Irremissível

Capítulo 1 - o súbito

Nós estávamos na floresta, fazendo a ronda normal, como sempre. Ao lado de Jacob, eu estava correndo no chão úmido, usando todos os meus sentidos na floresta, sendo livre através disso. Lógico, ele estava impaciente pra cacete do meu lado, e além de mim, ele estava incomodando toda matilha. Isso tinha nome, claro, e era Reneesme. Pelo menos seus pensamentos não eram tão impuros assim, quanto os do resto dos caras da matilha.

Haviam se passado cinco anos após todos os acontecimentos por conta dela. Todos aqueles vampiros nojentos da Europa. Gemi mentalmente. Esse não era meu pensamento, era de Leah. Há, eu estava sendo descuidado como sempre, deixando meus pensamentos fluírem durante a droga da ronda.

Sam tinha me ensinado controlar alguns dos meus pensamentos durante a transfiguração, algumas técnicas de evasão. Isso, eu precisava disso agora. Por favor, a voz clara de Embryl e Jared martelaram na minha cabeça. Babacas, respondi de volta. Resolvi testar se estava funcionando, e a imagem dos Cullens transpassou na minha cabeça. Nada de lamentações. Ótimo.

Engraçado, a imagem dos Cullens de fato nunca havia me enojado tanto quanto aos meus outros irmãos de matilha. Eles sempre soltavam resmungos ou rosnados quando o Jacob deixava escapar alguma coisa. Essa regra na verdade servia para vampiros em geral. Eu não tinha nojo ou repulsa, só quando eles atacavam, na verdade.

De repente eu me questionei se isso era devido ao respeito que eu sentia por Jacob, enquanto dávamos a volta no penhasco, já voltando para o centro de encontro da matilha. Talvez fosse por conta da convivência com os Cullen, Jacob e tudo isso. A forma como todos lidaram no momento de crise, e quando eu e Leah debandamos da matilha. Eu sempre seria grato por isso, muito mais do que ela. O acolhimento, sei lá. Eu nunca fui muito o tipo de cara que pensa sobre essas coisas mais sentimentais. De repente Jacob se sentiu desconfortável ao meu lado, e eu deixei-os entrar na minha cabeça novamente.

Jacob uivou do nada, e eu me forcei a focar na mata. Era um intruso. Ambos batemos as batas no chão com força atrás do cheiro. Definitivamente não um Cullen, mas... Jacob era mais rápido, e, lógico que chegou na frente. Ele parou instantaneamente. Vimos um vulto de cabelos pretos mal pisando no chão da floresta e logo estávamos cercados de Jared, Quill e Embry.

Estávamos prontos para atacar quando os cabelos pretos esvoaçados deram lugar à um rosto, que se virou assustado. Olhos escuros arregalados pelo susto me encararam e ai eu parei de respirar. De repente tudo estava em câmera lenta, eu via a garota, mas não estávamos na floresta. Estávamos em tantos outros lugares, tantas outras terras. Seus olhos, antes assustados, passaram a tomar outras formas, durante as visões. Um sentimento de proteção e amor reverberou o meu corpo, enquanto meus irmãos ficavam loucos. Senti meu coração acelerar, mas era apenas isso que eu sentia fisicamente. O chão tinha desaparecido, eu acho.

Ela continuava lá, como um anjo caído, parada no meio de quatro lobos assustadores, descontrolados. Seus olhos estavam fixos em mim, no entanto, e tudo que eu conseguia pensar no momento era nos flashes. Ouvi o uivo de Leah, ouvi os grunhidos e rosnados do bando, mas eu sabia que nenhum deles iriam ataca-la, embora eu tinha me aproximado ainda mais dela, instintivamente, por causa do seu cheiro. Que. Porra. Foi. Essa. Oh meu deus.

Outro vulto branco fez com que eu me assustasse, assim como meus irmãos, mas Carlisle passou para a frente da moça, e Edward veio logo atrás. A garota deixou seus olhos dos meus por um segundo, e aquilo me doeu de repente. Eu. Estava. Fudido. Seu maxilar de repente se mexeu bem de leve, parecia querer falar, mas Edward a repreendeu com o olhar, passando seu braço para entorno do dela.

Ele me ouviu rosnar baixinho por essa troca de confidência e de repente sua face se contorceu. Oh não. Ele sabia. Carlisle não tirou os olhos de Jacob, enquanto meus irmãos estavam se corroendo por dentro. Eu podia sentir o horror deles. De todos eles. Isso estava me matando. Mas a garota se mexeu novamente e prendeu minha atenção. Ela parecia muito impaciente, mas não era medo. Me obriguei a verificar seu corpo, será que ela tinha se ferido e buscava abrigo nos Cullen?

