A mulher tinha a expressão vazia enquanto fitava as próprias mãos, o escritório do psicologo era pequeno e aconchegante, mas ela sentia como se não conseguisse respirar.
_ A verdade doutor é que desde sempre a gente vê em todas as historias que...
Erick estava debruçado sobre a privada, o vômito queimando sua garganta trazendo lágrimas em seus olhos. O ocorrido entre ele e Lara repassando em sua mente sem parar revirar seu estômago de um jeito surreal, ele tinha ido longe demais.
A decepção nos olhos dela, o tom de voz magoado, ela sem dúvida o odiava... Esse era o intuito de tudo , mas agora que estava feito seu peito parecia afundar.
O homem quase não se reconheceu quando foi até a pia lavando sua boca e rosto, suas feições demonstravam claramente o quanto estava machucado, a pele estava pálida com aspecto doentio e seus olhos pareciam fundos.
_ Você está uma merda. - Lucas entrou no banheiro pronto para ralhar com o amigo, mas quando o viu naquele estado miserável não pode deixar de se compadecer.
_ Como ela está? - foi a única coisa que ele conseguiu responder, até sua voz tinha um tom diferente.
_ Odiando até sua sombra, mas vai ficar bem. E você?
_ Você está vendo. - ele indicou a si mesmo com um sorriso forçado, um tom arroxeado assumindo seu nariz onde tinha tomando o soco. - Pelo menos ela não chorou na minha frente.
_ Ela teve um ataque de pânico. - Lucas falou incerto, Erick parou olhando para o próprio reflexo antes de pegar a bolsa e caminhar em direção a porta - Onde você vai?
O cômodo era espaçoso mais abafado , as lâmpadas amareladas pareciam criar uma atmosfera mais carregada e o único som era o dos punhos de Erick contra o saco de pancada.
As faixas em seus dedos já estavam ensanguentados, uma camada densa de suor cobria seu torso desnudo e repleto de hematomas da briga do dia anterior, a cada soco ele conseguia se escutar dizendo aquelas coisas horríveis. Erick nunca fora um homem sentimental, ela era conhecido pela personalidade analítica e comportamento explosivo, ele já tinha chantageado, agredido, manipulado e chegara perto de matar mais de uma vez e nunca tinha se sentindo culpado daquela maneira.
Talvez fosse porque Lara realmente não merecia nada daquilo ou porque ele estivesse fazendo totalmente o oposto do que ele realmente queria, mas a culpa parecia um peso enorme em sua mente do qual ele não conseguia fugir.
No seu celular mais de uma garota o tinha mandado mensagem, umas demonstrando interesse em "substituir" a posição vaga de Lara, outras o xingando, dezenas compartilhando o vídeo de seu momento de maior vergonha em vários ângulos diferentes.
Finalmente quando sentiu sua visão começar a ficar turva se permitiu cair no chão cimentado da academia, sua respiração descompassada e seu corpo quente e suado contra a superfície fria lhe causando um alivio momentâneo, ele pegou o celular relando as mensagens que tinha trocado com a mulher e seu estomago revirou de novo, só podia imaginar o que ela estava pensando.
Lucas tinha te enviado duas mensagens o perguntando onde estava, mas ele decidiu não responder. Não queria ver ninguém aquela noite, não queria receber nenhum consolo porque sabia que não merecia , se o mundo permitisse ele voltaria no tempo e... Não, seria mentira se ele dissesse que não queria tê-la conhecido, era egoismo porém quando estava com ela, ele não era o cara da gangue e nem o causador de problemas, ele era só o Erick Braham e mesmo que o tempo que eles tivessem compartilhado fosse curto o fez se sentir de um jeito indescritível.
_ Vamos comer alguma coisa, o que acha? - Renata sugeriu assim que eles saíram da sala , Lucas estava ao lado da garota estudando a expressão de Lara.
_ Não sei, amiga. Estou sem dinheiro.
_ Eu pago! Quero entender o que diabos aconteceu com aquele filhote de dementador e o porque de você estar amiga desse bonitão aqui - ela falou olhando de soslaio para Lucas que simplesmente arqueou as sobrancelhas. - Se quiser pode vir também, mas eu vou falar mal do seu amigo.
_ Obrigado, mas acho que ela precisa de toda sua atenção. - Lucas respondeu a fazendo corar levemente - Nos vemos amanhã.
_ Obrigada por tudo, Lucas. - Lara falou sorrindo para o amigo que acenou em concordância antes de se afastar.
_ Caramba, ele é bem gato não? - Renata comentou enquanto destravava a porta do carro. - Agora quer me contar que porra você andou aprontando nas minhas costas.
Renata era uma das pessoas mais leais que ela conhecia, era a irmã mais velha de dois garotos e como os pais eram divorciados e sua mãe tinha sumido do mapa ela tomava boa parte das responsabilidades. Seu pai era caminhoneiro e raramente estava em casa, nas vezes que estava Renata não comentava muito, mas o homem claramente tinha um problema com bebidas e não era rara a ocasião que a amiga não aparecia com algum hematoma das discussões árduas com o homem.
Lara agora a vendo sentada na mesa da lanchonete favorita das duas, lhe dizendo várias palavras de incentivo e sem nenhum momento fazê-la se sentir culpada por ter se envolvido com Erick sentiu um arrombo de gratidão em seu peito pela amiga.
_ Foi a atitude mais ridícula que eu já vi na minha vida e olha que eu faço coisas bem ridículas. Olha me desculpa pelo que eu vou falar, mas essa história está me parecendo bem errada. - a frase pegou Lara de surpresa, Renata estava agora mordendo um pedaço generoso de bacon sem notar a expressão da amiga - Porque se ele for tão filho da puta quanto parece, por que ele não tentou te comer até perceber que não tinha chance? Eu entenderia se você não tivesse mandado mensagem, mas ele sabia que você ainda estava interessada nele, por que não simplesmente terminar por mensagem? Todo esse trabalho para um beijo só? Muito estranho.
_ O que você está dizendo?
_ Que esse cara tem problema e seu anjo da guarda te deu outro livramento. Agora é borá para frente e arrumar aquela delicia de homem chamado Lucas.- o comentário a fez rir. - Você poderia pegar o Lucas , nada como justiça divina para colocar um imbecil no lugar.
_ Acho que vou dar um tempo em relacionamentos, claramente eu tenho um dedo podre.
_ Mas compensa com o ótimo dedo para amizades. Sabe que eu te amo, certo?
_ Eu te amo também.
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