De cabeça no Inferno

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De cabeça no inferno

O momento havia chegado, todos retiram-se da sala ao fim da transmissão dos apresentadores e foram em direção aos quartos, menos Samantha, que permaneceu sentada no sofá de olhos fechados. Quando ela levantou e caminhou para a cozinha, abri a portinhola discretamente e sussurrei:

- Psiu! Maninha! – Samantha olhou em direção à porta, assustada.

Pela forma que reagiu pareceu estar diante de um fantasma. Os olhos abertos, surpresos, esboçavam dúvidas. Abri a porta um pouco mais e fiz sinal para que entrasse.

- João, o que você está fazendo aqui? – Samantha parecia diferente. Diante de tudo que aconteceu nos primeiros dias do reality, eu que estava surpreso com aquela recepção.
- Sam, você está em perigo e precisar sair daqui o mais rápido possível – expliquei e peguei em sua mão para guia-la pela passagem subterrânea.
- Eu não posso sair assim, João – rebateu e recolheu a mão – enlouqueceu?
- Como enlouquecendo? – questionei atônito – Você surtou dias atrás, garota! Gritou para todas as câmeras que eu estava em perigo.
- Surto? – Samantha parecia confusa – Como assim? Não me lembro disso.

Era só o que faltava! O tempo estava correndo e logo iriam dar a falta da presença dela na casa, e ela não cooperava. Sem falar que o Rubens já estava me esperando impaciente há poucos metros dali. Como ela não lembra do surto? Vi em vários vídeos quando desabafou com os colegas de confinamento sobre as suas preocupações. Só podia ser ressaca e das bravas!

-  Por favor, João, vai embora! – pediu – invadir propriedade privada é crime.
- Você usou drogas, Samantha? –  toda essa resistência estava me deixando confuso.
- Mó filé sua mana, hein?! – Rubens surgiu com a lanterna acesa – tu sabe que nós formos pegos, fodeu, né?
- Quem é você? – Samantha perguntou e deu alguns passos para trás fechando totalmente a porta que dava acesso à casa.
- Samantha, para de fazer tantas perguntas e vamos embora, caralho! – me irritei e a peguei novamente pela mão.
- Me solta, porra! – gritou – eu não vou para lugar nenhum.
- Já era, mina. Para o grande irmão você já saiu da fita toda – Rubens parecia debochar da situação.
- Vai se foder! – Samantha esbravejou e se voltou tentando abrir a porta.
- Tá tão foragida quanto nós. Se for comigo, eu aceito! – Rubens olhava para o relógio impaciente – Vamos logo, pô! Deixa de K.O!
- Cala a boca, merdinha! – Samantha rebateu – eu não sei o que deu na sua cabeça, João. Você sabe que o meu sonho sempre foi entrar em um reality. Você só pode ter enlouquecido?!
- Puta que pariu! A erva aí é forte. A mina parece todo psicodélica. Vamos, tio? A gente tá sem tempo – Rubens interferiu.
- Samantha, por favor – supliquei – aconteceram algumas coisas aqui do lado de fora também. Posso te explicar quando sair desse túnel apertado.
- O Cocada vai deixar a gente na mão se demorar – Rubens estava apressado e sem paciência.

Aquilo não estava certo, Samantha só pode ter passado por uma lavagem cerebral. Não é possível que todas as cenas que vi foram um delírio. Ela continuava esforçando-se para abrir a porta e voltar ao interior da casa, enquanto Rubens tentava convencê-la de irmos embora. Eu não sabia o que fazer nesse momento, se a passagem fosse um pouco mais larga, jogaria a Sam nos ombros e nem me importaria com o chilique que daria. Minha paciência já havia atingido o limite a muito tempo, com os ombros encolhidos e os nervos a mil, me abaixei por alguns segundos no chão na tentativa de pensar em  uma maneira de tirá-la dali o mais rápido possível.

- Vamos, cacete! – Rubens falava impaciente.
- Marca um tempo, aí, Rubens – me levantei e me virei para a Sam – Vamos, Samantha?
- Eu não vou a lugar nenhum – gritou – Quem fechou a porra dessa porta?

A minha vontade era de esganar a Samantha! Ela sempre foi uma mala sem alça em fazer o que bem entende, mas dar aquele show todo já estava além do que eu podia aguentar. A segurei com força pelos pulsos e a puxei para longe da porta, o lugar onde estávamos era estreito, mas há poucos metros o túnel parecia abrir caminho mais largo para a saída. Era só arrasta-la até o ponto ideal e joga-la nos ombros.
De repente, sinto Rubens puxando a minha pistola do coldre. Soltei Samantha imediatamente e me virei em sua direção, com uma agilidade incrível e premeditada, ele saltou para trás com duas armas em punho e avisou:

- Perdeu, perdeu, porra! – Rubens ameaçou – agora a bagaça vai ser do meu jeito! Vamos, a vadia vai na frente e você atrás dela.
- Por que você está fazendo isso, cara? – questionei sentindo ódio de mim mesmo por ter caído naquela armadilha.

