Era março de 2017, as férias tinham terminado e infelizmente eu voltaria para o inferno do meu colégio. Sei que é comum que os adolescentes amem ir ao colégio, principalmente no ensino médio. Só que eu não gostava, para mim era uma tortura e a única coisa que gostava era de estudar e desenhar, mas fora disso, preferia simplesmente sumir daquele lugar. Sinceramente, eu não tinha a menor paciência para os dramas de adolescentes. Tá, sei que também sou, mas não gostava nada daquilo que via: brigas desnecessárias, disputas fúteis e romance. Ah, mas não pense que sou amargurada, é que todo romance das pessoas de minha idade parece ser sempre o paraíso no início e depois se torna o motivo para as brigas desnecessárias e disputas fúteis. Tenho nada contra romance, mas sim contra esses romances de adolescentes. O meu único problema com eles é de que o sentimento parece existir, apenas, no início e depois vai se transformando numa disputa de quem é o mais frio ou de quem tem mais ciúmes sem sentido e é por isso que fico longe de romances. Ah, e quem me dera alguém de minha idade que não caísse nesse estereótipo, aí sim eu gostaria de ter um romance, mas acredito que isso será impossível... bom, não ficarei pensando sobre isso pois tenho que me arrumar o quanto antes e chegar logo no meu querido colégio, ficar em meu canto desenhando tentando ignorar os dramas alheios, porém confesso que algumas vezes não os ignoro e acabo observando-os. Sim, eles são detestáveis, mas,algumas vezes, são engraçados. Acho engraçado como nós adolescentes somos cegos ou nos fazemos de cegos, acredito que isso explica uma coisa: o porquê da maioria ser muito emocionado. Finalmente cheguei ao colégio, andei o mais rápido que pude para chegar logo na sala. Para mim seria apenas mais um dia naquele lugar, com os mesmos dramas de adolescentes ao meu redor e que nada novo e interessante chegaria ali. Porém, quando eu estava a caminho da sala escuto alguém me chamando.
- Ei! - exclamava a garota.
De primeira pensei que não fosse comigo, pois quem é a pessoa desse colégio que cogitaria se comunicar comigo? Logo eu, a adolescente chata que não gostava de adolescente. Porém percebi, por um momento, de que aquela voz não era comum. Talvez ela estivesse realmente falando comigo, então virei meu rosto e respondi:
- Oi? - respondi com um pouco de receio.
- Ah,oi. - disse a garota um pouco ofegante ao correr até a mim. - Desculpa por te chamar assim, eu sou novata no colégio e não faço ideia de onde fica a sala do segundo ano. Você sabe onde fica?
Fiquei parada por uns dez segundos que pareciam ser 10 minutos. Meu coração simplesmente disparou, não sabia se era porque eu estava dialogando normalmente com alguém ou se talvez eu estivesse... sei lá, mas só sei que ela tinha lindos olhos castanhos que combinavam perfeitamente com seu cabelo e nossa, seu cabelo era lindo, preto, curto e cheirava tão bem... me senti estranha, pois tive uma sensação diferente e não era comum isso acontecer comigo. Será que estaria me tornando... não, não, eu não poderia me tornar a adolescente emocionada. A garota é linda, mas precisava segurar a barra.
- Sim, sim. Eu também sou do segundo ano, estava indo para lá agora. Vamos? - minha voz estava trêmula, me senti um pouco nervosa, porém um pouco empolgada. E que diabos eu disse "Vamos?", como se fosse alguma pessoa próxima dela? Parecia que realmente estou ficando fora de mim.
- Fiquei tão desesperada em não saber onde ficaria a sala que esqueci de me apresentar. - ela riu levemente e suas bochechas ficam avermelhadas. - Meu nome é Ashley e o seu?
- Meu nome é Carolyn. - respondi um pouco nervosa, pois quem desejaria puxar assunto comigo?
-Prazer em te conhecer, Carolyn. - disse Ashley dando um riso de canto.
Entro na sala, sento numa cadeira, respiro fundo e quando olho ao redor noto que Ashley sentou exatamente ao meu lado. Ela sorriu para mim e comecei a sentir meu coração acelerado, novamente, parecia que eu estava perdendo o controle sobre mim mesma. Fiquei sem reação e a única coisa que eu conseguia fazer era admirar a garota. Ela estava vestida com uma calça preta com alguns rasgos, uma blusa xadrez vermelha de manga longa com uma blusa, por dentro, da banda Queen e calçava um All Star. Era incrível como tudo combinava com ela: seus olhos, cabelos, jeito, cheiro e roupas. Era tudo muito harmônico e me agradava. Ela começou a acenar para mim mostrando que a professora já teria chegado na sala e finalmente eu desperto, dou um longo suspiro e presto atenção na aula. Porém, ao longo do tempo eu acabava me perdendo nos próprios pensamentos, comecei a ficar recordando o que tinha acabado de viver nos últimos minutos e foi assim que me dei conta de que eu estava enganada, este ano não seria mais como os outros, pois, para mim, pelo menos, tinha algo interessante ali ou será que estaria apenas me tornando uma adolescente emocionada?
