VIVENDO A MAGIA
Por Debby Bacellar
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Lucille estava andando pela praia, seus pés afundando na areia morna trazendo uma sensação acalentadora. O sol quente aquecia suas costas, revigorando-a, a brisa morna de verão fazia seus pesados e longos cabelos da cor do mogno mais profundo chicotearem para todas as direções.
Oh, aqueles dias de descanso estavam lhe servindo de grande valia. Foram tantos anos ininterruptos de trabalho e estudo, tentando provar a si mesma, tentando se auto afirmar, tentando provar para si mesma que ela o melhor que poderia ser. Ela seria alguém que autossuficiente, independente. E ela conseguiu.
Aos vinte e nove anos, ela já havia obtido o seu mestrado em química e já realizara várias pesquisas no ramo da fitoterapia e cura através das plantas, tendo seu nome escrito ao lado de vários importantes e renomados cientistas brasileiros. Era isso afinal. Ela provara para todos que o abandono não foi capaz de pará-la, que a rejeição não serviu de obstáculo, que ela era forte.
Filha de empregada com um político rico, ele a renegara, e sua mãe biológica ao perceber que aquele não seria o caminho para obter a tão sonhada riqueza, a pariu em um banheiro sujo de rodoviária deixando o pobre bebê indefeso para morrer ou sujeito a qualquer que fosse o seu odioso destino.
Lucille, a doce menina, fora encontrada por uma pobre senhora, estranha, mas amorosa. Carla era uma cartomante charlatona que achava ter o dom da adivinhação e magia, e que era oportunista como nenhuma outra pessoa que Lucy conhecera em sua vida. Mas foi essa mulher, cheia de defeitos, que a criou com amor, que deu as ferramentas para que ela pudesse ser bem educada, que esteve com ela nos momentos bons e ruins e que segurou a sua mão em cada colagem de grau pela qual ela passou. Carla era uma senhora gorda que falava alto, não tendo nenhuma característica de dama, mas era a mãe de Lucille para todos os intentos e propósitos. E Lucy a amava.
Agora, passeando pela areia quente daquela praia quase deserta na Ilha de Angus, Lucy se sentia satisfeita. Aquelas eram suas primeiras férias. Um sorriso escapou pelos seus lábios cheios e rosados. Ah sim, ela tinha uma beleza incontestável e hoje ela sabia disso. Ela aprendeu a cultivar sua autoestima, a amar cada qualidade e defeito que possuía. Não tentava ser perfeita, longe disso, prezava muito mais pela autenticidade, por tentar ser o mais fiel possível aos sentimentos que tinha. Apesar disso, ela não permitiu que o amor batesse à porta do seu coração. Havia muita coisa para estudar e fazer, e perder tempo com uma coisa tão incerta no momento lhe parecia muito trivial.
Depois de mergulhar na água salgada e deixar as ondas lavarem-na de todo o cansaço, ela retornou para a sua nova propriedade. Sua mãe viria no outro dia para se juntar a ela no período de férias.
Lucy estava explorando a nova residência. Era uma casinha térrea e pequena, mas extremamente confortável. Ficava de frente para mar, bem longe de vizinhos curiosos. A casinha verde encantou Lucy pela sua simplicidade e beleza idílica. Era uma paisagem realmente tranquilizadora.
Depois de explorar sua nova casinha, Lucy percebeu algo que não notou quando veio para a primeira visita na propriedade que agora era seu orgulho. Havia um pequeno armário com uma porta falsa no painel de madeira da parede do seu quarto. A curiosidade da mente da cientista falara mais alto e ela foi explorar a residência em busca de algo que abrisse o referido armário.
A porta – que se perdia facilmente com o resto da madeira da parede, tinha uma fechadura mínima em forma de cruz. Então ela sabia que havia uma chave para aquele armariozinho secreto e com sorte estaria em algum lugar da casa. Primeiro, ela foi buscar nos lugares óbvios. Lucy andou até a sala e foi até o chaveiro deixado pelo antigo dono, e fácil demais – encontrou a chave que parecia ser perfeita para abrir o armário embutido.
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Tua Magia
FanfictionEla caiu no meio da mesa de jantar do salão principal, mas como isso era possível? Eram somente palavras de um livro, não eram? J.K Rowling escreveu, todos sabiam. Ela sabia, pelo amor de Deus! Ela era adulta, independente e capaz, e não uma demente...