Some Things

Felicidade

•Um recado de uma manhã amarga; aproveitem.

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Ela não existe; não por muito tempo. Aquele gostinho bom, aquele amor tão intenso por qualquer coisa que te faça bem. Não existe, aquilo é apenas uma miragem.

Você pode se deliciar o quanto quiser com todo esse sentimento bom de agora, pode jurar para Deus e o mundo que o que sente é mais real que si mesmo, mas não é. O real é uma concepção vaga, porque tudo está sempre em constante mudança, logo o real dura pouco antes de ser modificado. Bom, ele dura pouco, mas ao menos dura. Ele existe porque em algum momento ele volta a tona e te acerta em cheio; te faz perceber que algumas coisas não são como você pensa que é, e que talvez tudo esteja errado.

A felicidade é formulada pela pessoa, é uma mentirinha agradável, ela não é algo que é mudado naturalmente. Todo o calor que você sente quando está feliz é porque você colocou na cabeça que aquilo é bom; por experiência própria é totalmente afirmável que faz bem, logo é bom, e logo aquilo é o que traz felicidade.

Você escolhe quais os atributos que vão lhe dar a felicidade, e é por esse motivo que ela é facilmente imaginável; se ela vai chegar fácil, é uma outra questão, mas ela é criada com mais facilidade do que conquistada.

"Vai acabar; tudo acaba, então não fique tão animado: sua felicidade vai acabar."

Ela não vai acabar; ela nem ao menos existiu, como pode acabar? O que vai acabar é a ilusão de que algum dia ela existiu. Isso existe: ilusão. Existe com tanto gosto que chega a ser mais mortal do que qualquer outra realidade.

Tristeza? A ilusão gargalha diante da tristeza, porque a tristeza surgiu dela. É apenas mais uma cria da ilusão, uma cria deprimida, deprimente e que deprime.

A ilusão é o vilão que, ao contrário da maioria, não é curioso de conhecer; a ilusão é odiada e evitada, porque ela é carregada de escárnio e sarcasmo, cuspindo suas ironias ou até mesmo mentiras, as mais belas mentiras.

E quando você achar que está feliz, hahaha, relaxe amigo. É apenas a ilusão sentada ao seu lado, lhe servindo mais um prato de enganações no final de uma noite fria, com dois copos borbulhantes de um líquido quente e doce, o tão lindo e competido apego. E quando toda a refeição te envenenar e a bebida te embebedar, o dia seguinte vai chegar como a maior ressaca de realidade que você vai ter. Vai te viciar, ansiando por mais um encontro com a Aclamadora do Desespero, mas vai demorar até que isso aconteça.

Eu tive apenas um encontro com ela, sabe? Um encontro de verdade, onde passamos muito tempo sentados em um jantar tão bem disfarçado, e após esse encontro eu pude perceber o quão traiçoeira ela é. Às vezes eu recebo ligações; outras são meros e-mails, com palavras chamativas que aquecem o coração por pouco tempo.

É muito difícil de fazer ela ficar por muito tempo, mas ela reside ali: em algumas palavras de um telegrama, ou em uma caixa-postal. A ilusão te enche de uma falsa felicidade ínfima, que te enche o coração, e quando você acha que é feliz, o encontro acaba tragicamente com um "adeus, convidado, hora de voltar para casa e desmaiar para despertar das palavras."