Puta merda. O que deu na Gabriela?
Sinceramente, acho que a função dela é foder a minha vida. Sempre foi assim.
Logo que a gente se conheceu, numa festa, eu sabia que isso acabaria acontecendo — o primeiro sinal? Eu não quis sair correndo da casa dela depois que transamos, só ficar ali e curtir alguém incrível. Eu queria encontrá-la todos os dias. Não cansava dela, não. Quando dei por mim, já não pensava em outras pessoas.
Tudo começou a de fato dar errado quando começamos a namorar e, pela primeira vez na vida, decidi apresentar alguém com quem eu saía aos meus pais. Ainda morava com eles, na época, e chegar com uma garota e chamá-la de namorada na frente do Senhor e Senhora Família Tradicional Hétero Brasileira não foi nada fácil. Tive que ouvir muitos "não aceito filha lésbica dentro de casa, filha minha tem que ser mulher" — mesmo que eu explicasse que continuava sendo mulher e não era lésbica, sempre fui bi, meus pais nunca ouviram — e "nem pensa em entrar com essa garota aqui outra vez" até aceitar que a situação estava insustentável. Se eu quisesse apostar em ser feliz com a Gabi e comigo mesma, meus pais não estavam na jogada.
O que eu fiz? Arrumei as malas e liguei para a Gabi. "Pode me levar para a sua casa?"
Ela concordou e me buscou de táxi, eu não tinha forças para sair sozinha.
Eu fui para o apê dela e do Carlos. Fui sem me despedir e sem olhar para trás, só deixando alguns lençóis na gaveta e um bilhete de desculpas. Eu sabia quem eu era e o que eu queria, era adulta e suportaria as consequências de me afastar da família — mesmo que essa "família" não tivesse nenhum pudor em dizer toda a sua insatisfação e nojo por quem eu era e por quem eu amava.
"Pode me levar para a sua casa?". Desta vez, era ela quem perguntava. E fui eu quem pediu um táxi para nós duas, deixando ela recostar no meu ombro e tentando fugir de qualquer pensamento. Pois, vinte anos depois, eu até me sentia mais madura, só não tinha ideia do que eu queria.
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Depois
RomanceNina e Gabriela estão divorciadas há dois anos e lidam (quase) bem com isso. Contudo, um encontro marcado no Tinder pode ser o grande responsável por despertar sentimentos há muito escondidos. História escrita em coautoria por Madá Guido e Luiza Amo...