 E caí feito um pato! Aquele cara não estava para brincadeiras. A frieza antes ocultada, agora se sobressaía a resplandecência da lanterna. Busquei os olhos da minha irmã e vislumbrei apenas o medo e a confusão. Ela parecia paralisada sem entender o que estava acontecendo.

- De onde você conhece esse homem? – Samantha sussurrou.
Não tive tempo de responder a sua pergunta, pois, do nada um homem loiro e alto surgiu e começou a puxar Samantha pelo braço. Foi quando Rubens baixou a guarda e não pensei duas vezes, e entre o medo e a coragem partir para cima. Entramos em luta corporal, olhei de relance em busca da Samantha e a vi tentando se desvencilhar do homem que a arrastou. Rubens tinha muita força e habilidade com lutas, mas não era páreo para um ex policial bom de briga. Segurei pelos punhos com força contra a parede, até que as armas caíram no chão, me abaixei para pegar e fui golpeado na cabeça pelo comparsa loiro.

- Por que estão fazendo isso? O Braúlio me falou que vocês eram de confiança! – gritei em rendição.
- Soltem o meu irmão, seus facínoras filhos de uma puta – Samantha foi pra cima do Rubens e um tapa forte acertou o seu rosto.
- Desgraçados! Malditos! – bradei tentando me soltar das mãos do comparsa do Rubens.
- O Chefe vai te dar um tiro quando souber que tu machucou a mina – interveio o comparsa enquanto apertava o golpe que aplicou no meu pescoço – fica quietinho aí que ninguém vai se machucar.
- Seu eu soubesse que seria tão difícil teria terminado esse serviço no hotel aquele dia.

Quando ele falou em hotel a minha ficha caiu! Foram eles que entraram furtivamente no meu quarto aquele dia. Como pude ser tão idiota, cair na armadilha e jogar a minha irmã diretamente no inferno. Se algo acontecesse a ela, eu não iria me perdoar. Desde o começo não senti confiança nos caras que o Braúlio indicou para a função. Agora, o que restava era saber se ele também estava envolvido, isso se eu saísse com vida do túnel.

- Rubens, eu posso te pagar muito mais do que estão te pagando – argumentei mudando totalmente a estratégia.
- Você nunca ia poder pagar a minha vida – contou – você não entende! Anda, levanta e vamos logo.

Samantha permanecia sentada no chão com o rosto entre as mãos. O comparsa de Rubens a agarrou pelo braço e a levantou. Ela novamente voltou a se debater enquanto seu algoz a apertava com força. Aquela cena me causou ainda mais raiva e sem conseguir me controlar fui para cima do malfeitor. Escutei um estrondo e um baque na perna, o traíra do Rubens acertou o meu joelho de raspão, na tentativa de me virar, Rubens conseguiu me golpear na cabeça com o cabo da arma, tombei no chão perdendo totalmente a consciência.

***** Samantha ******

- Joãoooooooo! Jãoooooo! Vocês vão acabar matando o meu irmão! – falei angustiada.

Quando vi o João caído no chão desacordado uma desesperança enorme tomou conta de mim. Uma confusão embaralhava os meus pensamentos, desde que entrei pela pequena porta que dá acesso a passagem. Ao dar o primeiro passo, um arrepio gélido percorreu toda a minha espinha, o cheiro forte de terra, misturado com urina me causou náuseas. As palavras do João pareciam brincar ao passar pelos meus tímpanos, o que ele dizia não fazia o menor sentido.
Fiz um grande esforço para  entender o que ele queria com tudo aquilo, minha mente parecia passar por um estado de confusão mental na tentativa de recordar os últimos dias, apenas flash's  rápidos iam e viam sem muita conexão. Ver o meu irmão naquela situação me causou um choque e nada teria me deixado mais desesperada que estar no poder daqueles dois crápulas, eles me agrediram fisicamente e verbalmente e agora, só Deus sabe o que será de mim na mão daqueles dois.
Fui arrastada brutalmente pelo homem loiro, enquanto Rubens vinha logo atrás proferindo xingamentos. O maldito me apertava com muita força e tapava a minha boca com a mão quase me deixando sem ar, parei de me debater e ele deu uma afrouxada, imediatamente trinquei meus dentes no dedo indicador do infeliz e apertei com toda as minhas forças. Ao me soltar de suas mãos, corri em busca de socorro. Gritei a plenos pulmões na tentativa de escapar do sequestro. Em poucos metros vislumbrei uma luminosidade se abrindo na passagem, pelo que parecia era a  saída do túnel, até que vi o Midas e o meu peito se encheu de esperanças.

- Hummm. Morena! – disse maliciosamente – você queria sair, não?

Naquele momento percebi que havia me engando não só naquele momento, mas com muita coisa que aconteceu comigo dentro do programa. Passos se aproximavam e só conseguir ver a expressão  covarde de Midas, antes de cair desacordada com uma forte pancada na nuca.

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⏰ Última atualização: May 10, 2020 ⏰

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