Dona do mundo

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Lucy havia conversado com Dumbledore e agora o velho mago estava a par da pouca informação que ela poderia lhe dar. Era melhor do que nada e talvez funcionasse como um ponto de partida.

Depois de vagar mais um pouco pela propriedade do castelo, ela sentiu-se suficientemente cansada para ir dormir e só conseguia torcer para que quando deitasse, seu sonho a devolvesse para a sua vida real, mas pelo andar da carruagem havia realmente muito pouca chance disso acontecer.

(...)

O dia amanheceu e Lucy só percebeu a mudança de horário por causa da pouca claridade que entrava através da sua parede de vidro nas masmorras. Os peixes ainda faziam a mesma bonita dança, alheios à sua vida e aos seus medos. Mais uma vez, Lucy acordou em Hogwarts, onde seu sonho parecia ter virado o seu maior pesadelo.

Tudo o que ela desejava naquele dia era ardentemente voltar.

Uma lágrima solitária desceu pela bochecha da moça. Ela não queria ser o receptáculo de informações que salvariam o mundo, ela não deveria ter essa responsabilidade imposta à ela. Ela só precisava de férias, de continuar andando às tardes na areia quente, de dar um mergulho no mar de águas mornas e acolhedoras, de comer muita bobagem e os bolos deliciosos que sua mãe fazia. Ela só queria receber o afago de suas tias, o carinho de seus amigos. Ela tinha uma vida, à qual ela era extremamente apegada. Ela queria isso tudo de volta, mas parecia mais como desejar o impossível.

Lucy levantou, tomou uma ducha rápida de água quente e preparou-se para o dia. Hoje ela não havia visto Dipsey em canto algum, e ela não sabia o que pensar sobre isso, afinal o mestre da pequena elfa era o amargo mestre de poções. E ela queria tudo naquele dia, menos pensar nele.

Ela forçou suas memórias em Remus, em como o homem fora agradável, galante e cavalheiro, em como ele não a esmagou com todo o furor sedutor do outro professor. Mas se havia algo bom em tudo isso, era que a autoestima de Lucy nunca estivera tão alta.

Se Severus teve a audácia de desdenhar depois do que fizeram, a perca era somente dele – ela decidiu.

Era seu corpo, afinal, e um baita de um belo corpo. Ela era consciente disso, de si mesma, de suas escolhas, ela sempre soube arcar com tudo o que fazia. Nunca dependeu de homem nenhum, não depois de conhecer o pai biológico, saber que ele era um completo traste. Sua mãe lhe valeu por mais que cinco pais. Ela sempre colocou a sua independência acima de banalidades sentimentais como paixões fugazes. Ela era maior que isso.

Munida de toda a sua coragem, Lucy vestiu-se com um vestido de verão florido e curto azul corvinal. Suas belas pernas torneadas e bronzeadas estavam agora à mostra. Ela usou um sapato alto de tiras que expunham seus dedos de unhas pintadas de rebú. Ela não tinha como agradecer a todas as transfigurações que a elfinha fez para ela. Usar salto alto em um castelo de pedra parecia contraproducente, mas ela sempre soube que um sapato nunca era somente um sapato. A sua postura mudava, o jeito de andar, de desfilar pelas ruas como se fosse dona do mundo. Ela gostava de receber os olhares apreciadores, as cabeças dos homens e algumas vezes de mulheres que viravam para aprecia-la.

Era isso. Lucy sempre foi consciente de sua beleza, não de forma arrogante, mas a sua mãe lhe ensinou a se amar, lhe fizera entender que antes de qualquer coisa, amar a si mesma era o maior segredo de felicidade. E Lucy também sempre entendeu que se amar é cuidar de si, se sentir bonita, embora isso nunca tenha lhe subido à cabeça. Ela nunca usou seus corpo para conseguir promoções em seu trabalho, e não foi por falta de propostas indecentes. Ela poderia ter se casado com um homem velho e milionário em busca do frescor da juventude, e ela era esperta o suficiente para garantir para si um futuro cheio de bens materiais se assim quisesse, mas ela não quis, não desse modo, porque se ela se permitisse o caminho mais fácil, ela perderia a si mesma no caminho. Perderia seus conceitos, suas ideologias, agiria contra a sua personalidade.

Olhando-se no espelho, Lucy viu seu próprio reflexo encarando-a. A sobrancelha bem feita arqueando sedutoramente, os cabelos caindo em cascatas pelos seus ombros, abaixo do busto. Ela prendeu os cabelos no alto da cabeça em um rabo de cavalo alto e atrevido e se preparou para o dia.

