Uísque e Morfina

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Já era tarde... tarde para estar trabalhando. Tarde para estar sozinha com Namjoon na mesma sala. Desde que começamos essa tarefa de tentar determinar o conceito do palco para a nova turnê, eu passava dias e algumas noites na companhia do meu chefe. Sim. Namjoon fora designado para me acompanhar e passar todos os insights. Alguns dias nas últimas semanas estivemos juntos quase 12 horas por dia. Almoçávamos juntos e jantávamos juntos naquela sala de reunião. Não posso mentir e dizer que era de todo mal, pois não era. Claro que eu gostaria de passar essas 12 horas fazendo outras coisas na companhia dele, mas agora era trabalho. E como eu disse, ele era meu chefe. Essas coisas complicadas da vida. Ele não poderia ter sido, sei lá, um colega na universidade ou alguém que eu conheci em alguma festa?  E tem outra, se ele também queria estar fazendo coisas diferentes comigo, não aparentava.

Então, em uma noite quente de sexta-feira, em julho de 2019, estávamos nós dois, cada um em uma ponta de uma extensa mesa de madeira escura, em um sala de reuniões com paredes de vidro. Ele, com seus óculos, vestindo calça social preta e uma camisa de mangas compridas azul clara, na intenção de se misturar o máximo possível com os outros funcionários do escritório, como se fosse possível. Estava mergulhado em seus papéis e eu o observava. Ergueu a cabeça de repente e me pegou no flagra. Sustentou meu olhar. Perguntou:

-Está tudo bem?

Respondi, gaguejando:

- Es...está sim. Só...só... meio cansada.

- Vamos fazer uma pausa então. Também estou precisando.

Namjoon levantou-se e saiu da sala. Eu o acompanhei até sumir da minha vista. Comecei a bater minha cabeça na mesa. Como eu era tonta! Como pude dar bandeira desse jeito. Que vergonha! Ouvi seus passos voltando à sala. Trazia nas mãos uma garrafa e dois copos descartáveis. Colocou as coisas do seu lado da mesa. Supresa, vi que a garrafa escura era de vinho. Parecia caro. Devia ser um dos bons:

- Sang-Hee, pode vir aqui por favor.

E eu fui. Indicou a cadeira ao seu lado para que eu me sentasse e assimo fiz. Ele ainda estava de pé e do meu ângulo de vista, ele parecia ainda mais imponente. Me senti estremecer de repente. Abriu um sorriso sem dentes, mas que fez aparecer as covinhas. Aquelas covinhas. Suspirei, o mais disfarçadamente possível. Ele abriu a garrafa e encheu os copos:

- Vamos encerrar o trabalho por hoje. - Disse, com todo ar de líder que sempre exalava.

Chamou para um brinde. Eu hesitei, mas ele me incentivou, o olhar dizendo que estava tudo bem. E eu posso ser tonta, mas não sou boba. Dei um bom gole na bebida. E realmente... era dos deuses!

- Sang-Hee, escuta essa música antes de você ir... - Tirou o celular do bolso traseiro da calça e apertou o play - O que você acha?

O som era leve e envolvente:

- Vou recomendar pro Army hoje...  acha que vão gostar?

Embalada pela canção, respondi:

- Army gosta de tudo que você faz, sajangnim.

Ele pareceu envergonhado por um segundo, suas bochecas deram uma coradinha:

- Não... não é bem assim. Quem dera. Você prestou atenção na letra?

- Sim. Soa um pouco como nós neste momento, não acha? Bebendo aqui... "Any little thing to numb this hell."

É tão ruim assim trabalhar comigo? - Perguntou, sério. Eu não sabia onde enfiar a cara:

- Não, não é isso eu... eu... ai, gente...

Ele começou a rir do meu desespero e falou:

- Eu entendi. Só estou brincando com você. Mas é, mais ou menos isso mesmo. Só que infelizmente não tenho uísque... muito menos morfina. Então é com vinho mesmo.

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⏰ Última atualização: May 12, 2020 ⏰

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