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Tenham uma boa leitura, nos vemos nas notas finais. ;)

❄️❄️

Não posso dizer que vivo de todo mal, pois eu estaria mentindo. Tenho uma família que me apoia e amigos que estão comigo durante todos os momentos que preciso, mas nada disso diminui o total vazio que existe em meu peito. Com meus 24 anos de idade, eu consegui conquistar muita coisa, mas não se enganem, a vida pode tirar de si o que mais vale em um piscar de olhos.
Dentre as demais coisas que passei na vida, uma das que mais doeu foi a perda da patinação, não a perda total dela, já que ainda patinava todas as manhãs, mas a perda das competições. Entretanto, essa perda não é o motivo do meu choro todas as noites.
Há 4 anos, eu e minha família viajamos para o interior de Busan para visitar os parentes e eu estava animado: veria pessoas que tive contato na infância e iria relembrar dos momentos que fizeram ela ser especial. Seria uma noite feliz e ansiava pelos doces maravilhosos que apenas a vovó Park sabia como fazer. O caminho aparentemente calmo, o horizonte estava coberto com um magnífico e gelado cobertor branco, a música que tocava possuía uma melodia calma. Lembro como hoje, era uma das sinfonias prediletas de minha mãe: "O Lago dos Cisnes". E ao som dela, fechei os olhos e me permiti dormir um pouco. Acordei tempo depois com o som estridente de buzinas e gritos e, depois, veio o choque. Durante a viagem, por total irresponsabilidade de um homem dominado pelo álcool, eu vivi a pior noite da minha vida.
Naquele acidente, eu não só perdi anos da minha vida deitado em uma cama, em coma, mas ele levou consigo uma parte de mim, uma pequena parte que tinha o sorriso mais doce e brilhante que eu já vira na vida, uma pequena parte que tinha apenas 8 aninhos de idade e denominava-me como "Chim" e que, todas as manhãs, me fazia acordar com um abraço apertado. Um pedacinho do meu coração foi arrancado sem dó nem piedade, e eu nunca mais ouviria a doce melodia de sua voz.
Eu perdi a minha irmãzinha ali, e só fiquei ciente disso 2 anos depois.
Depois disso, tudo mudou.
Ao acordar, passei uma semana ainda na UTI por conta de problemas respiratórios, mas nada daquilo importava. Depois de receber a infeliz notícia, tudo simplesmente perdeu o sentido, nunca pensei que pudesse existir uma dor tão forte assim que rasga seu peito de dentro para fora, que tampa sua garganta e faz seus olhos arderem, um misto de sentimentos angustiantes que te fazem querer gritar até perder totalmente a voz. E eu gritei, gritei pela dor, gritei pela raiva, gritei pela fragilidade que é a vida.
Passei mais dois anos fazendo fisioterapia pelo fato de ter permanecido imóvel por anos, todo meu corpo doía, coisas que antes eu fazia normalmente, eu teria que aprender do zero, como uma criança, e eu realmente me sentia como uma, total e completamente incapaz.
"— Chim! Chim! Olhe só, uma borboleta! Ela é tão linda! — Ela corria pela neve, indo na busca da tal borboleta.
— Sim meu amor, ela é muito linda. — Sigo até onde ela estava, aliso seus cabelos dourados, admirando o pequeno inseto que acabara de pousar em um galho.
— Olhe como ela voa, Chim. Parece você quando dança no gelo... Tão bonito. — Seus olhos brilhavam e possuía um sorriso genuíno.
— Ainda te ensinarei tudo que eu sei, minha pequena borboleta...."
Acordo com um sobressalto, minhas bochechas estavam molhadas, eu havia chorado enquanto dormia sem ao menos perceber. Encolho-me na cama. Por mais tempo que passe, esses sonhos nunca me deixaram em paz. Quase todas as noites, meus pensamentos vão de forma impulsiva até as lembranças que tenho dela e, por consequência, acordo chorando a maioria das vezes.
Seco meu rosto e levanto-me da cama, ainda era bem cedo, mas, provavelmente, eu não conseguiria voltar a dormir. Calço meus chinelos e sigo para o banheiro, olho meu reflexo no espelho. Olheiras, rosto aparentemente mais magro e meio pálido: esse não sou eu. Contudo, foi o que me tornei e não sei se tenho forças para mudar isso. Lavo o rosto com bastante água e vou fazer minhas higienes diárias.
Depois do acidente e dos anos de recuperação, eu tinha perdido a etapa nacional na patinação, era um dos favoritos ao título. Depois disso, até pensei em voltar a treinar, tentei por duas semanas, mas, sempre que estava no fim de minha apresentação, ela aparecia: Eu via a minha pequena correndo sob o gelo. Minha memória me levava a segundos antes do acidente e aquilo me fazia parar instantaneamente, não sei o motivo disso ocorrer, quando patino todas as manhãs, isso não acontece. Talvez seja porque eu apenas fico fazendo círculos pelo gelo, não sei, não consigo me concentrar mais, não consigo me envolver mais.

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⏰ Última atualização: May 09, 2020 ⏰

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