Se Severus ou qualquer outro homem desse castelo estivesse esperando mais lágrimas dela, eles teriam outra coisa chegando.

(...)

Lucy andou pelos corredores como se fosse a proprietária do lugar. Os quadros acenavam para ela, e os homens nas pinturas abaixavam os chapéus quando ela passava. Ela sorria de forma sedutora para eles. As mulheres pintadas, no entanto, não estavam gostando nada nada do exibicionismo da moça.

Assim que chegou ao salão principal para o café da manhã, a porta grande rangeu enquanto ela abria e então ela olhou para a frente, para as pessoas que sentavam ali tomando café da manhã, envolvidas em conversas pequenas.

Eles viraram para olhar a intrusa e foi com um prazer genuíno que ela recebeu os olhares de óbvia apreciação de Remus, Sirius e do próprio Severus. Os meninos Harry e Ron pareciam peixinhos fora d'água. Hermione parecia irritada. Minerva não estava em lugar algum e Dumbledore acenou sorrindo para ela com a sua feição paternalista de sempre.

Lucy sentou-se entre Harry e Ron, já que o ruivo havia pulado como se estivesse tendo um choque elétrico para o lado enquanto ela passava perto dele. Ela riu e saudou a todos com um bom dia.

A conversa continuava acontecendo ao seu redor, e eventualmente ela olhou para cima. Foi em um desses vislumbres que ela viu o rosto de Severus. Ele a olhava, meio incerto, meio raivoso, tempestuoso, como se ela tivesse feito alto imperdoável, mas como se também tivesse consciência de que de alguma forma ele tinha causado isso.

Ela levantou uma sobrancelha e deu um sorriso zombeteiro à ele. Ela não iria abaixar a cabeça ou desviar o olhar se era isso que ele estava esperando.

As pessoas saíram de seu café, os meninos indo para o lado de fora jogar alguma coisa, Hermione resmungado e indo para a biblioteca. Só ficaram ali Severus, Remus e Sirius.

Lucy continuou tomando seu mingau como se nada estivesse acontecendo.

— Noite agradável, Srta. Lima? — Severus perguntou, a voz carregada de escárnio.

— Agradabilíssima. — ela respondeu no mesmo tom.

— Se eu fosse você, tomaria cuidado com andanças noturnas... Alguns lobos podem... Machucar em determinadas luas. — Severus falou em um ronronar perigoso. O talher de Remus caiu na mesa, tinindo com o som de metal na porcelana fina.

— A lua estava corcunda professor. — Lucy respondeu sorrindo. — Não havia nenhum mal lá fora do qual Remus não pudesse me proteger. — então Lucy estendeu a mão para acariciar os punhos fechados do lobisomem.

Ele olhou para ela, os olhos cor de mel, quase amarelos, entendendo o recado: não caia na provocação dele. Ele afagou as mãos de Lucy de volta.

Severus mordeu o interior de sua bochecha. Como ela poderia? Como poderia ter sido dele e então na mesma noite andar por aí com o Remus e permitir que ele a beijasse?!

— Que tipos de valores você tem para ser assim tão fácil? — ele perguntou a Lucy furiosamente.

Ele não viu o que o atingiu, mas no mesmo momento Lucy inclinou seu corpo através da mesa e estapeou-lhe com força.

Ele não teve reação.

Sirius e Remus ficaram atônitos.

— Você não vai foder com a minha cabeça, Severus. Eu dormi com você? Ótimo. Foi bom? Maravilhoso. Mas isso não te dá o direito de me ofender. Se eu quiser transar com uma centena de homens, o problema é meu. É o meu corpo. Se eu quiser ser uma cafetina de luxo, uma puta das caras, você não tem nada a ver com isso. Você, meu querido, poderia ter tido muitas repetições da noite anterior, se apenas fosse um pouco mais cavalheiro e inteligente. Sabe o que mudou do seu tempo para o meu? A consciência de que se você que é homem pode ter sexo casual sem nenhuma culpa na consciência, eu como mulher, que trabalha e não depende de ninguém, também posso. Aceite isso. Você foi uma casualidade na minha vida. Se você abrir a sua maldita boca venenosa para me ofender de novo, o outro lado do seu rosto vai ficar tão vermelho quanto esse que eu acabei de estapear.

Então Lucy levantou em um rompante e saiu para o lado de fora. De repente tomar um sol ao ar livre parecia uma coisa extraordinária para fazer. Qualquer coisa para livrá-la do castelo sufocante. Qualquer coisa para livrá-la da presença de Severus Snape.

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