A aula terminou, saí da sala e caminhei em direção da quadra. Eu precisava respirar, de um tempo para mim mesma e para espairecer. Peguei meu caderno e tentei desenhar, mas eu não conseguia de forma alguma. Parecia que eu estava com algum bloqueio e era raro disso acontecer. Será que estou assim por causa de uma garota aleatória? Tanto tempo nessa cidade e colégio e eu nunca tinha ficado assim. Tá, isso não é sinônimo de que eu não tenha ficado com outras garotas, mas dessa vez tem alguma coisa diferente. Estava me tornando no que eu mais criticava? Uma adolescente emocionada? Ou eu realmente estaria tendo um enorme encanto verídico por Ashley? Preciso limpar minha mente ou enlouquecerei por pensar demais.
Depois de duas horas deitada, olhando para o céu e ouvindo música, percebi que o Sol já estava se pondo. Levantei, peguei minhas coisas e saí do colégio. Já estava ficando tarde e eu não podia demorar tanto para voltar para casa assim sem alguma razão, pois dona Regina não gostaria de nada disso. Minha mãe é legal, super "de boa", mas isso não significa que por causa disso que tudo seria uma bagunça, onde eu chegaria na hora que quisesse sem comunicar nada a ela. Chego em casa, vi que dona Regina está na cozinha, tirei meus sapatos e quando olhei para ela vejo que estava me fitando.
- Você está diferente, como foi hoje no colégio? - disse dona Regina com os braços cruzados e, ainda, me fitando.
- Foi normal, o mesmo de sempre. Já sabe como é, né?- respondi evitando contato visual.
-Carolyn,eu te conheço. O que rolou hoje? Alguma garota... - antes que ela pudesse terminar de falar, eu a interrompi.
- Que garota, mãe? Teve nada de novo não, relaxa! Só estou cansada mesmo. - respondi um pouco tensa e segui diretamente para a escada.
- Ta certo, vou fingir que acredito. -disse rindo. - Pode ir fugindo do assunto por agora, depois desça para jantar.
Fui direto para o banheiro do meu quarto, liguei o chuveiro e entrei. Minha mente não parava de lembrar do rosto da Ashley e eu não conseguia colocar outra coisa em minha mente. Mas por quê tudo isso, por qual razão ela teria se infiltrado em minha mente dessa forma? Queria ser ou ter? Eu teria que fingir de que estava tudo bem até que realmente ficasse, não podia dar bandeira no jantar.
- Pensei que não sairia do banho, querida. - disse minha mãe tentando segurar o riso.
- Não pode tomar banho demorado? - sentei na cadeira tentando parecer normal.
-Muito demorado não, mas dizem que quem anda tomando banho demorado é porque está pensando muito sobre algo ou alguém. - disse colocando a janta na mesa e olhando bem em minha direção. - Então, você estava pensando em algo ou em alguém? - ela sentou e olhou novamente para mim arqueando sua sobrancelha.
- Nada demais, por quê está tão interessada em saber? Já não sabe que sua filha aqui jamais terá uma vida amorosa. - respondi virando o copo de suco.
- E quem aqui falou sobre vida amorosa? Você acabou de se entregar - soltou uma gargalhada. - Me conta, quem é a garota?
- Ash...Não tem nenhuma garota não, mãe. - MAS QUE MERDA FOI ESSA?! Eu quase me entreguei... espera, ainda nem sei o que é isso tudo que estou sentindo. - Posso jantar em paz?
- Claro que pode, meu amor. Mas eu sei que não estou enganada. - ela levantou, me deu um beijo em minha testa e acariciou levemente o meu cabelo. - Lave as louças quando terminar, vou para meu quarto. Boa noite, apaixonadinha. - disse rindo.
- Boa noite, mãe. E não tem nenhuma apaixonadinha aqui, tá? Te amo!
- Também te amo, apaixonadinha. - disse dona Regina subindo as escadas e caindo em gargalhadas. O pior é que eu não tinha argumentos contra ela, não sabia como reagir ao que sentia porque, para mim, isso era novo e não sabia dizer o que seria. Não sabia se era uma mera emoção de adolescente ou se era uma paixão a primeira vista... e será que isso realmente existe? Fui lavar minha louça, tentei não pensar sobre isso, mas o problema era que estava impossível! Antigamente eu só me preocupava em estudar, desenhar e fazer algumas coisas em casa, mas parecia que isso tinha mudado de forma extremamente rápida. Questionava-me: será que esse é meu castigo por criticar tanto meus colegas adolescentes? Estou me tornando numa adolescente emocionada?Sinceramente, não sabia dizer se queria que eu realmente estivesse me tornando, mas caso fosse emoção isso passaria rápido, mas meu outro lado desejava que não fosse emoção, como se meu corpo a desejasse para ontem e de forma não-passageira. Não sei... não sei mais de nada. Fui para minha cama, tentei dormir antes que perdesse o sono. E amanhã seria um novo dia. Amanhã eu veria Ashley, novamente.

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Inesperado Enlace
RomanceCarolyn é uma adolescente de 17 anos que, ao contrário da maioria de seus colegas, odeia colégio em pleno ensino médio, pois é nele que ela encontra o que mais detesta: dramas de adolescentes. Com isto, ela tenta ignorar seu redor apesar de que, alg...