Meu olhar percorreu seu corpo, e embora suas roupas pretas estivessem surradas e rasgadas, ela me parecia bem. Muito mais que bem, na verdade. Seu corpo esquio era pequeno, Bem distribuído, e não devia ter menos que 20 anos quando foi transformada. Menos que isso até. Seus cabelos estavam soltos, e eram pretos ondulados, curtos na altura do ombro, caindo em cascatas ao redor do seu rosto esculpido. Sua pele também era perfeita, cor de amêndoa, mas bem, bem fria.  

De repente Sam chegou na clareira e atraiu meu olhar para longe dela por meio segundo. Os cabelos pretos e brilhantes da garota se voltaram para o grande lobo preto que era Sam, e eu bati a pata no chão, rosnando. Não chegue perto. Avisei. Ele entendeu imediatamente o que havia acontecido, e eu senti seu sentimento de nojo. Quem ele pensava que ele era? Rosnei mais alto, arreganhando os dentes da frente para o Alfa. Eu estava a ponto de brigar com todos eles, fisicamente, quando Carlisle falou.

— Jacob. — ele murmurou, calmo, passivo. — Me desculpe pelo inconveniente. Ela está comigo e com minha família, não se preocupe. Acho que se perdeu da rota que deveria seguir. — finalmente esclareceu. — Esta é Vashti.

Escutei seu nome e me arrepiei de repente. Extremamente exótico, igual a ela. Seus olhos enormes, emoldurados por cílios grossos e espessos se voltaram pra mim, seu rosto em uma pequena confusão. Oh meu deus. Eu parei de me colocar na defensiva imediatamente. Ela era linda, a pele uma porcelana perfeita. Uma vampira. A palavra atravessou a minha mente como uma cuspida raivosa. Não era eu quem estava pensando isso, de novo. Rosnei para quem quer que fosse.

— Ela vai passar uns tempos comigo, em minha casa. — Carlisle murmurou, sem entender o meu rosnado, tentando apaziguar tudo. — Ela deseja ser uma de nós. — ele revelou, e eu fiquei tão feliz de repente.

Edward notou, é claro, e se absteve em um pequeno sorriso discreto. Eu vi, e a garota também notou. Até Carlisle. Eu dei um centímetro de passada para a frente, não aguentando tê-la tão perto, sem toca-la, e Edward me olhou curioso. Não pude prestar atenção em mais nada, pois Vashti percebeu, e retrocedeu. Meu peito murchou por dentro. Oh não, não faça isso. Eu pensei que tinha grunido algum barulho, não podia ter certeza. 

Meus pensamentos foram inundados com xingamentos e injúrias e eu lutei para não me descontrolar e arrancar a cabeça de quem fosse. De repente notei Jacob dar um aviso para que os outros saíssem, e os mesmos os fizeram com alívio. Eu não consegui mexer as minhas patas, eu só queria sentir o cheiro dela mais uma vez.

— Tudo bem Carlisle, só não a deixe rondando pela floresta. — Edward traduziu Sam, com a voz um pouco conflitante. — Não iremos fazer nenhum mal a ela. — ele concluiu e me olhou. Eu agradeci mentalmente.

Jacob deu uma longa olhada na garota e então me olhou. Soltou um suspiro e saiu. Não queria ouvi-los, não queria nem fudendo. Ignorei suas vozes e e Edward se mexeu. Vashti não tinha ainda se mexido e eu também não. Toda a atmosfera estava tensa. Ela parecia tão nova, tão jovem. Seus dedos passaram devagar seu cabelo curto por detrás da orelha e eu pude ter uma visão melhor do seu rosto. Seu queixo pontudo era perfeitamente equilibrado por bochechas limpas e bonitas, a boca dela se entreabriu e eu queria mergulhar no seu hálito. 

Caralho. Seus olhos estavam me analisando, e eu gostei da atenção mais do que deveria, para o meu próprio bem. Carlisle pareceu prestar atenção que estava acontecendo alguma coisa, e não interrompeu. Seu corpo esquio se moveu devagar, ela também estava curiosa. Por um instante eu achei que ela fosse estender o braço e passar os dedos pelo meu pelo. Eu acho que entraria em combustão se ela fizesse isso. Por fim, acabou olhando para Carlisle e eu só queria que ela falasse. Eu queria escutar a voz dela.

— Está tudo bem Seth? — Edward chamou meu nome, devagar, ponderando.

Eu não sabia responder. Eu me peguei tão vidrado na garota que não sabia nem se estava respirando. Droga. Vampira. A palavra reverberou novamente e me fez ficar raivoso o suficiente pra rosnar e quebrar o contato visual com ela. Olhei devagar para cada um deles e demorei bastante nela, antes de saltar para fora do campo magnético que me puxava em direção à ela.