Capítulo Único

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Aqui jaz tudo aquilo que não cabe em um saco de papel furado.

Ainda tenho dezessete anos. Essa é a única coisa que me mantém em órbita, caso contrário, já estaria flutuando sem rumo pelo espaço feito o brilho de uma estrela que já explodiu.

Oito meses, é tudo que eu tenho para decidir, traçar e fazer acontecer tudo aquilo que vou fazer com a minha vida, é muito pouco tempo. Eu nem sequer sei em que ponto eu gosto do meu bife, quem dirá o que vou fazer com minha vida!

Quando eu era criança, sonhava em fazer dezoito anos "vou morar em outro país, me tornar uma escritora famosa, fazer a faculdade dos sonhos e conhecer o amor da minha vida". Conforme fui amadurecendo tive os meus altos e baixos em relação a minha eu criança; no início ria da cara dela, depois a via como uma sonhadora idiota, a achava maluca, esperançosa demais, pressionante demais, sufocante, intimidadora, motivo da minha ansiedade e por fim; uma garotinha pura e inocente. Que bom, que bom que ela não está aqui para ver o que é o futuro de verdade, tenho tanto medo de decepciona-la. Tenho tanto medo de decepcionar a mim.

Eu sei que quando eu acordar no dia 20 de janeiro de 2021 vou ser a mesma, a mesma Alessandra de dez anos, com a mente mais evoluída, com ideias mais centradas, mas ainda assim a mesma. Meus pais não vão me expulsar de casa nem me cobrar alguma coisa, meus amigos não vão me esnobar e o mundo não vai parar de girar; mas aqui, bem aqui dentro, tudo vai ser diferente.

Responsabilidades. Não surgem do dia pra noite, vamos adquirindo ao longo dos anos, mas só de imaginar as responsabilidades que eu vou ser obrigada a assumir, faz com que tudo que eu tenha achado "sério e maduro" durante todo esse tempo, não passe de preliminares. É isso, no final das contas, tudo que eu tenho vivido nesses últimos anos tem sido apenas preliminares...

Como vou sobreviver a esse mundo de 12.742 km se eu não sei sequer a diferença do débito para o crédito?

Eu tenho medo de óleo quente, luz apagada, janela aberta, andar de bicicleta na ciclovia, falar em público, homens desconhecidos, lagartas, borboletas, bad hair day, rejeição, me perder, sentir dor de barriga na rua, gostar de jornalismo, morrer virgem, desistir de mim mesma e chegar aos trinta anos me arrependendo de ter assistido A Saga Crepúsculo tantas vezes que mal consigo me lembrar. Eu tenho medo de tantas coisas, tantas coisas que não somem com um beijo no joelho da minha mãe.

E eu sei que sentir medo não faz de mim covarde, o que torna uma pessoa covarde é deixar o medo falar mais alto que a vontade; acontece, que eu também tenho medo de não ser corajosa o suficiente.

Queria terminar esse texto com alguma frase inspiradora e motivacional que ajudou a mim e ajudará quem estiver passando pela crise dos dezoito também. Mas acontece que eu ainda estou no meio do surto então nada que eu vá dizer poderá ajudar alguém. Sinto muito se você se você veio aqui atrás de respostas, eu também procurei no Google e no YouTube mas tudo que eu achei foi "respire" e "mantenha a calma", como se eu não soubesse respirar, não é?

Acho que a questão da transição de um adolescente para a vida adulta é uma daquelas perguntas que não possuem respostas. Talvez o jeito seja só embarcar nesse mar e ver em que ilha vamos parar.

No entanto, estou aberta a sugestões de passar por essa fase sem perder noites de sono podendo sonhar com Robert Pattinson pra ficar olhando pro teto sentindo o fracasso antecipado. Por favor, se você tiver a resposta para essa questão me diga antes que o meu Rob fictício me peça o divórcio por culpa da minha ausência.

Com todo o amor e preocupação do mundo, Ali.

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Nota: 13/05/2020

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