Felicidade?

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Todas as pessoas que eu já conheci já se apaixonaram, algumas mais e outras menos, mas o peculiar é que essas pessoas amaram incondicionalmente todos aqueles com que já viveram o menor dos romances.
Eu não nasci para amar. Eu nunca amei ninguém. Eu estive anos da minha minha vida procurando por realmente alguém que fosse capaz de me interessar, até que eu tive que desistir. Já havia aceitado o fato de que jamais seria amado e que jamais amaria.
Aguardei a minha vida toda esperando alguém esbarrar em mim e deixar meus livros caírem, mas isso nunca aconteceu e eu deixei de ligar.

Eu gosto de andar pela rua sem rumo algum. Gosto de me perder e sumir do mapa das pessoas que dizem se importar comigo.
Conheço um garoto há muito tempo, o nome dele é Gabriel, que por mais que tenha alguns significados bíblicos, ele não vale de nada. Esse amigo meu, foi a pessoa que me introduziu para um mundo mais sombrio do que eu estava acostumado, com bebidas, algumas drogas e a tristeza de se estar vivo. Sim, ele não vale de nada, mas é tudo que eu tenho.

ー "Brû", fiquei sabendo de uma festa que vai ter há uns três quarteirões daqui, coisa padrão, bebidas, drogas e música boa ー Ele disse isso me dando um pequeno soco no braço direito; eu me lembro que estávamos em uma praia, com o sol se pondo e ficando um laranja fortíssimo ー Ah, não posso me esquecer, vai ter uma "pepekas" pra mim e pra tu ー E deixou a língua escapar de sua boca fazendo uma risada um tanto quanto estranha. Eu me senti enojado com o que ele disse. Gabriel é o tipo de pessoa que se importa pouco com os sentimentos das pessoas e não é acostumado a sofrer emocionalmente, menos ainda fisicamente; não porque ele era alto e forte, mas sim por ser esperto o suficiente para conseguir fugir de qualquer briga ou desentendimento.
ー Foi mal, eu não vou ー Eu o respondi baixo, levando uma garrafa de cerveja a boca e engolindo lentamente para degusta-la; Gabriel olhou para mim de um jeito estranho, como se não pudesse me reconhecer, e talvez não pudesse mais, nem eu conseguia me reconhecer mais ainda.
ー Bruce, Bruce, Bruce ー Ele se apoiou em mim ー Por que não, meu amigo? Você sempre aceita de primeira. Você não sempre diz que faz as coisas para tentar achar um amor ou só para sentir algo, a felicidade? ー E então ele me empurrou com força, mesmo que com apenas um braço. Eu cai de nuca na areia. Não, eu não iria revidar o empurrão ou dar um soco na boca dele, por mais que eu adoraria fazer isso ー Vai tomar no seu cu, seu merda, você está sempre procurando algum motivo pra viver e um sentido para sua vida desprezível ー Ele estava tentando se levantar ー Você nunca entendeu que, você não vale a pena, ninguém, jamais sentirá algo pela pessoa miserável que se tornou ー De pé, ele se agacha para gritar em meu rosto "você, é, um, merda". Ele cheirava a álcool, a coisa podre. Enfim, Gabriel saiu andando, ou mancando, pra talvez a festa.
Eu jamais reclamei das atitudes dele, nunca o julguei nem nada, mas ele já fez muito isso comigo, e eu sentia que devia um dia fazer a mesma coisa que ele, ou talvez dar a ele a maior surra de sua vida, mas também apenas ir embora. Eu me rendi; pouco tempo depois eu estava no banheiro, me arrumando (um adendo a mim mesmo, que se arrumar é se cuidar, não apenas trocar uma blusa cheia de areia por uma listrada) e peguei meu telefone.
ー Alô? ー Dizia Gabriel com uma voz arranhada e um som ensurdecedor no fundo.
ー Oi, me passa a merda do endereço, "Dih".
ー Se decide, porra. Sinceramente você é complicado. É na sua rua, só que lá para a casa de número 53 ー Eu morava na de número 587.
O telefone desliga e eu vou até a geladeira e pego uma garrafa de cerveja cheia que ainda estava quente e começo a andar para a direita de minha casa, aonde os número retrocediam e chegando cada vez mais perto eu podia ouvir uma música quase irreconhecível pelo som alto.

A garota que odiava rosa.Onde histórias criam vida. Descubra agora