Quando tudo o que amava se perdeu.

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Quem diria?

Quem diria, que um dia, eu estaria aqui? De cabeça erguida, com meu príncipe encantado? Com toda minha família feliz e perto de mim...

Provavelmente ninguém. Porque não estou! Embora eu sempre tenha sonhado com isto.

Mas...

Seria isto possível? Não! É claro que não seria. E não é!

Nada do que se passa dentro da minha cabeça é real. Muito menos no mundo lá fora. Onde sou julgada por ser quem sou. Ninguém se pergunta o porquê de eu não olhar ninguém nos olhos. Ninguém se preocupa com o medo interior com que lido diariamente.

Felicidade não existe no meu dicionário desde que os meus pais morreram.

Eu tinha 10 anos. Estava no quarto quando ouvi gritos dos meus pais vindos da sala. Desci para ver o que se passava e desde então não consigo me esquecer daquela imagem.

Eu vi os meus pais mortos no chão, e um bandido mascarado. A única parte do corpo do assassino que eu vi, foram os olhos. 

Ainda me lembro como se fosse ontem. Aqueles olhos foram os mais frios que alguma vez eu vi. E foram também os últimos.

Eu não morri mas preferia que tivesse acontecido.

Hoje em dia, tenho medo de olhar alguém nos olhos. Tenho medo de reconhecer os olhos que vi naquele dia. Tenho medo de enfrentar a realidade e seguir em frente. 

O meu único confidente é um bloco de folhas. Onde escrevo as sensações que vivo no dia a dia. Desenho as imagens que me atormentam desde pequena. E anoto quantas vezes eu apenas me sento agarrada a ele, para que não surte com as pessoas que me rodeiam. Esse bloco é onde eu me aconchego quando não posso me aconchegar em alguém que realmente me ame, como os meus pais me teriam amado.

Vivo com a terrível vontade de gritar chorar e espernear, mas sei que não compreenderiam. O mundo não compreenderia o fato de eu não saber do que se trata a vida. De eu não saber em que direção seguir. 

Por vezes quando me sinto perdida, apenas me tranco no quarto ou na casa de banho e choro abraçada ao peluche que guardo desde a morte dos meus pais. São os únicos momentos em que me encontro.  Os únicos momentos em que sinto compaixão por alguém. Porque até hoje não sei o que é amar.

Esqueci-me do que é amar no dia em que tudo o que amava se perdeu.


- Angélica Veloso.


( A Rapariga na midia é a Angélica Veloso )

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