Como não treinar

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 1013 ANOS DEPOIS


 - Ei Aiyra, acorda, acorda - Disse uma garoto baixinho.
 - Me deixa Régulos.
 - A mãe ta vindo - Disse caminhando em volta de uma garota deitada em um pano colorido estendido no chão. - Você sabe que ela vai implicar.
 - Ela vai implicar comigo de qualquer jeito. - Disse a garota bufando.
 - Não é tanto assim. - Disse o garoto franzindo a testa. - Ela só quer que você se esforce mais
 - Exatamente, querido. - Falou uma bela mulher adentrando no recinto. - Mas meus esforços não são reconhecidos.
 - Aiyra estamos atrasadas. - fala uma garota de estatura baixa adentrando correndo na pequena sala.
 - Atrasadas para que, senhoritas? - Ao terminar de falar a expressão da mais velha congela. Assim como tudo que estava na sala, exceto as duas garotas.
 - Parabéns, tragam um gênio para este mito, a miserável é um Oscar. - Esbravejou de modo irônico a garota mais velha que estava deitada.
 - O que? - A garota mais nova falou com o semblante confuso. - Ah! Idiota! - Disse ela revirando os belos olhos verdes. - E avisa antes de parar o tempo!
 - O que dizemos para ela, Antares? - Disse Aiyra ainda deitada.
 - Talvez - A expressão confusa de Antares se transformou na expressão de quem teve uma idéia genial. - Que a gente irá treinar sozinhas para sermos liberadas antes para estudar as estrelas. - Falou sem notar que o tempo já voltara ao normal.
 - Tudo bem então meus amores, podem ir. - Disse a mãe parecendo satisfeita com a desculpa. - Agora você mocinho - Falou para o garoto que parecia extremamente confuso - vamos reler o último capitulo do livro de botânica, e dessa vez, você irá ditar o capítulo de ervas medicinais para mim.
 - Ah mãe, mas eu odeio botânica. - Falou o garoto de forma preguiçosa.
 - Nada disso! Agora vamos estudar - Falou a mulher após as meninas saírem da sala.


********


    Após saírem da pequena sala de estudos que alguns usavam para dormir, caminham silenciosamente por um largo corredor de madeira de carvalho envelhecido, tudo se encaixava perfeitamente como se as árvores tivessem nascido ali propositalmente. Logo chegando a uma imensa cozinha com o piso de pedra lisa com moveis de madeira polida. Caminham lentamente a uma porta que dava acesso a saída.
    Quando o imenso jardim entrou no campo de visão das duas garotas, uma de enxurrada de lembranças inundou a mente das mesmas, sobre aquele que cuidava daquelas tão belas flores, atualmente tão esquecidas. Caminhando por uma pequena parte deserta do jardim, onde podiam deslumbrar o céu pontilhado de belas estrelas as quais tinham tantas curiosidades a serem desvendadas.
    Mas não seria nesta região tão florida e bela que elas iriam treinar, seria em um lugar mais ao fundo. Onde os olhos curiosos da mãe não poderia alcançá-las.
    Esse treinamento não o que estavam acostumadas, era tão perigoso mentalmente quanto fisicamente, que poderia deixá-las vagando eternamente por uma vida lenta em que as memórias não são registradas, apenas a dor sentida em ver seus entes queridos definharem enquanto seu corpo continua intacto mas sem poder se mexer.
    O treinamento era simples, basicamente deviam apenas fechar seus olhos e se concentrar no poder que crescia dentro delas, não aquele que a mãe conhecia, mas sim aquele que lhes dava a capacidade de parar o tempo. A mais velha, tinha como objetivo concentrar de uma maneira que seu toque paralisasse o corpo de um alvo específico, mas para isso antes ela deveria tentar concentrar a liberação do poder em apenas um ponto do corpo, de preferência nas mãos. Já o objetivo da mais nova era voltar o tempo para alguma coisa, mas não estava dando certo já que todas as plantas do local ou estavam mortas ou simplesmente degeneraram. E provavelmente teriam muitos objetivos para o futuro. Mas isso ainda não era possível, não ali, presas aquele lugar que sempre viveram com a mãe sempre a espreita, que com certeza não as deixaria treinar esse poder tão misterioso que já levou um dos seus filhos, as meninas tinham a estranha sensação que a mãe já desconfiava de algo. Mas não iriam comentar em voz alta.
    Antunes não confiava em ninguém alem de si mesma, isso era um reflexo de seu passado amargurado, repleto de traições de pessoas importantes, as que mais a machucaram foram a do pai e a do seu tão querido irmão, mas era graciosa disfarçando todas as suas magoas. Demonstrava que "confiava" em Antares, cobrava muito de Aiyra por ser sua primogênita, mas sempre com um sorriso no rosto refletindo seu orgulho, Régulos era o que mais ''sofria'', nem sempre a mãe conseguia disfarçar o descontentamento sobre ele não ter uma marca rara ou comum. Mas ainda era uma excelente mãe, sempre esteve lá quando precisaram, não era calma, mas também não chegava a ser impaciente, é super protetora e já fez e vai continuar fazendo de tudo para proteger a família.
    As meninas trocaram um olhar depois de observarem o local, tiveram muita sorte por quase nunca as pessoas virem ali, como iriam explicar o fato de estar destruído. O treinamento funcionava da seguinte forma: enquanto uma treinava a outra observava caso algo desse errado e ficava atenta para que os outros não se aproximassem, nesse dia Antares foi a primeira a concentrar o poder.
 - Ei, tome cuidado e quando começar a sentir algo ruim pare. - Falou de modo sério, o que não era comum a Aiyra.
 - Certo... - Falou Antares em dúvida. - Hum... Você não quer começar? Eu sou péssima de primeira. Você sabe que meu treinamento com a mãe sempre me deixa letárgica, e compromete o meu desempenho durante um tempo.
 - Mas das outras vezes eu sempre fui primeira, agora pode ser a sua vez. - Disse Aiyra de maneira cansada.
    Antares apenas assente com a cabeça antes de se preparar para se concentrar, enquanto Aiyra ficava atenta caso alguém aparecesse. Após alguns minutos de concentração as sobrancelhas de Antares se franziram e uma gota de vermelha com pequenas partículas negras escorreu de seu nariz, enquanto a garota soltava pequenos sons de dor.
    Aiyra que estava concentrada em manter os outros longe logo percebeu que algo estava errado, se levantou e começou a socorrer a irmã. Porém algo passou despercebido na hora, mas não era tão importante quanto cuidar da garota deitada no chão. Aiyra, após ver se não havia nenhum ferimento interno mais grave usou sua habilidade para cortar o fluxo de poder de tempo da irmã e trazê-la de volta a realidade. Isso quase nunca ocorria, mas quando ocorria era ao contrário. Geralmente era a irmã mais velha que divagava, e a mais nova que socorria.
   Aos poucos Antares volta ao normal, e Aiyra solta um suspiro de alivio.
 - O que vocês estavam fazendo? - Falou um garoto pequeno, e ao mesmo tempo que a frase era dita as meninas se assustaram. 
   E com outra troca de olhares, as meninas tiveram o mesmo pensamento: '' fodeu, e agora?''.

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⏰ Última atualização: May 14, 2020 ⏰

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