- Tenha bons sonhos – ele diz com a voz enrolada e carregada de sarcasmo.

Vou para casa, indisposto demais para comer, apenas tomo banho e me jogo na cama, onde passo intermináveis horas, suando entre um pesadelo e outro.

Na manhã da sessão de fotos, passo para ver Katniss, mas ela está sendo cuidada, como Cinna me informa. Deixo apenas alguns pães de queijo para ela, e marcho para a padaria. Quando volto, exausto a noite, passo em sua casa novamente, mas sua mãe informa que ela já foi se deitar. Suspiro, e vou para minha casa onde nem me dou ao trabalho de acender as luzes, me jogo na cama, e tenho mais uma terrível noite, longe de Katniss.

Em chamas - Peeta MellarkOnde histórias criam vida. Descubra agora